REBECA MOREIRA
— Você está bem, ruivinha? — Joe indagou, observando-me com atenção quando fiz uma careta de dor ao puxar o ar com um pouco mais de força.
Ele tinha sido uma benção na minha vida e na do meu irmão. Era conflituoso, porque atiçou ainda mais a ira do meu pai, mas a sua presença abrandava um pouco o peso em nossas costas, nos enchendo de amor e carinho.
Tentei desviar o olhar, procurando um modo de disfarçar aquela situação, mas tudo doía. Nem mesmo a melhor atriz do Oscar conseguiria fingir estar bem sentindo tamanho desconforto. Eu estava preocupada, temerosa demais com a possibilidade de ter fraturado a costela. No entanto, não poderia ir ao médico ou contar para ninguém, nem mesmo o meu irmão. Se a notícia se espalhasse não sei o que poderia ser de mim.
Segurei a emoção na garganta, sentindo os olhos querendo lacrimejar. Respirei fundo, modulando a voz para um tom mais firme e fingi um sorriso amarelo para que ele não notasse nas entrelinhas.
— Sim, só uma cólica forte. Coisa de meninas.
— Sei... — devolveu desconfiado, erguendo uma sobrancelha.
Joe parecia ter visão de águia. Talvez pela malícia que a vida lhe ensinou a ter a duras penas, sabia identificar quando alguém não estava bem, e era exatamente por isso que eu tentava evitá-lo, principalmente nos dias mais críticos.
Em seguida, descontraiu quando Rodrigo abraçou sua cintura:
— Ainda bem que desse mal eu não sofro, fico só com a parte boa. — Sorriu, um pouco sacana.
Meu amigo era 8 ou 80. Quando levava as coisas a sério, era sério demais. Quando levava na esportiva, ia sempre para o lado sexual.
Aos poucos, meu irmão foi se abrindo com o namorado até que um fosse a base do outro para enfrentar a ira de Deodato Moreira, e Rodrigo finalmente tomar a decisão de sair de casa, desta vez sem volta. Contudo, eu não tive a mesma sorte.
Tinha medo do meu pai, sem sombra de dúvidas. Porém, se eu fosse sozinha, daria um jeito de fugir e sumir no mundo. Nem que tivesse de morar embaixo da ponte, mas não ficaria no mesmo lar que um homem tão perverso quanto ele. No entanto, não podia, mais pessoas precisavam de mim.
Não era fácil ser uma Moreira.
Há algum tempo, minha família tinha prestígio e era bem-vista por todos, até que meu pai e irmã começaram a tropeçar em suas próprias armadilhas. De filha caçula e recatada do prefeito, eu me tornei a filha do bandido corrupto e irmã da advogada mau-caráter. De coitada, eu passei a ser encarada como a próxima Moreira capaz de cometer o crime do ano. Era como se eu tivesse um alvo nas costas o tempo todo.
Nunca me vangloriei ou achei que era melhor do que alguém pelo fato de ter sido concebida pelo político. Na verdade, até poderia parecer ingratidão, mas se pudesse escolher, preferia ter tido outro pai ainda que essa possibilidade jamais tivesse sido cogitada, uma vez que minha mãe sempre foi uma esposa fiel, diferente dele.
Enquanto eu crescia, Vânia e Olegário — a nossa governanta e o seu marido, também nosso motorista — eram o mais próximo do que eu tinha de uma família normal. Não tiveram herdeiros, então projetaram em mim o amor do tão sonhado filho. Era muito grata aos dois. Se hoje tinha forças e lucidez para cuidar da minha mãe era porque eles tinham me sustentado em cada momento em que precisei.
Não consegui fazer uma faculdade e isso era um fato que dividia as minhas emoções. Por um lado, sentia-me cumprindo a tarefa de boa filha e fazendo de tudo para o bem-estar da minha mãe. Quando seus sintomas se agravavam, eu morria de medo de ela tentar algo contra a própria vida, como já tinha ocorrido. Desde então, nunca mais me senti segura por deixá-la sozinha por muito tempo.
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[DEGUSTAÇÃO] - A PROTEGIDA DO COWBOY | FAMÍLIA ALBUQUERQUE: LIVRO 3
ChickLitCASAMENTO POR CONVENIÊNCIA + SLOW BURN + MOCINHO PROTETOR + MOCINHA INDEFESA E DESBRAVADORA + HOT Artur é o caçula dos irmãos Albuquerque. Um veterinário descomplicado, tranquilo e apaixonado pela fazenda. Desejado pelas mulheres de toda a região, n...