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  1 capítulo
[Vitória]

Sabe aqueles dias que você só quer sumir, desaparecer para todo sempre?
Hoje é um desses dias.

Eu devo estar na minha penteadeira a uns 20 minutos parada olhando meu reflexo.
Meus olhos estão inchados por conta do choro, o nariz vermelho, e os cabelos molhados do banho recém tomado.

É estranho pensar nessa viagem desse jeito, como algo ruim, já que a uns três meses era a coisa em que eu mais estava ansiosa.

Deixe-me explicar melhor o contexto.
Estudo em um mesmo colégio desde sempre, onde quando os alunos se formam, eles recebem o direito de ter uma viagem de formatura em um acampamento.
Como cresci nessa mesma escola, sempre escutei diversas histórias relacionadas a essa viagem, e todos os tipos de histórias que você imaginar.
O que sempre me deixou muito ansiosa para o dia em que eu viajaria.
Sabe o que é ficar ansiosa para algo desde muitos e muitos anos antes, porque eu sei, já que estava ansiosa para ela desde do meu primeiro ano do fundamental.
E a pior sensação é não ter ninguém pra dividir a ansiedade, já que Anna Luiza, não ligava muito.
Mas isso mudou assim que entrei no nono ano, quando um garoto alto, loiro e muito bonito entrou no colégio.
Logo de cara nos aproximamos muito, no início apenas uma amizade, e mais tarde começamos a namorar.
E finalmente achei alguém para dividir minha ansiedade pelo acampamento.
Já que eu fiz tanto a cabeça dele com histórias de lá, que ele estava mais animado do que eu.
Para vocês terem uma ideia, tínhamos calendários compartilhados no celular, apenas com a contagem regressiva para a formatura.
Mas claro, nosso namoro não foi apenas isso, era um namoro perfeito, foram 3 anos perfeitos, e 3 anos jogados fora.
Quando eu falo que era perfeito, porque era, ele fazia tudo pra me ter perto, me ajudava no que eu precisasse, e dava os melhores presentes do mundo.
Até que descobri uma traição.
Você não esperou que fôssemos perfeitos pra sempre né?
Poisé, ele me traiu, três meses antes da viagem.
Sim, a mesma viagem que considerámos que era a "nossa viagem", aquela pela qual passamos 3 anos falando dela.
Isso me destruiu por completo, e está me destruindo, mas saber que hoje é o dia da viagem, a nossa viagem, e não estamos juntos.
Até pensei em desistir da viagem, já que a imagem desse acampamento me lembrava muito dele.
Mas além de já estar pago, eu nunca faria isso com a Luiza.

Luiza não pode nem ser chamada de apenas uma amiga, e sim uma irmã.
Nos conhecemos desde a creche, sem exagero algum.

E desde lá somos amigas, praticamente uma pessoa só.
Então desmarcar essa viagem é equivalente a enfiar uma faca no peito dela, já que ela está extremamente ansiosa para essa viagem.
Digamos que de um tempo para trás, elas começou a se interessar muito pela viagem, muito mesmo.

Volto a realidade já que tenho que estar pronta em mais ou menos uns 20 minutos.

Abro a gaveta da penteadeira atrás de uma escova de cabelo, mas invés de achar a escova, acho na verdade uma foto minha e do Gabriel em uma viagem de família.
Então óbvio que voltei a chorar, já que três meses inteiro chorando não eram o suficiente.

Enfio a nossa foto no fundo da gaveta e pego a escova, a deixando em cima da penteadeira.

Ir nessa viagem está sendo algo ruim, ruim não, agoniante de se imaginar.
Não, eu não superei ele nem um pouco.

Volto a olhar meu reflexo no espelho.
Um semblante totalmente triste e cansada, o que era estranho, já que sempre fui uma menina muito alegre.

A traição foi de quem eu menos esperava, e a pior de todas.

Limpo meu rosto molhado e começo a me maquiar antes que eu me atrase.

Percebo que estava no mundo da lua, quando volto para a realidade com a porta do meu quarto abrindo.

𝐎 𝐂𝐇𝐀𝐋É 𝐀𝐎 𝐋𝐀𝐃𝐎 | 𝐔𝐌 𝐑𝐎𝐌𝐀𝐍𝐂𝐄 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑Ã𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora