4. Um Jeon sempre se vinga

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Jungkook


Odeio chuva.

Nunca pensei que, um dia, eu odiaria tanto um clima como este. Todo dia há uma tempestade derramando das nuvens cinzentas, seguida por trovões e ventanias gélidas que sempre me obrigam a andar com uma jaqueta impermeável, senão meu uniforme estaria destruído ou até manchado de tanta umidade. É irritante, às vezes, mas há uma boa parte em que consigo tolerar a chuva.

Porque ela me lembra alguém.

— Yerin, devolva isso! — Ouço Taehyung esbravejar repentinamente e tiro o cigarro da boca, abrindo os olhos para vê-lo com uma carranca encarando Yerin que está segurando seu isqueiro.

Ela solta uma risada baixa, inclinando a cabeça para fazer seu cabelo loiro cair de forma casual pelos ombros e os olhos esverdeados brilham com malícia. Seus dedos finos balançam o isqueiro em frente à Taehyung, uma provocação que se assemelha à uma criança, e escuto Yoongi, sentado ao meu lado, rir.

— Você tem o quê, Yerin? Cinco ou quatro anos? — ele a provoca, ácido.

Esboço um sorriso pequeno.

— Eu quero um cigarro — Yerin rebate, fechando o rosto. Suas sobrancelhas se juntam em uma carranca. — Ele pegou os meus ontem e não me devolveu.

— Uma troca justa — Jin, sentado logo atrás de Yerin, aponta.

Ele ergue o rosto, fechando os olhos em direção ao céu, embora exista um teto na praça onde estamos. É a mesma praça de ontem quando conversei com Hwang Rainy, a garota da chuva.

Rainy.

Seu rosto volta à minha mente, bruxuleando através de minhas pálpebras quando fecho os olhos só para vê-la melhor. Não sei porque estou interessado nela, nem na forma como ela mexe as mãos quando está nervosa ou como sempre está com um rubor adorável nas bochechas. É estranho, para ser sincero. Quando eu a vi na loja de conveniência, só tive pena. E depois de vê-la espiar meus assuntos, tive raiva, mas... Ela era diferente.

Rainy não era como essas garotas do colégio, como Yerin. Ela era pobre, originada de uma família com o sobrenome sujo, era tímida e sempre estava nas espreitas como se desejasse não ser notada. No entanto, eu a notei.

E não consigo tirá-la da minha mente.

— Não é justo nada — Taehyung retruca. Eu abro os olhos há tempo de vê-lo erguer uma sobrancelha para Yerin.

— Vamos lá, Kim — ela resmunga, a voz irritante.

Solto um suspiro, tragando o cigarro de novo e mais profundamente. Toda vez que sinto o cheiro de fumo agora, tudo o que me vêm à mente é aquele rosto bonito que elogiou minha moto e sempre parece se destacar na chuva. Talvez seja porque ela cheirava a fumo quando entrou na loja de conveniência, mas, de um modo estranho, me recorda dela.

Do modo como a chuva parece abraçá-la toda vez em que eu a encontro.

Tsc, tsc — resmungo, soltando um suspiro. A fumaça ondula de meus lábios, dançando pelo ar.

Que maldição.

— Está resmungando assim desde ontem, Jeon — Yoongi pontua, olhando-me de soslaio com o cenho franzido. — Há algo te chateando?

Sim. Não. O que eu deveria dizer?

— Só estou com a cabeça cheia — alego. Não é uma mentira, afinal. Ouço Kim e Yerim brigando de novo, então explodo: — Dê à ele a maldição do isqueiro, Yerin! Você não é uma criança. E Taehyung, pare de ser babaca.

A Moeda de Troca || Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora