O2

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Começando por ela...
Me apaixonei jovem, mas alguns anos mais velho que ela. A conheci quando ela entrou como caloura na UFRJ. Todo ano eu amava ir no primeiro dia de aula dos calouros. Era engraçado e a chance perfeita para acabar saindo com alguém. Não me levem a mal, mas sair com calouras era muito mais divertido. As festas universitárias eram tão boas. Todo começo de ano era o mesmo: festas e mulheres. Mulheres e festas.

Eu não tinha responsabilidade e noção, e acreditem em mim, a falta de uma dessas coisas é extremamente preocupante para um aluno de direito jovem. Agora a falta das duas... era realmente... um perigo à parte. Mas numca me importei. Quebrei uns corações aqui, iludi outros ali. Meu forte nunca foi relacionamento ou qualquer sentimento do tipo, eu gostava do mundo, de viver.
Não me orgulho, mas trai todas as namoradas que tive desde os 15.

Hoje em dia sinto uma certa vergonha de falar sobre isso, mas eu era jovem. É inconsequente. Mas aí então veio ela igual um furacão, um oceano violento, um dínamo.

Bati meu olho nela e foi como... Não sei. Como se de repente o calor escaldante do Rio de Janeiro amenizasse, como se uma música tocasse especialmente no meu ouvido, como se algo tivesse revirando toda a minha barriga, como se o ar daquela cidade poluída estivesse limpo. Eu não queria ninguém.
Eu queria ela.

Ela sentou na primeira cadeira, na primeira fileira, de frente para o professor. Era patético, quem sentava em frente ao professor?

Ela, com certeza.

Ela usava uma calça preta, uma blusa de oncinha que parecia social, um salto e muitas joias. Pude observar bem o quando o ouro a deixava bonita. De repente quis dar ouro para ela. Só para ver o contraste da joia e da pele dela.
Eu não tinha um puto no bolso, mas compraria e daria. Daria se fosse para ela. O que era aquilo afinal? Aquela coisa esquisita que eu estava sentindo? Aquela necessidade absurda e irreal? Aquela coisa esquentando meu peito e a porra do neu pau?

O cabelo dela era especialmente bonito. Grande, volumoso, puxava quase para um loiro escuro. Não sei. Não entendo, mas era lindo. E então senti vontade de puxa-lo.

Hoje em dia eu entendo que foi amor à primeira vista. Entendo que tudo o que eu senti foi o baque forte de quando o amor, a paixão, atinge. A gente só se dá conta que foi amor à primeira vista quando já passou muito tempo, mas naquele momento eu achei que era atração, tesão, desejo. E era, na verdade. Era isso também. Mas era muito mais do que só isso.

Não sei se seria bom para a minha imagem descrever o quão canalha ela foi comigo. O quanto eu tive que implorar, me humilhar, para ela sequer me notar.
Estou rindo nesse momento.
Não é exagero quando digo que me humilhei, e por isso não sei se quero contar com detalhes essa parte. Gosto de fingir que ela, assim como eu, se apaixonou desesperadamente por mim assim que me viu. Mas não foi assim. Ela me odiou primeiro. Odiou porque eu sempre invadia a aula dela e a contrariava.

Era o meu passatempo favorito. E não que eu tivesse tempo. Na verdade, eu não tinha tempo nenhum. Precisava trabalhar depois da faculdade, mas mudei meu turno e às vezes faltava algumas aulas só para vê-la. Provoca-la. Era muito fácil deixá-la irritada, mas chegou uma vez em que foi muito fácil pra ela também me irritar. Especialmente quando ela aparecia com o tal do Marcelo.

Que porra aquele cara fazia em cima dela?
Na verdade, nunca quis a resposta dessa pergunta. E continuo não querendo. Tem muitas coisas que envolve ela que eu prefiro, até hoje, não saber.

Eu podia observar, em alguns momentos, ela olhando pra mim, mesmo quando estava com aquele insuportável do Marcelo. Devo falar dele? Não sei se o cara é bom o suficiente pra ta aqui. Ele era esquisito, alto demais, magro demais, não tinha uma qualidade sequer, senão eu com certeza mencionaria. Talvez só a riqueza dele. E isso com certeza era algo importante para as meninas da faculdade na época, mas eu sei que para Helô nunca foi, e talvez por isso eu tenha começado a observar o quanto ela, depois de um tempo, começou a afastá-lo. O cara realmente não tinha nada de bom a oferecer.

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