• Capítulo IV

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**Capítulo não terminado, apenas amostra**

Santiago andava pelas ruas com uma experiência inata que Izabel jamais vira em alguém, ele sabia os melhores atalhos e onde pegar o bonde mais vazio, os nomes das ruas havia decorado como se fosse a receita mais simples de um bolo, era rápido mas não desesperado. Santiago cortava por entre os amontoados de pedestres e  automóveis tão lúcido e seguro que não restava nada a Izabel senão segui-lo. Ela tinha só um endereço e uma carta qu pesavam em suas mãos.

Estavam em um bairro operário, imensas fábricas riscavam a paisagem como monstros que soltavam uma dens coluna negra de fumaça de suas chaminés. Havia o barulho dos carros, das buzinas, das sirenes, Izabel tossiu alguns vezes, o ar esatva impreganado, não só pela fumaça, mas algo podre das barracas dos feirantes que ficavam nas calçadas. Centenas de trabalhadores saíam em filas das fábricas, uma marcha fúnebre de pessoas nas quais o cansaço era palpável no olhar perdido que dirigiam ao resto mundo, tudo era muito sujo, cinza e triste. Passaram pelos cortiços, montanhas de casas umas sobre as outras, verdadeiras cadeia de animais, famílias inteiras em cômodos decadentes. Por janelas minúsculas ou buracos nas paredes Izabel via o olhar vazio de alguma criança e não podia deixar de se perguntar se ela tivera alguma refeição naquele dia e se arrependera de não ter trazido algumas moedas. Odiava aqueles bairros, a mostrava como a humanidade não existia pata todos. Não conseguia parar de pensar nos jantares e festas dos que viviam da exploração daquelas pessoas, quantas vidas poderiam ter sido salvas e quanta fome poderia ter sido saciada.

Quantas pessoas morreram somente naquele dia para o enriquecimento de alguma família burguesa?

E Izabel sabia a resposta.

Muitas.

Sentia-se sempre doente quando ia para esses bairros, a miséria era um pesadelo constante em sua vida.

— Está tudo bem? Estamos quase chegando__ disse Santiago percebendo o mal estar de Izabel.

Izabel não respondeu, estava absorta demais em seus pensamentos, apenas seguia os passos de Santiago como uma aprendiz.

— Aqui estamos. Bairro Operário, Avenida Angélica, N° 12, Distrito 45, quadra a direita__ Depois de alguns minutos Santiago recitou todo o endereço que Izabel lhe dissera somente uma vez algumas horas atrás.

— Uma casa de... carnes?__ Izabel quase havia esquecido do motivo de estar ali. Valentina sempre conseguia se superar.

Uma construção de tijolos vermelhos gastos como qualquer outra, no entanto conseguia se distoar dos cortiços e fábricas. Entraram relutantes, a cada passo sentiam os olhares sobre eles. Ao que parecia era um pequeno negócio familiar. O cheiro de carne fresca e crua era forte e deixou Izabel enjoada. Várias pessoas circulavam no interior, algumas em filas e outras conversando distraídas. Via-se também trigo, ovos e leite sendo vendidas em prateleiras.

O que Valentina queria num lugar como aquele?

Izabel daria qualquer coisa para saber o conteúdo daquela carta. Somente um nome estava escrito na caligrafia perfeita de Valentina; 'Jorge Aldaya'. 

Havia um enorme balcão com peças de carne dispostas, atrás delas alguns homens de avental trabalhavam. Izabel se perguntava qual deles seria o dono do nome escrito na carta, e se é que era um deles. Desde criança Izabel realizava algumas tarefas para Valentina, sejam elas bilhetes para as amigas distantes e de reputação questionável, pagamentos para costureiras, ciganas que liam tarô, ir a alfaiatarias buscar suas roupas que Izabel nunca a vira usar, pelo menos pessoalmente. Certa vez tivera que entrar dispensar em nome de Valentina um rapaz que se dizia apaixonado por ela, nunca mais voltou a vê-lo. Em troca desses pequeno favores Valentina lhe dava generosas gorjetas, por isso nunca a questionava sobre os pedidos que ela fazia, não queria se envolver mesmo que se contorcesse de curiosidade. 

Um dos homens que trabalhava no balcão se destacava dentre os outros, era jovem e bonito, tinha a natureza vibrante de quem faz o trabalho com experiência e paixão, as moças nas filas  lhe lançavam olhares instintivamente ela percebeu que embora seu sorriso fosse encantador e era também amargo e ressentido.

Izabel soube que era ele a quem ela deveria entrgar a carta. As pessoas em volta estavam agitadas e com pressa, bastava  uma frase para que o moço que ela julgava ser Jorge Aldaya parar o que estivesse fazendo e ouvi‐la. Passou pelas pessoas que estavam aguardando pra serem atendidas, sem se importar com o que eles dissessem. Ela tinha pressa.

— Trago essa carta para Jorge Aldaya em nome de Valentina Armendáriz

O moço que cortava um grande pedaço de carne e ao ouvir o nome de Valentina deixou a faca cair num baixo tinido de ferro, ela esperava muitas reações, incredulidade, raiva e até aceitação, mas expressão de ódio que o rapaz lhe deu a faz dar um pequeno passo para trás assustada. O sorriso encantador desmoronou, tornou-se algo retorcido em escárnio. Izabel nunca pessou que fosse ter medo de um sorriso.

— Não há nada aqui para aquela vadia__ a crueza das suas palavras a fez sentir ainda o mais ódio que o rapaz nutria.

— Preciso entregar essa carta a Jorge Aldaya, seria você?__ Ele não respondeu e apenas a observou por uns instantes com desconfiança e o mesmo olhar duro.

— Não, sou o irmão dele. E Jorge Aldaya não se encontra no momento__

— E onde ele está?

— Ele está morto.

— Morto...__Izabel encheu-se de compaixão__ perdão, não era do meu conhecimento... jamais viria aqui se soubesse...

— Não me interessa, agora volte para a sua senhora, não há nada aqui para ela.

— Novamente eu sinto muito__ Izabel disse e afastou-se devagar, havia mais pessoas ali, apressadas e se acotovalando em filas, e suas conversas e discussões estavam mais altas do que enquanto conversava com o jovem.

— Ah, e diga a Valentina Armendáriz que a sombra da culpa estará com ela pelo resto da sua vida mesquinha__ suas palavras soaram como lâminas cheias de veneno.

Santiago e Izabel deixaram o açougue e seguiram calados pelas ruas sujas até chegarem ao ponto onde o bonde passava.

— Dizem que ele suicidou-se__ Santiago disse depois de deixarem o bonde e já estarem quase chegando a mansão. Izabel sentiu acordar de um estupor, parecia uma eternidade desde que estiverem no açougue, as últimas luzes do sol se rompiam num céu sendo engolido pela escuridão da noite, mas apenas horas havim se passado. Se surpreendeu com o tempo que permanecerem sem dizer nada um ao outro.

— E qual motivo teria?__ Izabel perguntou, mesmo que as palavras ditas pelo irmão de Jorge Aldaya estivesse muitos marcadas na sua cabeça.

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