— Vem, estamos quase chegando.
O ser angelical continuava a guiar Crowley pela manga de sua toga preta. Que se conteve a dar apenas mais um suspiro irritado, não que ele estivesse realmente, mas não seria o Crowley se ele não fingisse um pouco de mau humor.
— Você disse isso a meia hora atrás, anjo. - O vento gelado da madrugada bagunçou seus cachos ruivos, algo que lhe fez resmungar mais uma vez — Tamo perdido, né?
— Não, não estamos. Eu só estou procurando… Ah! Achei. Por aqui.
Aziraphale pôs-se a caminhar para um local que ele deixou preparado com um pano forrando o chão, para eles não se sujarem com a neve baixa.
— Tá, Tá. Por que me trouxe aqui?
O anjo se sentou.
— Quero te mostrar uma coisa.
O demônio ergue uma sobrancelha ao se juntar a ele.
— Hm?
— Não, você tem que vir aqui. — Aziraphale coloca a mão no chão ao lado dele, indicando onde Crowley deveria se sentar.
Crowley sentiu um arrepio por conta ideias que percorreram sua mente ao ouvir o anjo chamar ele para mais perto, disse a si mesmo que a sensação era por conta da brisa noturna, mesmo ele sendo um demônio, e não necessariamente sentindo frio como os humanos. Ele se senta, um tanto hesitante.
— Certo… Deite-se.
Ele se pergunta se o anjo era tão inocente quanto a uns anos atrás no jardim do Éden, ou estava fazendo de propósito. Mas ele faz como orientado. Em seguida, Aziraphale faz o mesmo.
— Fique olhando para cima… — A voz dele saiu suave e mais baixa, já que estava silencioso.
Os olhos amarelos focam no céu, ele vê as estrelas ao longe.
— A gente veio até aqui pra olhar pro céu? Sério?
— Espere.
Aziraphale sussurrou algo estalou os dedos. Crowley não pode conter a expressão de surpresa, sentiu o ar escapar-lhe o pulmão.
O céu brilhava. Brilhava como no momento que criou suas nebulosas, tons de verde, azul e rosa se entrelaçavam, naquele baile cósmico, o céu estava salpicado também por amarelo e roxo. Não demorou para que lágrimas embasassem a visão de Crowley, que prontamente às limpou.
— Você que fez isso? — a voz saiu embargada, seguida por um pigarrear para disfarçar, assim que ao virar a cabeça ele encontrou o olhar de Aziraphale, que estava o observando com um sorriso diminuto.
— Sim, bem… o que você achou? - O anjo não conseguia deixar de olhar para os olhos de seu querido, tentando descobrir os segredos de sua alma através de suas janelas.
— É lindo. Pra que serve?
— Coisas lindas precisam de uma serventia?
— Não sei como aprovaram. — Ele dá uma risadinha baixa.
— Ah não… eu fiz sozinho. Com um milagre. — Uma ponta de orgulho se insinua em sua voz.
— Então você fez só pra olhar? — Isso intrigou e divertiu Crowley na mesma medida.
— Basicamente… — Fiz pra você. Pensa o anjo.
— Sabe, eu acho que combina com essa parte do mundo. Frio. Sem cor. Deixa mais bonito.
Aziraphale se permite sorrir mais um pouco.
— Digamos então que é um presente caso alguns humanos venham até aqui.
— Um presente pra todos que verem.
— Inclusive nós. — Eles trocam um olhar.
Crowley sorri e olha pra cima novamente
— Escolheu um nome?
— Vamos deixar eles nomearem.
— Certo.
Se já houvesse um calendário dos dias atuais naquele tempo, seria dia quatorze de fevereiro, que muitos anos depois do da criação do tal calendário, virou uma data comemorativa, o dia de São Valentim.
Após momentos em silêncio, observando as luzes no céu, Crowley se lembrou de uma ideia, que há algum tempo tinha deixado passar.
– Quero te levar em um lugar.
Aziraphale é pego de surpresa com a interrupção do silêncio agradável
– Agora?
– Já vai ter amanhecido quando chegarmos lá, anjo.
– Certo… é muito longe?
– Um pouco.
– Um pouco quanto?
– Vem logo, anjo.
Crowley puxa Aziraphale para levantar, e o guia para longe daqueles montes nevados, em algumas horas, talvez mais do que Crowley havia previsto eles estavam chegando. Mas assim que viu a grama verde sabia que estava perto.
– Antes de você reclamar, eu achei que era mais perto, e vai valer a pena.
– Eu não iria reclamar, quem reclama aqui é você.
– Ei!
Aziraphale dá uma risadinha.
–Tá, agora feche os olhos. Só fecha, sem perguntas.
O anjo cruza os braços e com um suspiro faz o que Crowley disse, sua curiosidade é maior do que sua teimosia. Ele sente o coração acelerando quando a mão de seu companheiro toca sua mão, guiando-o assim como ele mesmo fez anteriormente, sentia sua mão fria ao toque, contrastando com a dele mesmo que era mais quente.
Um estalo, com a outra mão de Crowley.
– Pronto.
Aziraphale se encanta ao ver um monte florido, cheio de flores amarelas e pequenas, a forma com que as flores dançavam com o vento trazia uma paz, era doce e de alguma forma melancólico, como se essa terra tivesse sido regada com lágrimas de amor. Um suspiro vindo do anjo seguido de um sorriso doce acalma um nervosismo que havia se instaurado dentro do demônio e ele nem sabia dizer o porquê.
– Que lindo…
– Só isso?
Aziraphale olha para ele
– É tão belo que me deixou sem palavras.
– Também não precisa exagerar, né?
– Você não se contenta com nada! O que queria que eu fizesse?
– Sei lá. – Ele sabia o que desejava, proximidade, mas era só o que sabia, não tinha ideia do nome, nem do motivo que lhe fazia querer manter proximidade de seu anjo, apenas… precisava. E sinceramente, um nome não mudaria seus sentimentos tão puros, nem os de Aziraphale. Mas teriam a serventia de auxiliar ambos a explicá-los um para o outro.
– Um dia você me conta.
Talvez um dia, os dois iriam chamar de amor, iriam se olhar nos olhos e dizer “eu te amo” mas isso, apenas o futuro nos dirá.
(Versão revisada)
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Let There be Light (Ineffable husbands) - One Shot
Fiksi PenggemarOs olhos amarelos serpentinos brilharam com lágrimas, no céu noturno ele via como se suas próprias amadas criações estavam se mostrando para eles. Luzes ondulando acima deles num show encantador. Nada que um milagre angelical não poderia fazer. Um s...