Amor Secreto - Parte Dois

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 Luciana permaneceu sentada sobre o tecido para que Pedro dormisse, apesar de murmurar e se mexer muito, ocasionalmente, ele se virava de lado e estendia o braço, de forma inconsciente, como se procurasse algo. 

 Luciana ignorou as tigelas de sopa rala e as canecas de água que os carcereiros enfiavam na cela; apenas ficou sentada com as costas na parede, tentando ver qualquer maldita falha da porta e entender a troca de turnos. Ela conseguiu arrancar a alça de ferro de um dos baldes e tentou moldá-la com as mãos, esperando usar para raspar a grade ou quebrar a fechadura. Procurou pedras soltas na parede para tentar sair. Mas, no fundo, ela sabia que não a deixariam sair inteira lá de dentro.

 Quando a noite caiu, a dama já tinha desistido de suas ideias de fuga, dedicando-se a trançar os próprios cabelos enquanto chorava baixinho ao pensar em Martina. Foi mais ou menos nesse horário que Pedro acordou, provando que seus hábitos de morcego não são saudáveis ou adaptáveis para um homem.

 — Vai deitar… — Bocejou, indicando o palheiro amassado — Você não comeu nada o dia todo?

 Luciana não respondeu, apenas apontou para as tigelas guardadas e deslizou para o palheiro, emaranhando suas trancinhas. Mesmo que tentasse comer, provavelmente vomitaria logo depois pelo nervosismo.

 — Luzita… Isso não é bom.

 Ela ignorou a represália, tentando dormir para esquecer aquilo tudo.

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 — NOS OUTROS É BOM, NÃO É?

 O grito veio seguido de um som de estalo e de carne cortada, despertando Luciana.

 Diversas figuras indistintas corriam pela prisão e lutavam uns com os outros, fazendo sangue manchar as paredes de pedra. Mais quatro homens cuidavam da porta, empunhando machados.

 A prisão foi projetada para que ninguém lá de cima ouvisse os lamentos e gritos, tornando impossível chamar ajuda sem passar pela porta. Era para ser funcional, mas se tornou um grande problema devido ao pequeno massacre acontecendo ali dentro.

 A porta de sua cela estava fechada, mas Pedro havia sumido. Luciana ergueu-se com dificuldade, tirando palha dos cabelos, para tentar abrir a cela, que não estava trancada com o cadeado, mas rangeu ao abrir, chamando atenção de um dos homens. Apesar de ele tentar correr na sua direção, foi atingido friamente por um tijolo que não se sabe quem jogou.

 Ao olhar aquelas pessoas, percebeu que eram os prisioneiros lutando contra os guardas, o que deixou Luciana assustada, já que nunca havia sequer ouvido relatos de fugas conjuntas sob o palácio. Preferiu ficar com um tijolo na mão e procurar o rosto familiar de Pedro em meio ao alvoroço, mas o que viu foi surpreendente e conseguiu sanar (uma parte) de suas dúvidas.
 
 Manuel.

 Ele havia visto o guarda do exterior poucas vezes, mas sua estrutura pequena, mesmo na armadura, era fácil de identificar em meio aos brutamontes que se chamavam por carcereiros. Luciana conseguiu acertar um deles no ombro, facilitando para que um prisioneiro desconhecido cravasse uma adaga no pescoço dele.

 Degolados, mutilados, espancados, nocauteados, sufocados, os carcereiros foram mortos por homens e mulheres com suas roupas maltrapilhas. Apesar de tudo o que viu acontecer na cadeia, sentiu uma súbita pena das famílias que eles poderiam ter deixado.

 — DEEM INTERVALOS DE QUINZE MINUTOS PARA AS SAÍDAS! TRÊS DE CADA VEZ POR TRÁS DOS BARRIS!

 A voz de Pedro reverberou pelas pedras, fazendo Luciana ir atrás dele. Pedro parecia ter conseguido uma nova cicatriz, além de ter sangue manchando sua roupa, mas seus olhos brilhavam com uma animação insana. Todas as celas úmidas estavam vazias e com a porta escancarada.

 Sem dizer uma única palavra, os três seguiram pelo corredor subterrâneo acessado por trás dos barris, rumo à liberdade fria do lado de fora. Pedro mancava a cada passo, mas seguiu Manuel por todo o caminho escuro em que se meteram.

— Andem com cuidado, isso é um corredor usado para os carcereiros irem para a taverna em horário de trabalho, então é bem precário.

 A voz de Manuel parecia morta, sussurrando pelos vincos na pedra. Luciana segurava seu vestido com força ao caminhar, sem nenhum resquício de sono ou fome, mas com o corpo palpitando de ansiedade.

 Alguns metros depois de uma tocha apagada, a escada de madeira se erguia, íngreme e levemente roída. O primeiro a se agarrar nela para subir foi Manuel, dizendo para Pedro segurá-lo caso ele caísse; Luciana subiu logo depois, sentindo o ar ficar cada vez mais frio, e Pedro foi logo aos seus pés.

 Protegidos apenas por alguns caixotes, sentiram o frio cortando-os assim que saíram do túnel. O plano era contornar os caixotes de madeira e ir para a frente da taverna, Luciana tinha a esperança de que Martina estivesse a salvo.

 No fim, talvez Luciana estivesse errada, já que Martina estava numa rua fria, ou talvez estivesse certa, pois a princesa tinha um sorriso genuíno no rosto ao esperá-los com uma carroça.

 Martina pulou de cima da carroça e correu até os fugitivos, agarrando Luciana com toda a força que seus braços delicados escondiam, sem dizer nada. Ela estava viva, estava inteira, talvez não estivesse bem, mas seu semblante sorridente iluminava a madrugada.

 — Vamos, meninas, e Pedro, temos um longo caminho.

…………………………………..

 — Manu, para onde você está nos levando?

 Pedro, sentado em um bloco de feno, segurava o curativo em sua perna, que havia sido esfaqueada.

 Os quatro passaram a madrugada viajando para fora do reino, usando uma carroça simples e cheia de fenos, cavalos cinzentos e os casacos escuros de Pedro e Manuel para se disfarçarem. Segundo Martina, sua mãe mandou uma mensagem por falcão para um grande “Centro de Moças”, onde ela deveria ir caminhando e passar uma semana lá. A Rainha só não sabia que Martina saiu de casa com a mensagem na bolsa e prendeu o falcão em uma gaiola de papagaio.

 Luciana riu bastante ao imaginar o falcão com um passarinho, mas se sentiu aliviada por ter Martina de volta em seus braços, sem se importar de verdade com o lugar para onde estavam indo. Encostadas no fardo de feno, elas admiravam a planície nevada brilhando, sendo interrompida, ocasionalmente, por lebres saindo da toca.

 — Vou levar vocês para além das montanhas, no lugar onde eu nasci. Podem atravessar o Mar se quiserem, ninguém vai nos procurar lá.

 Pedro sorriu, olhando para as montanhas que se perdiam no oeste e ficavam mais próximas a cada passo do cavalo. Luciana sabia que não seria fácil, mas a única coisa que realmente importava para ela estava ao seu lado, e ela não perderia seu amor por nada.

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Ok, eu postei o fim da brarg week 2023 em 2024 mas tudo bem, eu teria alongado o capítulo, mas ia demorar MUITO pra postar😭

Brarg Week 2023Onde histórias criam vida. Descubra agora