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É muito engraçado o quanto há, realmente, um choque de gerações quando você tem um relacionamento com uma pessoa bem mais jovem que você. Eu sempre fui muito careta, muito a moda antiga. Bianca me virou do avesso com toda a sua modernidade. Ela procurava coisas que eu não queria ou que eu já tinha. Foram momentos bons, engraçados. Costumo pensar que ela foi essencial para eu enxergar a vida da forma que enxergo hoje, ela foi essencial para que eu pudesse enxergar o que, literalmente, estava na minha frente e antes não via.

De repente, mesmo num relacionamento com ela, eu me pegava dividindo a vida com outra pessoa. Mesmo chegando em casa e ela estando lá, eu queria contar sobre o meu dia para outra pessoa. Mesmo ela planejando a vida que ela tinha comigo, me colocando nos planos futuros dela, eu planejava a vida com outra. E foi quando eu me dei conta de que eu estava fazendo aquilo de novo.

E me dar conta disso foi outro soco no estômago porque parecia que pra mim nunca estava bom, mesmo quando eu achava que estava. O que estava faltando, aliás? Tinha me divorciado, tinha achado outro alguém, estava feliz, viaja muito, meu trabalho estava ótimo, minha vida muito melhor, então o que faltava? O que eu tanto procurava?

Eu! Helô pensou. Faltava eu.

Bianca me largou mas eu costumo pensar que eu a larguei primeiro. E não falo isso porque quero sair por cima, mas porque, de fato, quando ela decidiu sair da minha vida, eu já não estava na dela há muito tempo. Estava completamente imersivo em outra pessoa. Não diria em outro amor, porque agora, me dou conta que o que eu senti por Bianca não foi amor, e nem paixão. Foi desejo, adrenalina, identificação. Gostei muito dela, sim. Mas gostava porque ela era o que eu queria ser. Uma coragem que eu queria ter, uma pulsão pela vida que eu achava que tinha.

Durante todo esse tempo eu tive medos recorrentes, da vida, de mim. E então me peguei amando de novo. Não como o primeiro amor, como foi com Helô, um amor mais forte, mais lapidado. Parecia que agora, finalmente, eu sabia amar.

Não me entendam mal, por favor, amei Helô como um louco, amei tanto que nem sei dizer, mas era um amor jovem, um amor descabido, sem tamanho, sem limites. Eu não sabia lidar com aquele amor, com o tamanho daquele amor. Era como tentar domar o mar.

Vocês já viram sobre a passagem de Drake? Sobre o quão forte e avassalador é aquele mar? O amor que eu sentia por ela era como aquele estreito, e eu não sabia como lidar. Mas agora, eu sei. Sei como lidar com um amor avassalador.
A maturidade nos proporciona algumas coisas e o entendimento sobre o amor é uma delas. Acredito que Helô, Bianca, e todas as mulheres que passaram pela minha vida sabiam disso antes de mim, precisei de mais de 30 anos, e acredite, não me orgulho disso. Mas me orgulho de evoluir, pelo menos.

De repente, esse novo amor me fazia querer dividir a vida, o trabalho, as massagens, mensagens. Eu queria sempre algo novo, queria sempre surpreende-la. Tinha uma necessidade absurda de fazê-la se sentir um dínamo, um oceano inteiro.

Helô sentiu os olhos marejados. E pode lembrar de algumas vezes em que o viu com outra pessoa e foi tão horrível, porque ela tinha a impressão de que ele olhava para ela do mesmo modo que ele a olhava. E todas as vezes gostaria de ir lá, gritar, espernear, dizer para não confiar nele porque ele vai com certeza vai roubar o coração e depois ela que pagará o preço. Queria poder dizer o quanto ele é um péssimo sedutor, ou o quanto ele é um cafajeste. Gostaria de ter batido nele muitas vezes, prendido, castigado.

Queria ter conseguido arrancar de dentro dela esse sentimento tão sem cabimento que ainda sentia por ele. E ainda agora, queria deixar de sentir, "desentir", arrancar de si. Queria salvá-lo apenas por salvá-lo. Queria salvá-lo apenas para matá-lo depois. Queria salvá-lo apenas. Aquele era Stênio Alencar. Capaz de desestruturar Heloísa Sampaio.

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⏰ Última atualização: Feb 26 ⏰

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