Prólogo

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     O corredor da faculdade se encontrava lotado de alunos, dos mais diversos cursos, cada um amontoando-se em sua respectiva sala de aula. Os mais velhos e experientes, calmos e despreocupados com o horário de início, os iniciantes, completamente eufóricos e ansiosos, perdidos atrás de suas salas. Entre esses calouros encontrava-se Ana Júlia Prado de Almeida, uma caloura de cabelos pretos e longos, que vestia sua comum saia bege e sua blusa rosa, roupas escolhidas a dedo por ela para ter o melhor conforto em seu primeiro dia, que divagava sobre como chegara ali.

     Ana ainda se lembrava perfeitamente de quando descobriu que havia passado em seu tão sonhado curso de matemática, sua mãe, Estela - uma mulher no auge dos seus 50 anos, dona de uma beleza avassaladora e uma pessoa muito determinada - encontrava-se eufórica pela conquista de sua filha, e seu pai, Roberto - um homem calmo e descontraído, que fazia de tudo por sua família - chorou de felicidade. Ana nunca havia visto seu pai derrubar uma lagrima se quer, então se sentiu mais que especial pela felicidade dos dois por sua conquista. 

     Ana sabia que seu caminho até ali não havia sido o mais fácil, vinha de uma escola pública no interior de São Paulo, em Tietê, diversas vezes sofria com a falta de professores, o que levava a longos períodos sem sequer uma aula em algumas matérias. Além de ter que trabalhar no período noturno em um pequeno restaurante em seu bairro, para que pudesse ajudar seus pais na renda de casa, que passavam por um período complicado financeiramente na época.

     Porém mesmo com essas adversidades, elas persistia no seu sonho de dar aulas de matemática. Descobriu essa vocação ainda no fundamental, com uma professora mais que especial para Ana, que mostrou-lhe como essa matéria poderia ser encantadora, através de alguns jogos e brincadeiras, o que a levou estudar por conta, ainda quando criança. Essa paixão não se abalou no ensino médio, mesmo durante o período sem professores e com seu trabalho. 

     Assim, entre os intervalos na escola, pausas no serviço e noites em claro, Ana dedicou-se a estudar para o vestibular da UNESP - Universidade Estadual Paulista - faculdade essa que era mais realista para ela cursar, por ser pública, estar relativamente próxima se sua casa, e ter auxílios para os estudantes de baixa renda, o que ajudaria e muita Ana durante os anos que estaria ali. 

Voltando do seu devaneio, ela pensou no seu dia, estava sendo de fato muito especial, os veteranos do curso haviam preparado um visita ao campos, na qual conheceu diversos de seus colegas, além de vários lugares da universidade, que enchia os olhos da garota a cada departamento ou instituto que passava, diversos prédios envelhecidos, e até um pouco maltratados pelo tempo, com sua tintura já inexistentes em vários pontos, mas ainda assim passavam uma aura de plenitude e sabedoria. Até quem um última parada os mais velhos os levaram os calouros a uma sala, para terem sua primeira de muitas aulas naquele lugar.

Na frente da Sala encontrava-se um senhor, de cabelos brancos e óculos na ponta do nariz, com feição séria, e postura ereta, observava a sala com cuidado, como se lesse o pensamentos mais íntimos de cada aluno. Ele causava uma espécie sensação estranha em Ana, não medo, mas uma vontade de se ajoelhar e pedir desculpa pela sua própria existência. Com uma vós grave e envelhecida ele começou a dizer:

- Bem-vindos jovens, sou Marcos Pares. Vejo que este ano estamos mais cheios que o comum, vamos ver até quando - disse ele, logo em seguida dando um rápido sorriso, tenebrosos na opinião de Ana - Moisés me disse que vocês estavam animados no passeio pela UNESP, mas agora chegou a hora de começarmos a trabalhar.

Em um rápido movimento o homem pegou o giz na bancada e colocou-se a escrever no quadro negro, com um letra um tanto rabiscada, e minimamente compreensível, o que forçava a Ana a usar seus olhos mais do que o normal, ele escreveu uma bem grande, em letras garrafais no topo, "HOMOMORFISMO DE ANÉIS", e virou-se para a turma, " Vamos começar com uma revisão do ensino médio,  vai ser simples para vocês, tenho certeza". "REVISÃO", essa palavra gritava na cabeça de Ana, ela nunca havia escutado falar disso em sua vida, o quão prejudicada estava por seu ensino médio? Como iria acompanhar isso? essas perguntas passavam em sua cabeça enquanto o professor escrevia mais nomes e definições que ela nem ousava ter o conhecimento, "Domínio de integridade", "automorfismo", "corpos", ela estava cursando matemática ou biologia?

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