— Você não foi convidada, foi? — Um garoto de cabelos escuros, alguns centímetros mais alto que eu e sem camisa, aparece no pé da escada, me encarando com uma expressão desafiadora.
— Quem é você? — pergunto, tentando manter a compostura.
— Bom, quem está na minha casa é você, então essa pergunta é minha. — Ele desce o último degrau e para na minha frente, olhando diretamente nos meus olhos. — Quem é você e por que está na minha festa?
— Se a sua festinha não estivesse incomodando a vizinhança inteira, nada disso seria necessário. Pode ter certeza de que eu não estaria aqui. — Dou um passo à frente, desafiando.
— Se soubesse que minha vizinha era tão interessante, teria te convidado para uma festinha só nossa. — A voz dele soa maliciosa, e sinto sua mão tocar sutilmente minha bochecha, me deixando mais estressada do que antes,
— E eu teria recusado com prazer. — Seguro sua mão com força e o empurro levemente. — Babaca!
Solto sua mão com um movimento brusco e me afasto, seguindo em direção à multidão em busca de Océane e Liam. Após alguns momentos, os encontro na cozinha, cercados por um grupo de amigos. Océane está com um copo de shot na mão, e um sorriso largo no rosto.
— Vamos embora? — digo, já sem paciência, pensando apenas em como seria bom estar deitada na minha cama.
— MADIZINHA! — minha prima grita, radiante. — Você tem que tomar isso aqui! — Ela estende o copo em minha direção.
— A não, a gente tinha um planejamento, e claramente não era esse. — Tento me esquivar, mas Océane insiste, empurrando o copo na minha direção.
— Meu amor, aqui está dez vezes mais legal do que em casa! — Liam entra na conversa, sorrindo. — Vamos curtir um pouco antes das aulas voltarem e você se afundar novamente na faculdade!
Jura? Isso é pressão psicológica. Eu realmente me afundo no curso, sem nem mesmo um tempo para cortar as pontas do cabelo. Sinto falta da minha adolescência caótica com Ane, mas a faculdade consome 101% do meu dia. Com apenas 23 anos, me sinto como uma idosa de 70.
Pego o copo de Liam e o coloco em cima do balcão.
— Podem ficar vocês, eu vou para casa. — Viro-me em direção à porta dos fundos, escutando Liam me chamar, mas sigo em direção à praia.
Sei que eles adoram festas, sempre estão em alguma balada ou resenha. Eu era assim também, até entrar na faculdade. Trabalho, provas, residência, tudo isso gera estresse. Agora, só quero a tranquilidade que a ilha sempre me trouxe.
Exausta e um pouco frustrada , sento na areia, bem perto do mar, sentido a brisa bater contra meu corpo, e o cheiro da maresia me fazer sentir em casa. Ao fundo, escuto a conversa da casa, mas pelo menos a música não está alta. Passo um bom tempo olhando para o mar, lembrando da minha avó e do que ela diria agora. Algo como: "Deveria ir lá, querida. Você tem apenas 23 anos e está agindo como uma velha". Rio sozinha, até sentir o cheiro de maconha e torcer o nariz.
— Sabe, os gregos achavam que o mar era o suor da Terra. — Viro-me, confusa, e vejo um homem atrás de mim. — Perdão, eu sou Aaron. E você?
— Madeline. — Levanto da areia e me limpo. — Com licença, mas já estou de saída.
— Não vai ficar pra festa? — Ele traga um cigarro, me observando.
— Não estou muito no clima.
— Também não, passo tempo demais em baladas e festas. Estou aqui só pelo aniversário do meu amigo. E você, o que faz aqui? — Ele bate na areia ao seu lado, me convidando a sentar. Hesito, mas acabo me rendendo.
— Moro na casa ao lado. O barulho estava insuportável.
— Então, você foi lá e queimou a minha caixa de som. — Ele ri, e eu o olho surpresa.
— A caixa era sua? — Pergunto, apavorada. — Mil perdões, de verdade!
— Olha, fuma um comigo e está tudo perdoado. — Ele me estende um baseado. — O Vincent que compra outra, a culpa é dele. — Ele acende o cigarro e o segura enquanto eu puxo uma tragada. — Mas o que a nossa queimadora de caixas de som faz da vida?
— Estou no último semestre da faculdade de medicina, à beira de um colapso mental. — Passo o cigarro para ele.
— Uma futura médica fumando um baseado. — Ele ri. — Me lembre de nunca me consultar com você.
— E você, o que faz?
Aaron se recosta na areia, me passando o baseado.
— Eu? Sou o filho que deu errado, o único que aos 26 anos ainda não pensou em cursar direito ou virar um ótimo empresário. Mas tirando isso, sou guitarrista de uma banda.— Errado? — Solta uma risada. —Você está vivendo seu sonho! Ser guitarrista é incrível.
— Mas e se isso não der certo? O que vão pensar de mim? — Dá uma tragada e observa o mar.
Olha nos olhos dele, a fumaça pairando entre nós
— O que importa é o que você pensa. A vida é muito mais do que expectativas.
Ele sorri, relaxando.
— Você tem razão. Me aprofundar nas músicas, isso me faz sentir completo.
— E quem sabe, esse pode ser o caminho que você estava procurando.— Pego o cigarro de sua mão e trago novamente — Então temos um astro do rock e uma futura pediatra. — Digo, mas sou interrompida.
— Futura pediatra e maconheira. — Ele ri, e eu dou um soquinho em seu braço.
— É medicinal, ok?! — Rimos juntos
Continuamos conversando e rindo. Aaron me conta suas histórias com a banda e, sem dúvida, está flertando comigo de uma maneira leve. Ele é bonito, com cabelos loiros e ondulados, amarrados em um coque bagunçado, e as tatuagens em seu braço direito lhe dão um ar descolado.
— Se continuar me olhando assim, vou ser obrigado a te beijar, Madeline. — Abaixo a cabeça, um sorriso de vergonha surgindo nos meus lábios.
Sinto sua mão tocar meu rosto enquanto ele se aproxima. Nossos narizes se tocam, e avanço para beijá-lo. Sua mão se entrelaça em meu cabelo, enquanto a outra me puxa para mais perto.
— AARON! Para de putaria na praia e venha cantar parabéns! — A voz de uma menina de cabelos cacheados interrompe nosso momento.
— Vamos? — Ele me olha, e dou uma risadinha.
— Acabei de destruir a caixa de som de vocês. Não sou bem-vinda lá. — Saio de cima dele e ele se levanta.
— Fica tranquila, não vão lembrar do seu rosto. — Ele estica a mão, me levantando. — Talvez lembrem do seu pijama. — Rimos juntos.
— Não acho que seja uma boa ideia. Vou descansar em casa. — Ele se aproxima e me dá um selinho suave.
— Boa noite, obrigado pela companhia.
— Eu que agradeço, Madeline. Boa noite.
Nos despedimos, e ele vai em direção à festa enquanto volto para casa, aliviada. Amanhã é um novo dia, e com certeza estarei mais animada para fazer algo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐈𝐍𝐏𝐑𝐘𝐀
Ficção AdolescenteApós o término do segundo período, Madeline, chama alguns amigos para a casa da família em Inprya, ilha que fez parte de sua infância. Lá sem dúvidas seria o lugar perfeito para curtir as férias, esvaziando a mente de qualquer coisa relacionada a fa...