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— Idiota!! — Rosno, jogando água na cara dele e fazendo-o me soltar assim que caio de bunda dentro do lago quente novamente. Tiro os meus cachos escuros do rosto e seguro uma risada que ameaça escapar do fundo da minha garganta, apesar da situação.
Wyatt abre um pequeno sorriso, mas as pequenas rugas nos cantos dos seus olhos e as sobrancelhas loiras franzidas indicam que ele está um pouquinho tenso enquanto me encara, como se estivesse meio receoso e com medo de eu surtar novamente.
Meu olhar recai sobre a sou rabo alaranjado. A estrutura é mais ou menos semelhante a minha, mas as barbatanas ao lado da sua cintura são um pouco mais pequenas que as minhas, além de não serem translúcidas e mais se parecerem com as de um peixe mesmo. A barbatana grade da ponta não tem aquela pequena depressão no meio que faz a minha ficar parecendo um coração e é um pouco mais arredondada. A mistura de vermelho/amarelo/laranjado e o formato o deixam bastante parecido com um lebiste.
— É lindo. — Gaguejo meio sem jeito, tocando a barbatana grande com a ponta dos dedos. Ela é bem menos espalhafatosa e maleável que as minhas.
— Você que é. — Ele vem na minha direção e senta ao meu lado, de modo com que nossos ombros rocem um no outro. A pele dourada dele deixa a minha absurdamente mais pálida ainda, e o contato faz um arrepio subir pela minha espinha.
Nós olhamos para a frente e observamos em silêncio aquelas coisas que tomaram o lugar das nossas pernas. O cumprimento do rabo é exatamente o mesmo, mas a minha barbatana é maior e mais larga. A dele é um mosaico de cores absolutamente lindo, enquanto a minha é apenas de um tom profundo de azul, com nuances de verde de acordo com a luz.
— Como isso aconteceu? — Estendo a mão e toco a parte superior dele, onde as escamas alaranjadas se fundem a pele na sua pélvis, textura é estranha, mas não exatamente pegajosa como a de um peixe. Retiro a mão de lá na velocidade da luz quando percebo que é exatamente naquela região que seu pau estaria caso fôssemos humanos.
— Eu sou um tritão. — Ele constata o óbvio, encarando-me com aqueles olhos cor de mel e levantando uma das sobrancelhas loiras.
— Sim... Mas como isso aconteceu... comigo? Você me passou alguma coisa ou sei lá? — as coisas estranhas nos meus antebraços começam a coçar, como se a pele estivesse irritada, mas assim que eu envio os braços dentro do lago, a irritação some num passe de mágica.
— Bom... Isso não deveria ter acontecido. — Wyatt encolhe os ombros, mas uma coisa no seu pescoço chama a minha atenção. Ergo os braços e seguro os seus ombros, antes de me inclinar sobre ele e analisar mais de perto.
Isso são... Guelras?
Completamente espantado, toco o meu próprio pescoço e percebo que eu também tenho. São três pequenos riscos de cada lado, quase imperceptíveis.
— Acho que foi o beijo. Como disse, isso não deveria ter acontecido. — Ele explica, agarrando a minha mão e entrelaçando nossos dedos para tentar me acalmar. Deve está estampado na minha cara que estou a beira de um colapso nervoso.
— Você sai beijando os outros assim do nada sempre?! — Exclamo, mais atordoado do que zangado. O beijo foi bom, mas isso gerou uma bola de neve imensa.
Ele é um tritão!! ISSO NÃO DEVERIA SER REAL!! Como eu vou viver daqui pra frente?? Como vou ter minhas pernas?? Cada pessoa que eu beijar também irá ter um rabo de peixe??
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O BEIJO DO TRITÃO [COMPLETO]
FantasyPara Luther, aqueles 13 dias deveriam ser apenas uma excursão escolar para comemorar o fim das aulas. Ele nem sequer estava animado para isso, mas precisava admitir que o lago para onde iria era um dos mais belos pontos turísticos da região, apesar...