1°CAPÍTULO

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*LUIZA CAMPOS NARRA*

No plantão mais calmo da minha vida até agora, pondero os anos que passei na faculdade quando saí da casa dos meus pais para me tornar independente. Detalhe - não sabia que a independência custaria muitas horas sem dormir. Sou residente em neurologia e acompanho o professor Dr. Fernando em suas atividades extenuantes.

Não sou nenhuma profissional famosa das redes, e trabalho dia sim e no outro dia também. Mando quantias aos meus pais que ficaram no interior de São Paulo, e apesar dos meus esforços - a vida aqui não tem sido de mil maravilhas.

Terminei o meu noivado com o Maurício há pouco tempo, e estávamos prestes a pisar numa igreja para oficializarmos a união quando percebi seu pouco interesse pelo nosso possível casamento. Meu ex noivo tem uma vida boemia de bares, festas, e seu intuito era de que eu passasse a sustentar seus caprichos assim que estivéssemos casados. O único problema é a ausência que a falta dessa relação me traz, que apesar de grotesca, era o que preenchia minhas horas fora desse ambiente hospitalar.

*3 HORAS DA MANHÃ*

*JORGE AUGUSTO LIMEIRA BRANDÃO NARRA*

Meu celular dispara a tocar e desperto tenso, irritado por ter sido tirado do sonho que tinha com a minha esposa já falecida. Ela parecia ter uma coisa importante para dizer.

Atendo e é o meu acessor direto com voz embargada me avisando que meu filho teve um acidente de automóvel. Lá se vai toda e qualquer paciência que alguém poderia ter a essa hora da madrugada. Desligo o aparelho, me enfio no roupão e percorro a casa grande e silenciosa. Sou dono de fazendas criadoras de gado gordo, e já não penso em deixar todos esses méritos para o Rafael - um jovem descabeçado. Procuro os charutos na biblioteca e trago a fumaça aguardando notícias. Posso ver a imagem de Lilian (a mãe dele) me criticando pela frieza diante desse acidente, mas não irei arrancar os cabelos grisalhos que os quarenta e oito anos de vida me trouxeram e esperarei até o amanhecer para ir até o hospital público e visitar aquele inconsequente.

Em um momento de fuga para pensamentos melhores, encontro as fotos da família que formei com Lilian e dos anos que moramos na fazenda da cidade. Rafael era uma criança dócil, fácil de lidar, até ele crescer e se deslumbrar com o dinheiro se transformando num perfeito idiota.

*AMANHECE*

Chego ao hospital e todos ficam paralisados, pois deviam achar que eu não ia aparecer, e que o Antônio que é o meu secretário viria no meu lugar, mas assumo a responsabilidade de pai embora o Rafael faça ouvidos mocos aos meus ensinamentos.

O Dr. Fernando é professor da Universidade e vem falar comigo sem nenhuma cerimônia.

- Como vai, Jorge ?!

- Você pode imaginar, não é ?!

- O seu filho está bem, mas preciso que você faça uma boa ação.

- Uma doação em dinheiro para o hospital ?!

- Não, venha até minha sala e te explico melhor.

*MINUTOS DEPOIS*

- Então, a sua aluna salvou a vida do meu filho contrariando o médico responsável pelo plantão e foi escorraçada ?!

- Quase isso, eu tive que atender um paciente grave em outra unidade e me ausentei quando seu filho chegou no pronto socorro.

- Sinto muito, não posso fazer nada por ela se vocês mesmos estão de acordo com essa conduta de que não se deve contrariar ninguém nem para salvar a vida de outros.

- A questão é que houve uma discussão acalorada no momento, mas a Luiza quebrou um protocolo para que seu filho não tivesse sequela alguma desse acidente, me entende ?!

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