CAPÍTULO 01

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   Com o fim do ano letivo, todas as turmas do ensino médio se organizam para fazer uma excursão em algum lugar do país para comemorar o término das aulas e o início das férias de verão, desde que alguns professores e supervisores se prontifiquem para ir junto e haja autorização dos pais.

     Esse ano esperávamos uma viagem para Las Vegas, mas como a escola estava em reforma após uma temporada catastrófica de tornados destruir praticamente metade do telhado, eles precisaram economizar e nossas opções para a excursão diminuíram para algo em um raio de 300 quilômetros da nossa pequena cidadezinha, assim poderíamos ir de ônibus mesmo.

      Após dias e dias de organização, decidimos passar duas semanas acampando à beira do Flathead lake, o lago mais cristalino de todos os Estados unidos e a maior reserva de água doce de todo o país. É um pouco surpreendentemente como algo tão perto de nós seja tão esquecido por nós mesmos. Parece que durante a maioria do ano, a água é fria demais para banho, mas como o verão já começou e uma onda extra de calor banha o hemisfério norte durante os próximos meses, será uma oportunidade perfeita.

     O ônibus faz uma curva brusca em uma estrada praticamente deserta, me jogando contra a janela de vidro com tanta força que preciso me segurar para não soltar um grunhido de dor. Já faz umas 4 horas que estamos presos dentro desse maldito ônibus. Paramos apenas uma vez em um posto de gasolina, depois que a galera lá do Fundão implorou e disse que estavam quase mijando nas calças (desconfio que o real motivo foi para comprar bebidas e cigarros na lojinha do posto e escondê-los nas mochilas).

     A gritaria lá atrás me faz olhar por cima do banco e encarar os garotos do time de futebol, que estão rindo e falando alto como se fossem os donos do lugar. A maioria está com uma das líderes de torcida no colo, me fazendo revirar os olhos e voltar a sentar direito no meu lugar.

     Nossa turma tem 40 alunos. Nenhum deles que eu poderia verdadeiramente considerar um "amigo". Até certo ponto, acho que gosto de ficar sozinho, só eu e meus pensamentos, mas ter alguém com quem falar as vezes pode ser legal. E ser o garoto esquisitão da sala não ajuda em nada.

      Minha aparência não é algo do que me orgulhe muito, mas também não me considero feio. Minha mãe sempre me diz que eu só sou meio desleixado comigo mesmo. Meus olhos azuis são até interessantes quando analisados separadamente do "todo", mas eles ficam meio apagados no mar de sardas que são as minhas bochechas e a ponte do nariz, além dos cachos escuros que não são aparados faz uns três meses e insistem em cair sobre minha testa.

      Olho para a garota loira sentada ao meu lado, que está digitando rapidamente no celular como se sua vida dependesse disso e não lança sequer um olhar em minha direção. A gritaria lá no fundo, as conversas altas e risadas estridentes me deixam um pouco incomodando, eu poderia pegar meus fones de ouvido, colocar minha playlist no máximo e tentar ignorar tudo isso, mas como vamos passar duas semanas acampando, não quero que meu celular fique sem carga já no começo.

      Movo meu olhar para fora, em direção às colinas verdes que se estendem por todo o horizonte. O sol me faz precisar apertar um pouco os olhos por conta da luminosidade excessiva (ter olhos claros não ajuda muito), mas a vista é tão deslumbrante que vale a pena continuar observando, mesmo que eu sinta meus olhos ficarem úmidos devido a luminosidade excessiva.

     Ajeito minha mochila sobre minhas pernas tentando achar uma posição mais confortável, já que ela está super pesada devido aos livros e a imensidão de coisas que coloquei dentro dela pro caso de alguma emergência. A mala com a barraca e cobertores estão no bagageiro, só não quis colocar essa lá também porque poderia amassar meus livros ou danificar outras coisas.

O BEIJO DO TRITÃO [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora