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eles vão
como se nunca tivessem acontecido
eles voltam
como se nunca tivessem ido
- fantasmas.

- rupi kaur.

MIZUSHIMA AKIMI.

SEXTA JÁ SE INICIAVA passando das duas da manhã e eu não sentia um pingo de sono ou cansaço no corpo. A melodia do solo se iniciava mais uma vez em meus fones, e mais uma vez eu repetia a coreografia em meio ao meu quarto, fazendo tudo que eu conseguia no pequeno espaço, assim como todas as noites desde segunda.

Quando o música finalizou, senti minhas panturrilhas latejarem, os dedos doendo pela ponta. Meu corpo gritava por descanso, minha mente implorava para que eu continuasse. Parei em meio ao quarto, apoiando as mãos em minhas coxas, ofegante.

Sentei-me no chão, tirando a sapatilha dos meus pés, o protetor de dedos e massageando meu pé. Credo, eu precisava fazer as unhas. Suspirei, agradecendo mentalmente pelo luxo de ter um banheiro em meu quarto, deixando um rastro de roupas até o banheiro. Tomei um banho quente rápido, tirando qualquer resquício de suor do corpo. Colocando um pijama soltinho, saindo do quarto para ir na cozinha.

Minha mãe provavelmente estava dormindo, Akira iria passar a semana fora e Akihiro também deveria estar dormindo. A luz se mantinha apagada, eu estava apoiada contra a bancada enquanto bebia um copo d'água gelado, bem gelado. Escutei alguns passos, logo depois a luz sendo acesa sem aviso algum, fazendo com que eu fechasse os olhos e travasse no lugar. Que não seja minha mãe, que não seja minha mãe.

— Que porra você tá fazendo aqui? - Akihiro sussurrou parado na entrada da cozinha com a mão no interruptor, logo começando a esfregar os olhos.

— Eu que te pergunto isso, seu pirralho. - Disse brava, parando para o encarar. Seus olhos e nariz estavam vermelhos. — 'Tá chorando porque? - Perguntei em português, fechando a cara.

— Eu não to chorando. - Franziu o cenho, limpando o rosto novamente.

— Tá sim! - Afirmei, me aproximando dele. — O que aconteceu?

— Não aconteceu nada. - Ele deu um passo pra trás, fazendo com que eu desse mais um para frente. — Para de andar, parece que você quer me matar assim.

— O que aconteceu, Akihiro? - Cruzei os braços. — Papai te mandou mensagem? - Falei preocupada.

— Mandou. - Ele respirou fundo, perdendo o olhar em algum lugar aleatório da cozinha. — Ele disse que está vindo para o Japão. - Falou com a voz trêmula, seus olhos marejaram em segundo, fazendo com que eu o envolvesse em um abraço apertado.

Entre os três filhos que minha mãe tinha com meu pai, Akihiro era o qual mais tinha sofrido nas mãos daquele homem. Nosso pai nunca foi um bom pai, sempre fora muito rígido, grosso e mão pesada conosco, diferente da nossa mãe, que era o completo oposto do homem. Yuri, sempre teve seu filho favorito, do qual ele sempre dava mais atenção e era mais amoroso. E esse filho sempre foi Akihiro, talvez por ser o caçula. O problema surgiu quando nossa mãe pediu divórcio, depois de aguentar anos ao lado dele, ela chegou à conclusão que o divórcio era a melhor opção para que todos nós pudéssemos ter paz. E então da água para o vinho, nosso pai fez um inferno em nossa vida, especialmente, na vida de Akihiro. E infelizmente até hoje ele sofria com isso, ver quem deveria ser seu herói se transformar no maior vilão da sua vida é, no mínimo, decepcionante e triste.

starry eyes - tsukishima kei.Onde histórias criam vida. Descubra agora