Who's counting? (one. two. three.)

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Quando Clove estava na arena e Cato foi obrigado a ser seu mentor, ele jurou que nunca mais ia olhar na cara dela se ela chegasse a sair viva. Como seus treinadores sempre tinham previsto, ela era o tipo de tributo que só podia conseguir vitórias incrivelmente gloriosas ou mortes que devastavam o distrito por anos.

Com Clove, tinha sido a primeira opção. Mas a vitória dela, para Cato, não tinha tido nada a ver com glória. Tinha tido a ver com atitudes extremas sendo tomadas para garantir patrocínio e dez dias sem dormir mais que duas horas por noite. Mas ele sabia que seria assim e teria sido assim com quaisquer outros tributos que por ventura não tivessem sido seus inimigos no distrito. Ele era leal à sua casa, afinal.

De qualquer forma, Clove ainda tinha dezesseis anos quando foi escolhida pra se voluntariar. Ela era mais que boa, ela era perfeita, e não havia necessidade de esperar mais; a Academia queria apostar grande, mandar sua melhor jogadora. Ele ainda estava ajeitando os detalhes naquela realidade nova e encaixando tudo o melhor que podia para que seus problemas com a raiva não atrapalhassem muito quando descobriu. Ele não se importava muito, mas quando encontrou Brutus, que tinha o acompanhado em alguns níveis, ele disse:

- Eu estou te avisando: não escolhe a Kentwell para se voluntariar.

- Você não está pensando direito. A Kentwell é boa, ela precisa ir lá! Ela é a nossa melhor chance de conseguir o bicampeonato, menino.

Ela era a melhor chance mesmo, mas Cato estava pensando direitinho quando entrou na sua recém designada sala de treino privada e tentou mais uma vez convencer Clove a desistir dessa história de Jogos. E se ele não tivesse que ser o mentor dela, Cato com certeza teria parado de verdade de olhar na cara dela depois daquele dia.

Ele não chegou a poder se dar a esse luxo, no entanto, porque toda noite dava um jeito de se esgueirar pro quarto dela. Cato passou aquela semana inteira recitando tudo que sabia sobre os Jogos, torcendo para que ela ao menos tentasse ouvi-lo. Afinal, ela não podia manchar o nome dele morrendo de um jeito vergonhoso.

Quando chegaram às vias de fato, contudo, Cato nem precisava ter se preocupado. Ela tinha sido feita para aquilo. Seus dias na Capital tinham sido gloriosos. Ele achou o ângulo perfeito para ela. Que abordagem funcionava melhor do que uma versão caricata da própria personalidade dela? Clove foi vestida como a adolescente mimada que poderia ter sido e era um rio de arrogância, educação perfeita e uma sinceridade perturbadora. Ela conseguiu com que Caesar ficasse na palma da sua mão e tudo que a Capital queria ouvir era sua voz sedosa, macia, falando sobre promessas de morte e despejando verdades dolorosas sobre todo mundo. Eles esconderam o fato de que Clove tinha sido deserdada, porque ela com certeza era uma filhinha do papai para a Capital, a boneca perfeita com seus traços aristocráticos e aquela ânsia por atormentar qualquer um.

Como uma provocação, uma piada interna que não agradava Cato, ela costumava usar um colar muito familiar o tempo inteiro enquanto estava lá.

A arena dela foi dividida entre uma floresta de árvores espinhentas e uma cidade industrial abandonada. Era tão ruim quanto qualquer outra. Ela estava aliada com o 1 e o 4, além de Jano, o outro menino do distrito que tinha sido mandado com ela. Obviamente, ela era a líder e o pessoal da Capital estava salivando com sua perfeição, com a eficácia com que ela sujava suas mãos com sangue e fornecia o entretenimento ideal o tempo todo. Clove era a princesa deles agora e Cato nunca conseguia dormir porque a via o tempo todo atravessando o estômago do garoto de doze anos do Distrito 7 no Banho de Sangue.

Mas ele imaginava que ia precisar parar de ficar remoendo aquelas memórias pra sempre. Cato sempre tinha sido muito bom em enterrar qualquer coisa que não lhe fosse conveniente - um pouco literalmente. Ele enterrou o nome de todos os tributos que tinha assassinado e eles quase nunca saíam das covas. Ele enterrou o fato de que se importava um pouquinho mais com sua parceira de treino do que deveria até ter atingido seu objetivo e ser autorizado a desenterrar (mas só mais ou menos). Ele enterrou tudo que seu pai fazia com ele até o dia que se cansou. E nisso ele foi perfeitamente bem sucedido.

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