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TRÊS MESES DEPOIS

  — DÁ PRA ACREDITAR em todo esse espaço? — diz Vicky, a corretora de imóveis. Lucas já estava procurando uma nova casa há algum tempo, e hoje era dia de fazer mais algumas visitas.
   — É, ótimo pra todas as raves que vou fazer — debocha ele. A casa era realmente enorme e estava mobiliada com um grande sofá vermelho em L no meio da sala e pufes cinza, assemelhando-se muito com os espaços que costumam ser fotografados para revistas. Não tinha nada a ver com que Lucas queria. O arquiteto desejava apenas um lugar que tivesse um sofá e uma televisão, onde ele pudesse afogar suas mágoas enquanto bebia, mas estava realmente difícil.
   Naquele dia, Vicky e ele já haviam visitado três casas, e todas elas eram o oposto do que Lucas procurava. O primeiro imóvel tinha apenas dois pufes redondos na sala como móveis, além de um tanque de areia no meio da sala que Vicky jurava que era a última moda nas revistas de decoração. A segunda, por sua vez, era toda ornamentada com objetos de motivos indianos e um sofá que quase engoliu Lucas. Restava apenas a que estavam agora, a qual só seria adequada se Lucas fosse um rapper decadente que não vende nenhum disco há anos. Tudo bem que ele já não era o arquiteto e paisagista brilhante que já fora um dia, mas sua casa não precisava denunciar isso.

  "Meu Deus, será que é pedir demais achar uma casa com o básico nessa cidade?", ele pensa. Vicky já estava começando a perder a paciência com ele, e Lucas não tirava sua razão. Ele precisava achar uma casa logo. Não poderia continuar vivendo no mesmo lugar depois de tudo o que houve.
   — Olha Lucas, estamos ficando sem opções — diz Vicky — A não ser que aconteça algum milagre, não vamos achar mais nenhum imóvel disponível nessa cidade!
   — Tem que haver algum, não é possível! — brada ele, enquanto os dois saem da casa.
   — Ter tem né, mas você rejeitou todos — responde Vicky, impaciente.
   — Eu vou acha..— começa Lucas, mas é interrompido por uma folha de papel rosa que gruda em seu rosto por causa do vento na rua. Ele retira o papel da face e fica incrédulo ao ver o que estava escrito: era um panfleto anunciando uma casa disponível para aluguel a duas ruas de distância dali. Ele mostra a folha cor de rosa para Vicky, que dá um suspiro pesado e diz:
   — Vou entrar em contato com a imobiliária para averiguar.
E enquanto a corretora pega o celular e digita um número, Lucas lança a ela um sorriso esperançoso.

   Em cerca de meia hora, Vicky e Lucas já haviam conseguido as chaves da casa. Era um imóvel de tamanho mediano, decorado com móveis de tons sóbrios. Havia um grande corredor e dois quartos, e todas as paredes eram de um tom pastel de amarelo. Na sala de estar, havia uma grande janela acima dos bancos fixos, e a vista da rua era muito bonita. Com certeza, aquela era a casa.
    — É aqui — diz Lucas, sua satisfação permeando cada palavra que dizia — É esse o lugar.
    — Ok. Bom, o pessoal da imobiliária me disse que os proprietários estão alugando por temporada. Parece que há um caso de doença na família, sobre o qual eles não quiseram falar muito — afirma Vicky.
    — Quando eu posso pegar as chaves?

    Na noite daquele mesmo dia, Lucas já estava largado no sofá da casa nova, assistindo mais uma vez à filmagem de seu casamento enquanto bebia mais uma garrafa de cerveja

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    Na noite daquele mesmo dia, Lucas já estava largado no sofá da casa nova, assistindo mais uma vez à filmagem de seu casamento enquanto bebia mais uma garrafa de cerveja. Laura, sua falecida esposa, estava linda na tela da TV, e cada vez que a dor do luto ameaçava voltar, ele ingeria uma nova dose cavalar de álcool. Era assim a sua vida agora: um misto enevoado de dor, vazio e anestesia enlatada.
    Quando Lucas percebe que sua cerveja já acabou, levanta-se do sofá e anda em direção à geladeira, onde seu estoque de cervejas e energéticos já estava abastecido. Ele pega mais uma lata da bebida fermentada e faz o caminho de volta até a sala, abrindo a latinha antes mesmo de chegar ao sofá. Porém, ele acaba derramando algumas gotas do líquido no carpete, o que acaba despertando a ira da outra moradora da casa, a qual ele nem sabia que existia.
    — Mas o que é isso? O que você tá fazendo na minha casa?! — diz uma ruiva que aparece bem na frente de Lucas, como se fosse uma entidade ou sei lá.
    — AAAAAAAAAHHHHHH — grita Lucas, deixando a latinha de cerveja cair e encharcar o carpete.

  

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