Capítulo 4

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Rebeca

Artur me analisava com minúcia, como se fosse capaz de me ler a partir de um suspiro. Temendo ser descoberta, coloquei-me de pé com cuidado, sentindo minhas costelas reclamarem.

Sem dar tempo de me afastar, ele fez o mesmo, segurando a minha mão com sutileza. O contato espalhou uma onda poderosa em meu corpo, eletrizando-me inteira.

— Espera. — Sua voz saiu baixa, mais grave do que o normal. Parecia estar se contendo e aquilo me fez ter uma vontade absurda de beijá-lo.

Meu olhar percorreu do toque da sua pele na minha até encontrar o olhar brilhante e perturbador, em uma mistura de verde e mel. Bonito o suficiente para me fazer esquecer de que precisava fugir.

Senti o calor espalhar pelo meu corpo e cada pelinho arrepiar com a intensidade daquele momento. Artur era um homem incrível, e eu o admirava. Suspirei, tentando conter uma vontade absurda de contar tudo, me jogar em seus braços e chorar, colocando para fora o vulcão de sentimentos que me assolava.

Eu não podia sequer cogitar envolvê-lo em uma bagunça tão grande quanto a que eu me encontrava. Não me perdoaria jamais se algo de ruim acontecesse a ele.

Era paradoxal e me confundia, mas ao mesmo tempo em que eu sabia que ele ainda desconfiava de que eu pudesse ter a mesma índole da minha irmã, Artur me fazia ter a sensação desconhecida de estar protegida.

Tentei não tremular a voz ao dizer:

— Já está tarde. Preciso ir.

Pareceu clichê, naqueles livros em que a mocinha foge do mocinho, e quem sabe fosse. Talvez eu estivesse tão mergulhada no caos que as poucas válvulas de escape que eu tinha fosse a minha imaginação e os livros que papai não me permitia ler, mas fazia escondido.

— Ei, espera! — ele pediu.

Meu coração estava acelerado, eu só queria sair de perto dele antes que não aguentasse mais e me acabasse em lágrimas. A angústia travava minha garganta e congestionava minhas narinas. Estava a um passo de chorar.

— Artur... — chamei quase como uma súplica.

Não sabia o que sentia, apenas que estava forte demais. Por um segundo, achei que poderia estar rolando um clima entre nós, até a sua voz explodir a minha bolha.

— Não faça movimentos bruscos — alertou, baixo. — Mas tem um sapo ao lado do seu pé.

Demorei uns segundos para a imagem gosmenta do bicho se materializasse em minha mente e eu finalmente compreendesse sobre o que ele se referia. Virei o meu olhar para o lado e notei o anfíbio marrom, papudo e imenso. Um arrepio horrendo subiu pela minha coluna e espalhou pelos membros. Daquela vez, não era nada bom.

— O quê? — gritei, só então tendo o reflexo de dar um mini salto em sua direção, sendo recebida pelos braços fortes, quentes e muito, muito cheirosos.

Não foi intencional e senti meu rosto corar tamanha vergonha por ter sido tão ingênua ao achar que pudesse rolar algo entre nós. Entretanto, tudo evaporou dos meus pensamentos quando senti a mão grande alisar as minhas costas com carinho, afastando-nos calmamente do animal.

Artur

O cheiro de flores me invadiu outra vez, fazendo-me inalar com mais intensidade. Quando percebi, minhas mãos subiram de sua cintura para as costas delicadas, puxando-a para mim, querendo prolongar ao máximo aquele toque gostoso.

O vento trouxe alguns fios revoltos em direção ao meu nariz, deixando-me ainda mais inerte. A boca secou, o coração acelerou e meus braços a trouxeram para mais perto de mim. Como se compartilhasse da mesma emoção, Rebeca se manteve cativa em meu abraço, pousando a cabeça em meu peito.

O tempo parou ao nosso redor. Nada mais importava, a não ser o modo como parecia tão certo estarmos ali.

Os gritos das crianças assustaram-na, fazendo-a se distanciar, envergonhada. Deixando-me encantado por seus movimentos, ela levou as mãos ao rosto, abaixando a cabeça levemente ao tentar se justificar:

— Desculpe-me, não estou acostumada com uma natureza tão selvagem. Na minha casa nem temos um cachorro, então ver um sapo tão de perto me assustou.

Sua reação teria sido divertida, se eu não continuasse completamente absorto por tudo o que senti naquele momento.

Tudo se apagou, deixando de lado qualquer suspeita ou preocupação. Sem verbalizar nenhuma palavra, fui guiado pelo instinto. Com gentileza, colei seu corpo ao meu, notando os olhos de Rebeca arregalados e a respiração errática. Sem pedir licença, convidei-a silenciosamente para uma dança diferente de todas as outras que já tinha tido. Calma, repleta de entrega e sentimentos ao som marcante da música Promete do Luan Santana.

Eu não sabia, mas aquela música era como uma espécie de declaração do que eu me tornaria para Rebeca. E ela para mim.

Se o mal chegar entro na frente pra te proteger

Eu te amarei por mil e um motivos

Vou perguntar baixinho ao pé do ouvido:

Promete que vai ser só minha? Que vai me entender num olhar?

Promete que vai visitar os meus sonhos de noite à luz do luar?

Guiei nossos corpos no ritmo cadenciado da música, aproveitando o calor do seu corpo contra o meu e o seu perfume inesquecível.

Quando meus irmãos me contaram que sentiram seus corações baterem fortes por suas mulheres, achei que era besteira, o tipo de coisa que só acontecia com gente apaixonada. E eu não estava apaixonado.

Todavia, com Rebeca em meus braços eu sentia o peito agitado, o sangue bombeando com tanta intensidade a ponto de me deixar ansioso e com a respiração entrecortada. Eu nunca tinha sentido isso com nenhuma mulher antes. Era intenso, diferente e assustador.

A música acabou, e antes que eu pudesse raciocinar, Rebeca se afastou caminhando depressa na direção do irmão, me deixando em uma profunda bagunça de sentimentos.

Meio disperso, vi quando se despediram rapidamente, entraram no carro e foram embora quase fugidos.

Coloquei as mãos nos bolsos frontais da calça, olhei para o chão analisando tudo o que tinha acontecido naquela noite. Embora estivesse muito preocupado com Rebeca, não pude conter um sorriso quando aquele calor gostoso se espalhou pelo meu peito.

Levantei o olhar novamente e encontrei a minha família me encarando de longe ao lado de Joe que apontou dois dedos para os próprios olhos e em seguida para mim como se dissesse que estava me observando.

Ri. Estava ferrado. Seria o motivo de assunto por uns três meses.


[DEGUSTAÇÃO] - A PROTEGIDA DO COWBOY | FAMÍLIA ALBUQUERQUE: LIVRO 3Onde histórias criam vida. Descubra agora