Dakota

Capítulo III

Terça-feira. É um ótimo dia para usar minha camisa EU AMO AS TERÇAS. Lily faltou hoje por motivos que desconheço, ou seja terei que cobrir suas mesas. Vamos pensar positivo, pode ser uma ótima chance de ganhar um bônus e talvez calos nas mãos.

Tento prender meu cabelo num coque perfeito, mas é quase impossível já que a maioria dos fios caem sobre o meu rosto. Bufo. O que está acontecendo comigo? Me olho no espelho e reparo o quão arrumada estava para alguém que não sabia nem seu nome. Visto meu avental e saio tentando ocupar minha mente com pedidos.

Há cada barulho de porta se abrindo, uma esperança. Depois da décima quinta vez que a porta se abre, - eu estava mesmo contando? - surge a garota pela qual eu espero a semana toda para ver. Ela se senta na mesa 9 com seu skate e apanha o cardápio embora não vá mudar seu pedido.

- Moça. - ela olha para mim e acena. Aponto para meu peito como se perguntasse, é comigo? E ela faz que sim com a cabeça. Claro que é, eu sou a garçonete. Respiro fundo e caminho até sua mesa com um bloco de notas em mãos, que por sinal estavam tremendo.

- Expresso com chantilly?

- Isso. Como sabia?

- Bom, você sempre pede.

- É, verdade. - ela morde o lábio. - Acho que está na hora de mudar, não gosto de coisas monótonas. Me vê um chocolate quente no capricho e um pãozinho doce.

- Certo. Um minuto. - anoto e dou-lhe as costas.

- Ei, espera. - ela diz, fazendo com que eu a encare. - Devem passar cerca de umas mil pessoas por semana aqui. Como conseguiu memorizar? - ela me fita. Seus olhos eram como os de capitu. Olhos de cigana, oblíqua e dissimulada. Um olhar de alguém que não olha diretamente nos olhos, um tanto indescritíveis para quem os vê. É como se você olhasse para ela e nunca conseguisse distinguir suas emoções ou sentimentos através deles. Eu podia me perder neles sem nem perceber. Eram como duas almôndegas, duas grandes e belas almôndegas. - Moça?

- Ah... Eu... é... Não sei. - gaguejei. - Só sou uma boa observadora. Com licença.

Merda. Eu podia sentir minhas bochechas queimarem. Deviam estar mais vermelhas que pimentões. Enquanto anotava outros pedidos podia sentir seus olhares, o que me deixava mais nervosa. Ouço o plim e sei que seu chocolate e seu pãozinho me esperavam no balcão prontos para serem levados. Ajeito o cabelo e coloco a bebida em minha bandeja.

- Prontinho.

- Obrigada. - apanhou a xícara e deu um gole. - Como nunca reparei em você?

- Ahn. Geralmente não sou eu que te atendo, só estou cobrindo uma garçonete que faltou hoje e eu diria que livros são a distração perfeita da realidade.

- Agradeça á essa garçonete por mim e certamente são mesmo. - seus lábios se curvam em um sorriso. - Como você se chama?

- Dakota. - coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- Dakota. - ela pronuncia devagar. Meu nome em sua boca soava tão sexy quanto seu sorriso. - É um belo nome para uma bela garota. - ela disse, me fazendo corar pela milésima vez. Desviei os olhos. - Não olhe para baixo, gosto de observar seu rosto.

Ela estaria flertando comigo?

- Você deseja mais alguma coisa? - Foi o que consegui dizer. Ela balançou a cabeça negativamente e deu outro gole em sua bebida me fitando.

Dei as costas e andei apressadamente para longe dali onde finalmente soltei a respiração que nem sabia que segurava. Ela encarava a tela de seu celular tão absorta comendo seu pãozinho que me fazia querer saber o que tanto olhava. Às vezes tirava o pão do canto da boca com a língua, às vezes com o mindinho e o chupava em seguida. O que será que ela quis dizer com "agradeça á essa garçonete"? Será que ela gostou de mim? Será que ela está me zoando? Ou será que é tudo coisa da minha cabeça? Obviamente devia ser a última opção, uma garota daquela, flertando comigo? Soltei um riso com aquele pensamento. Claro que não. A voz de uma das garçonetes me traz a realidade.