If it's not rough it isn't fun.

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As semanas seguintes trouxeram para Clove uma diversidade de descobertas.

A que abriu a temporada com chave de ouro era uma daquelas que poderiam eliciar ataques de raiva: a irmã de Cato tinha decidido que queria jogar facas.

Para Clove, a Academia era um dos seus lugares preferidos. Sempre tinha sido. Ela tinha ficado satisfeita em poder deixar sua casa apertada na Patrus pra se mudar pra lá. Na Academia, as avalanches não eram um problema. E na Academia, ela não era negligenciada, porque ela tinha um talento e aquilo valia muito.

Essa história do talento, bom, não valia para Gaia. Ela teria que aprender do modo antigo. E tentar esconder as facas – parada na estação das facas, a estação das facas que tacitamente pertenciam a Clove desde que ela tinha pisado os pés na Academia – não ia ajudar.

- Clove.

- Gaia.

A menina mais nova ergueu as sobrancelhas e sorriu sem mostrar os dentes. O fato de que ela estava tão desesperada por ter sido pega jogando facas que sentiu a necessidade de sorrir para ela não passou despercebido por Clove, que sorriu falsamente de volta.

Não era como se a garota fosse mal educada, até porque ninguém no Distrito 2 tinha sequer autorização ou tempo para esse tipo de comportamento mimado com toda a disciplina fria que os regia. Talvez eles nem soubessem bem o que configurava falta de educação e o que era pertinente num contato social que fazia vezes de frequente, se não familiar. Ela só deixava claro que não gostava muito de Clove, que honestamente não se importava. Ela mesma não gostava de muita gente e de qualquer forma só se importava em fazer as pessoas certas gostarem dela.

Gaia simplesmente não sorria muito para ela.

- O que você está fazendo aqui? Cadê o Cato?

- O Cato não é muito chegado a vim aqui.

- É, eu sei.

Mais silêncio. Clove, ainda sorrindo levemente porque Cato ia ficar tão puto se visse a irmã dele fazendo qualquer coisa que sequer vagamente o lembrasse dela, empurrou a bochecha com a língua e descruzou os braços.

- Bom, eu estou ficando entediada. Me mostra a faca pra eu poder ver se tem conserto – simples assim. Era uma ordem e ela era uma Vitoriosa. A menina obedeceu, inexpressiva como devia ser. – Vocês não tiveram nenhuma triagem ainda.

- Não.

- Vocês não vão ter. Você não vai falar pra ninguém que eu te contei. Eles vão ficar observando e se acharem você mais ou menos boa, você entra pra um nível de verdade. Se não, você fica por aqui de molho mais um tempo e depois dispensa.

- Ah.

- Seus irmãos não iam te contar sobre isso. Mas nós somos meninas e devemos ficar juntas, então eu estou te dando a oportunidade de decidir o que você quer fazer. Você pode ser uma merda com tudo, porque aí você não precisaria treinar pro resto da sua vida. Ou você pode me deixar te ensinar um pouco de decência com essas facas aí. E fazer o que seus irmãos acham que é melhor pra você.

- Eles acham melhor eu treinar – havia uma leve interrogação na frase. Gaia parecia um pouquinho com o Cato. Os olhos deles todos faziam a lembrar de água; podia ser gelo, podia ser cálida. Clove a encarou de volta por alguns segundos.

- Sim.

- E você acha o quê melhor?

Uma leve surpresa se insinuou no rosto de Clove. Seu discursinho sobre meninas ficando juntas tinha sido só provocação, daquele tipo vago que nem intencionava nada. E ela não mexia com crianças, não mexia com Gaia, que mal a olhava desde que tomou consciência que era ela que às vezes esquentava suas mamadeiras enquanto seu irmão estava na televisão matando todo mundo. Ainda assim, Gaia estava ali querendo a opinião dela.

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