𝗖𝗔𝗣𝗜́𝗧𝗨𝗟𝗢 𝗨𝗠

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Notas do autor: Oi!! Eu gostaria de deixar algumas pequenas coisas esclarecidas aqui. Muitos leitores começam a ler uma fanfic com a expectativa de encontrar um hot bem feito, porém se você procura por um hot, lamento dizer que você não vai encontrar nessa fanfic. Pode até ser que eu faça umzinho, mas a probabilidade não é muito alta. Quero focar mais na estória e deixar esse detalhe de lado por enquanto. Não seja aquele leitor que só sabe cobrar capítulos, é chato! Assim como vocês, eu também tenho minhas responsabilidades fora da plataforma, e nem sempre vou ter tempo pra escrever. Votar também é muito importante! Vou entender que você gostou da estória e vai me dar ainda mais disposição pra continuar. ^^

Boa leitura!
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Pensei que a pior coisa seria ficar presa em uma sala barulhenta cheia pessoas, mas a pior coisa é ver minha mãe chorar e não poder fazer absolutamente nada para ajudar. Ela não merecia passar por aquilo, e nem merecia está chorando por causa de um homem que acabou com seu psicológico. Foram anos de pura tortura. Anos sendo tratada como um cachorro pelo próprio marido. Eu não esperava que eu a entendesse, afinal eu era somente uma adolescente que nunca deu seu primeiro beijo ainda.

Ela estava sentada no banco em frente a nossa casa. Cobria seu rosto com as duas mãos e fungava sem parar. Queria entender o porquê de tanto choro por causa de um homem como meu pai. Ela o amava tanto assim? Mesmo com toda aquela tortura, ela ainda o amava.

Robert, meu pai, não era um homem bom. Gostava que as coisas saíssem do seu jeito, e caso ao contrário, você sofreria uma punição. Era controlador, manipulador e extremamente machista. Fazia todas as mulheres ao seu redor se sentirem inferiores. Aquilo chegava a ser engraçado pra mim. Como um mero homem poderia se sentir um semideus diante uma mulher?

Eu realmente gostaria de entender o que levava ele ser assim. Era algum trauma do passado? Se sim, por que não tratou logo de pedir ajuda? A questão era que ele era orgulhoso e narcisista demais, se recusava a pedir ajuda, por mais que ele precisasse. Acredito que isso não anula o que ele fez com a minha mãe. Além de agressões, minha mãe era forçada a fazer sexo com ele todas as noites.

Era aterrorizante pra mim. Eu sempre ia pra cama mais cedo, porque era doloroso ouvir os gritos de dor da minha mãe. Era difícil pra mim acordar de manhã e dar de cara com meu pai agindo como se não tivesse feito nada, mesmo sabendo o que ela fazia com ela.

Nunca tive coragem de dizer um "a" pra ele, ou tentar questionar ele por aquela atitude nojenta. Afinal, se ele fazia tudo aquilo com minha mãe, o que lhe impedia de fazer comigo também? Talvez aquele meu pensamento fosse egoísta demais.

Agora, minha mãe chorava desesperadamente pelo término. Pensei que depois de tantos anos, ela estaria feliz por se livrar daquele monstro.

Eu não tive coragem de mover um músculo para ir até lá e se sentar ao seu lado, apesar de querer. Eu sentia vergonha. Eu poderia ter feito algo pra ajudá-la há anos, mas preferi manter o silêncio e agir como se não estivesse acontecendo nada. Eu não teria coragem o suficiente para olhar em seus olhos, que uma vez já foi tão brilhantes como as estrelas no céu.

Às vezes eu fecho os olhos, e me lembro de quando minha mãe ainda era feliz. Seu olhar era puro e inocente. Seu sorriso era radiante, e fazia o dia de qualquer um. Me lembro de acordar de madrugada procurando pela minha mãe, e ficando com medo por não encontrá-la, mas eu sempre a achava dançando no quintal de nossa casa. Em seu rádio que eu mesma lhe dei de presente. Ela fechava seus olhos, e dançava alegremente, balançando seu vestido de um lado para ao outro.

E sempre que eu chegava, ela vinha em minha direção e me puxava pra dançar. Até que um dia eu resolvi perguntar à ela o porquê dela sempre dançar no quintal aquela hora. Me lembro perfeitamente de seus olhos brilhando enquanto ela falava: "É a hora que a lua me convida pra dançar, e as estrelas cantam ao som da música".

Mamãe adorava o céu, mas principalmente, a lua e as estrelas. Ela sempre me falava que conversava todos os dias com a lua e com as estrelas. Ela me dizia que a lua era atenciosa, mas muito confusa. E que as estrelas eram brincalhonas.

