Capítulo 1

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Eu nunca entendi bem por qual motivo tantas pessoas se queixam de seus relacionamentos e mesmo assim permanecem ali. Nunca tive motivos para reclamar do que tenho, talvez eu seja uma mulher muito conformada ou talvez eu seja apenas uma apreciadora da minha realidade. Moro em uma bela casa, trabalho com o que amo e recentemente me casei com a garota dos meus sonhos. Tudo isso com incríveis 29 anos, poderia dizer que me dei muito bem na vida.

  Bom, eu sou muito positiva, gosto de olhar para o lado bom das coisas, mas não posso ignorar a realidade. E minha fatídica realidade é que minha esposa me odeia.

  Infelizmente não tem nada que eu faça para que  ela mude de ideia ao meu respeito, não tem absolutamente nada que é possa fazer que a faça gostar novamente de mim. Todo e qualquer amor e admiração que ela tinha por mim acabou no momento em que assinou aqueles papéis.

Eu queria tanto que ela entendesse que não tive culpa, que tudo que fiz foi pensando nela, tentando ajudá-la. Mas agora as minhas palavras não significam mais nada para ela. E agora convivo com a pessoa que mais amo mas que me olha com tanto desprezo e raiva.

—Olha só, chegou cedo hoje. Quer se sentar e almoçar comigo?— tive meus devaneios atrapalhados pela minha adorável esposa que tinha acabado de chegar em casa. Ela tinha seu próprio ateliê de pintura e costumava passar horas  e horas lá, mesmo que não fosse solicitado e encomendado nenhum quadro a ela.

—Nem morta

—E porque não? Poxa, nunca almoçamos juntas

  —Porque não sei se é perceptível, mas não quero ficar perto de você— ela nem sequer olhava para mim, mesmo na cozinha lavando as mãos a poucos metros de mim, ela simplesmente ignorava a minha existência.

—Ate quando vai me tratar assim? Cacete eu já disse um milhão de vezes que tudo que fiz foi tentando ajudar!

—Ah claro, que conveniente, convencer meus pais a me casar com você foi sua única e genial ideia para ajudar né?— pela primeira vez desde o início daquela "conversa" que ela decidiu me olhar

—Tudo que fiz Chaeyoung, foi na intenção de tentar ajudar você e sua família

— vem cá Mina, me responde uma coisa vai— não precisava nem encara-la pare perceber o desdém em suas falas enquanto inclinava seu corpo na mesa a poucos centímetros de mim— É comum da sua família tratar seres humanos como objetos a venda?

—Não foi essa a minha intenção com tudo isso

—claro que não, você é um ser humano incrível não é mesmo?—foram as últimas palavras dela antes de se afastar e subir as escadas provavelmente indo em direção ao quarto dela.

É estranho em vários níveis o fato de sermos casadas mas dormirmos em quartos diferentes. Mas eu reconheço que é muito mais estranho o fato da minha esposa me odiar.

  Mas não tenho culpa do ódio que adquiriu por mim. Meu único erro foi achar que ela iria gostar da ideia e continuaria gostando de mim.

Bom, para minha infelicidade hoje é meu dia de folga, e não tenho nada de interessante para fazer fora de casa, então eu vou passar o dia em casa com o ser humano que se pudesse me mataria.

Como sou uma pessoa insistente, me vejo na obrigação de concertar isso, antes que acabe ficando ainda pior do que já está. Como disse, sou uma pessoa positiva então tenho certeza que com o tempo ela vai lidar melhor com a situação toda.

Eu sei que não tive culpa e tudo que fiz e faço é para tentar ajudar.

A dois anos atrás os pais da Chae perderam tudo ao investir todos os seus bens em fundos imobiliários que depois de alguns dias foram a falência, por causa disso a família dela ficou sem nada, eles perderam tudo por causa desse investimento fracassado. Em decorrência disso a mãe dela entrou em depressão e o pai começou a pegar dinheiro emprestado com todo mundo, inclusive com agiotas, o que só fez piorar a situação e fez com que a família toda dela fosse ameaçada de morte.

Nessa época eu já era amiga chae de longa data, nos conhecemos ainda no colegial. Fiquei muito preocupada com toda a situação quando ela me contou e disse a ela que deveria mandar o pai dela procurar o meu para explicar a situação e vê se conseguiríamos ajudar de alguma forma. Já que minha família sempre teve uma condição financeira bastante favorável já que o negócio da família era dirigir o maior escritório de advocacia da cidade.

  Lembro-me de que quando cheguei em casa do shopping naquele dia depois da Chae ter me dito tudo isso esperei meu pai chegar em casa e conversei com ele a respeito. Eu praticamente implorei a ele para que interviesse de alguma forma e fosse ajudar. E ele acabou aceitando por saber o quanto eu gostava dela.

No outro dia meu pai havia me dito que se encontrou com o pai dela e os dois conversaram.

A princípio, o ideal era que o pai da Chae arrumasse um bom emprego e pagasse sua contas com o tempo, mas não seria possível por causa do valor exorbitante de suas dividas.

  Meu pai concordou em emprestar a ele o valor de 6 milhões de wons para que pudesse pagar suas dívidas e lhe daria um emprego na sua empresa. Mas, para que não comprometesse totalmente o seu salário, ele poderia pagar aos poucos a longo prazo o valor que lhe seria emprestado.

Mas meu pai queria garantias, sempre foi um homen desconfiado e analítico, precisava de certezas, certeza de que o homem não sairia do trabalho e fizesse outra besteira o impedido de pagar o que foi emprestado. Meu pai queria uma certeza de que ele lhe pagaria independente de quanto tempo demorasse, mas não tinha nenhuma. O pai da chaeyoung sempre foi muito volátil, nunca dava para saber o que ele iria fazer, o que para meu pai era uma coisa ruim.

Meu pai pensou, pensou, e pensou. E no final, a ideia que havia surgido para ele era que eu me casasse com Chaeyoung e depois fossemos morar em uma casa no nome dele. Assim Chaeyoung estaria totalmente segura das ameaças de agiotas e livre de problemas financeiros, mas também estaria debaixo da tutela do meu pai. O que provavelmente daria "ânimo" suficiente para o homem trabalhar e pagar a sua dívida.

Chaeyoung serviria como penhor entre os dois homens.

Sim, para mim no início também foi uma ideia completamente absurda, mas comecei a pensar a respeito e cheguei a conclusão de que poderia dar certo. Poxa éramos melhores amigas a anos, e casamento é só um pedaço de papel e ainda iríamos morar em uma casa muito boa, e juntas! Poxa poderia ser muito legal.

Quando pensei em tudo isso me empolguei com a ideia, no dia seguinte eu e meu pai fomos a casa da família son e conversamos a respeito.

De imediato o pai dela aceitou quando soube do valor que seria lhe dado, a mãe dela ficou meio balançada com a ideia mas se absteve de se opor porque sabia que precisava do dinheiro.

E a Chae por outro lado...porra ela ficou transtornada. Me chamou de louca e idiota por cogitar uma ideia daquelas e que era um completo absurdo, que acabaria lhe privando de ficar com alguém que realmente ame.

Isso doeu, quase tanto como no dia que a vi beijando o monitor de classe da faculdade.

Deveria ter colocado em prática o mantra de: nunca se apaixone por uma garota hétero. E se eu já não tinha chances antes pelo simples fato dela ser hetero, elas se tornaram piores agora que ela me odeia.

Infelizmente no dia em que voltamos da casa dela depois de toda a conversa, voltei naquele dia com a certeza de que iria me casar e que tinha acabado de perder minha melhor amiga.

Casamento arranjado  [michaeng]Onde histórias criam vida. Descubra agora