Capítulo 6

160 16 11
                                    

"O encontro de duas personalidades, que deixam como que um rastro de si mesmas, é algo absolutamente essencial para a vida. Não há vida sem encontro, e não há encontro sem confronto."
Martin Buber

Já é por volta das duas da tarde quando saio novamente do prédio onde estou hospedada. Tenho o cuidado de me vestir com roupas adequadas a essa cidade e de tentar parecer o mais discreta possível.

Com a minha máscara de boa menina ativa, pergunto sobre os falecidos de forma discreta para algumas pessoas, conversando de forma sorridente e animada, deixando claro que sou apenas uma turista curiosa. Isso tudo até eu sentir que estou sendo observada.

Meu sorriso morre e dessa vez, não tento disfarçar ao procurar de onde está vindo essa sensação.

Meu corpo sofre um arrepio intenso ao ver de relance, uma figura extremamente alta passar próxima a mim.

Um homem vestido com um sobretudo, botas pesadas e um conjunto de roupas elegantes. Seus cabelos estão bagunçados e o seu perfume deixa um rastro por onde o mesmo passa. Perco o rumo do que a mulher local estava dizendo quando o mesmo entra no carro e antes de ir, tira seus óculos e me revela dois pares de olhos em um verde escuro, não qualquer verde, mas o verde que eu vi apenas uma vez, no menino doce e ingênuo que eu matei.

Fica difícil controlar a tremedeira que se arremete em mim, mais difícil ainda quando percebo que ou estou ficando muito louca, ou ele nunca esteve morto. Ou pior, que aquele fosse um de seus irmãos, o que por Deus, eu estaria em sérios problemas se fosse o caso.

Tento focar novamente no que a mulher está dizendo, mas não consigo. Me despeço com uma desculpa esfarrapada e corro para qualquer um dos estabelecimentos a fim de tentar me distrair.

Meu corpo treme mais que vara verde e não consigo evitar os pensamentos conflituosos que invadem minha mente. O garçom vem falar comigo, mas minha cabeça está pesada e mal consigo compreender o que o mesmo diz.

-Fala inglês?-Pergunto para o mesmo que acena em positivo com a cabeça.-Gostaria de alguma bebida gelada por favor.-Digo para o mesmo que acena com a cabeça.

Me surpreendo quando vejo lágrimas escorrendo de meus olhos. Lágrimas de arrependimento talvez? Amargura? Medo?

Mal consigo beber a bebida que chegou, pois minhas mãos tremem muito. Por Deus? Ele era apenas um homem! Por que diabos me causou esse imenso choque?

Demora muito tempo até que eu volte a razão completa e mais tempo ainda para que eu me sinta segura o suficiente para poder voltar para o local onde estou dormindo.

É tarde da noite quando não consigo dormir direito. Com os pensamentos a mil, fico pensando e relembrando dos momentos naquela ilha, procurando uma brecha para convencer a minha cabeça de que é impossível aquele homem e aquele menino que matei, serem a mesma pessoa.

o ar gélido que entra pela janela bate em meu rosto no momento que sinto que algo não está certo.

Me levanto em um pulo silencioso da cama e receosa, ponho meu rosto na porta. Meu coração acelera ao ponto de ser ensurdecedor e de forma rápida e ágil, ponho outra roupa e pego algumas facas, dinheiro, documentos e todos os itens de minha investigação, os pondo em uma bolsa. Guardo meu celular em minha cintura, para não correr riscos. Não sou louca de ir averiguar a situação e muito menos de ver se as pessoas lá estão bem. Quem se importa com todo mundo sempre acaba morrendo primeiro, e eu prefiro sair dessa história como uma vilã viva do que como uma heroína morta.

Pulo para o vão que sustenta os telhados da casa no momento em que vejo alguém tentando abrir a porta do meu quarto, comprovando minha teoria. Os malditos estão tentando me matar. Mais um dia comum na minha vida.

 Desejo Profano  (Trilogia Os Irmãos Lancelotti)Onde histórias criam vida. Descubra agora