Hoje ela mal sai para ver o céu. Seu rádio está abandonado no sótão. Seus vestidos estão desgastados. O brilho em seus olhos desapareceram. O seu sorriso é falso. E a lua, assim como as estrelas, entraram em uma solidão sem fim.

Perdida em minhas memórias, ouvi o doce som da chuva bater no telhado. Ela continuava lá. A chuva se misturava com suas lágrimas. Minhas mãos se fecharam em um punho, logo pude sentir minhas unhas cravarem em minha pele. Mordi meu lábio inferior, reunindo forças para ir até lá. Puxei e soltei o ar inúmeras vezes. Até que sai de casa. Meu corpo se arrepiou quando os pingos de chuvas começaram a deslizar sobre o meu corpo.

Me sentei cautelosamente ao seu lado. Meus lábios se abriram e fecharam, procurando algo em que eu pudesse dizer à ela.

── Mamãe, está frio aqui fora. - murmurei timidamente, cravando ainda mais minhas unhas na palma das minhas mãos.

Ela me lançou um olhar tristonho. Seus olhos estavam em um vermelho exorbitante. Seus lábios perfeitamente alinhados, se curvaram num sorriso forçado. Ela fungou algumas vezes, limpando as lágrimas teimosas que insistia em escorrer por sua pele pálida. Peguei em sua mão e ajudei a levantar. Andamos de mãos dadas até dentro de nossa casa.

Ela estava encharcada e, pra evitar que pegasse um resfriado, ela tomou um banho quente. Separei uma roupa para ela e deixei em sua cama.

Acompanhei com o olhar minha mãe ir até a cozinha e voltar de lá com uma simples maçã em mãos. Ela se sentou ao meu lado, concentrou-se no que passava na tv em nossa frente. Eu queria perguntar à ela o porquê de tanta tristeza, mas o medo da resposta era ainda maior que minha curiosidade. Notei que seus braços estavam marcas de arranhões, provavelmente feitos por ela mesma em um momento de surto.

Não me atrevi a olhar pra ela. Queria evitar olhar em seus olhos.

── Vamos nos mudar. - disse ela de repente, sem tirar os olhos da tv.

Fitei seu rosto em confusão.

── O que disse? - perguntei.

Seus olhos encontraram os meus, e pude sentir um arrepio percorrer por todo meu corpo. Seus olhos estavam um pouco inchados, mas isso não me assustava, o que me assustava era que estavam sem brilho algum. Não que tivessem algum brilho antes, mas parecia ainda mais triste.

── Eu sei que vai me falar que tem amigos aqui e que não quer deixá-los, mas eu não posso ficar aqui. Quero esquecer de toda essa angústia. Não vou conseguir seguir minha vida normalmente se continuar nessa cidade. Vou continuar me lembrando do que passei aqui. - disse ela em um fôlego só.

Eu me aproximei de seu corpo, abracei ela de lado e deixei um beijo em sua cabeça. Ela afundou seu rosto em meu pescoço.

── Está tudo bem. Nada é mais importante que você, mamãe. Se mudar de cidade vai trazer sua felicidade de volta, então estou disposta a abandonar tudo por ela.

Senti suas lágrimas molharem minha roupa, e a abracei fortemente. Senti que aquele momento seria uma boa hora para me desculpar, então resolvi arriscar.

── Me perdoa... - sussurrei, lutando contra a vontade de chorar. Ela levantou sua cabeça para me olhar. ── Eu deveria ter tentado, deveria ter impedido ele de fazer aquela coisas horrorosas com você.

Suas mãos gélidas tocaram minha bochecha, as acariciando.

── Não se culpe por algo que não é culpa sua. Eu não estou raiva ou nem nada do tipo. Estou feliz que está bem e que ele não fez nada com você. - ela colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha. ── Acabou meu bem.

── Por que estava chorando tanto?  Se está aliviada que tudo acabou, por que chorava por ele ter ido embora?

Ela apertou seus lábios.

── Porque apesar de todas essas coisas nojentas que ele fazia comigo, eu ainda o amo. Eu não queria amar ele assim, mas por algum motivo esse sentimento não sai de mim. Mas não se preocupe, eu vou superar isso.

── Vamos superar isso juntas.

𝗧𝗨𝗗𝗢 𝗣𝗔𝗥𝗔 𝗗𝗔𝗥 𝗘𝗥𝗥𝗔𝗗𝗢 ━━ ᴊᴇɴɴᴀ ᴏʀᴛᴇɢᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora