CONTO I AS CAÇADORAS DE SONHOS

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O completo Nada. Ele estava sempre ali, caçoando dos dedos curtos e desajeitados que eu continuava, insistentemente, a esticar para alcança-lo sem, no entanto, algum resultado que pudesse chamar de sucesso. Consciente ou inconsciente, eu sempre o via, tão perto e ao mesmo tempo a quilómetros de distância. Porém, não era apenas uma distância espacial, o tempo também tinha dedos naquilo. O peso dos anos somando-se a anos contribuía para a minha impotência ante a algo tão inquietante, mas também estranha e desconfortavelmente familiar.

Nunca chegava a descobrir sequer uma nesga das lembranças que turbilhonavam naquela espeça nuvem de nada. Eles, os médicos que trataram de mim, disseram-me que não podiam recuperá-las nem mesmo através da Hipnos-Link. Disseram que o meu Ego fora desactivado no fatídico acidente que assassinara o meu eu anterior e por esta razão não existia um backup guardado na Rede. Obviamente, eu tentei, em incontáveis vezes, confirmar a veracidade de tal diagnóstico, porém, desconsoladoramente, em todas as seções de interrogatório com o meu Ego ele corroborou com os médicos.

A única lembrança que sempre tive, a única certeza inabalável, é que sou um Inquisidor. 

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