Brasil - Baía do Sancho

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Finalmente encontrei um lugar onde eu posso relaxar e sair um pouco desse mundo competitivo da fórmula um, mas nunca por muito tempo. Ser o tricampeão às vezes cansa um pouco, mas não é tão ruim assim, devo confessar, ser o centro das atenções pode parecer sufocante - e é -, porém eu gosto.

Só que algo tem me incomodado desde que ganhei a competição... todos os olhos estavam em mim, menos um par de olhos verdes. Não sei por que isso me incomodou tanto! Não ter a atenção dele quando terminamos a corrida me deixou tremendamente mal, mas acho que ele estava ocupado demais.

Eu estou no Brasil, pelo menos nessa semana. Felipe chamou quase todos os pilotos para passarmos uma semana aqui, ele convidou até os outros brasileiros do grid, que no caso é só o Enzo Fittipaldi, de qualquer maneira, eu vim junto com alguns outros pilotos, entre eles, o dono do par de olhos mais lindo do mundo.

Estamos em uma praia deserta e o calor está realmente surreal, mas por incrível que pareça, as noites aqui estão frescas, então eu geralmente faço minha caminhada nesse horário, e hoje não está sendo diferente. Meus fones estão conectados ao meu celular e estou ouvindo uma playlist que o Felipe me disse que era para ouvir e entrar no clima brasileiro.

Quando cheguei ao final da praia, olhei para a casa que Felipe tinha alugado para todos nós, a casa estava cheia e todo mundo rindo e gritando, fazendo brincadeiras, nadando na piscina, mas eu não estava lá, eu queria um pouco de calma para pensar. Olhei mais a frente, notei algumas pedras e decidi subir.

- Ô carai - quase caí.

Subi nas pedras e sentei, olhei para o horizonte e a beleza natural daquela situação tornava tudo ainda melhor. Retirei os fones e deixei o celular tocando outra playlist, algo mais calmo e que me fizesse estar conectado com a natureza. Peguei minha garrafinha e tomei o restante do meu RedBull e apoiei minhas costas.

A música da casa desaparecia a cada segundo que passava, como se eu começasse a ficar imerso nos meus próprios pensamentos e então tudo começou a aparecer. Era como se os sentimentos que sempre escondi de todos, até de mim, estivessem gritando para que eu contasse a alguém sobre. Eu nunca fui de falar dos meus sentimentos para os outros, cresci em um ambiente familiar que era repressivo, então eu aprendi a não sofrer, e se algo sai errado eu fico com muita raiva... é, digamos que eu perdi uma amizade muito boa por isso.

Até esse ponto talvez eu até acredite que o que eu sinto é válido, não sei. Bom, são coisas da vida, eu escolhi o amor pelo esporte ao invés do amor e da paixão, não sei se terei outras escolhas como essa, não me arrependo, afinal, sou um tricampeão agora, mas eu bem que queria estar ao lado de quem eu amo nesse momento. E não, não é qualquer pessoa nesse mundo.

É ele! O garoto que nunca foi meu amigo na época em que corríamos juntos nos karts, mas com o tempo amadurecemos tanto que deixamos essas brigas lá atrás. O dono dos olhos mais lindos, olhos que têm tamanha intensidade que me perco neles todas as vezes que os olho. A risada mais contagiante, o sorriso mais alegre, a lealdade mais forte e com certeza o melhor caráter.

Eu sou apaixonado por alguém que eu sei que não posso ter e isso me corrói todos os dias, todas as vezes que eu quero largar tudo e comemorar minha vitória com ele de um jeito não amigável, mas sim romântico. Ninguém sabe como me sinto, muito menos ele... mas todos os dias que olho para aquele rosto, ouço a sua voz e seu sotaque francês, porra! Eu me apaixono cada dia mais. Ainda não acredito que estamos no mesmo quarto, nunca vou ter coragem de dizer a ele o quanto que eu o amo, é surreal.

Saio dos meus pensamentos quando ouço o barulho de galhos quebrando. Olho para o chão e vejo Charles sorrindo e segurando duas latinhas de energético, ri.

Baía do Sancho - LestappenOnde histórias criam vida. Descubra agora