Rebeca estava gritando de agonia. Quando Matheus se aproximou, viu muito sangue. Todos os empregados foram em direção a ela.
Adriano: "Me ajudem a levá-la para o quarto."
Os gritos de Rebeca ecoavam pela fazenda inteira; não era possível ouvir nenhum animal. Todos os empregados mostravam expressões de agonia diante da situação. Havia um rastro de sangue de Rebeca. Matheus, por outro lado, estava apenas assustado com a quantidade de sangue, mas não sabia o que estava acontecendo. Claire estava vindo com um balde de água e começou a gritar.
Claire: "Vão! comecem a limpar isso agora!"
Matheus: "Claire, o que está acontecendo? Por que Rebeca estava sangrando? Ela está bem? Eu fiz isso com ela? Eu não queria tê-la deixado brava."
Claire: "Então foi você, seu crioulo! Eu sabia que iria trazer desgraça para cá! Você e seu irmão, aquele demônio."
Claire pegou Matheus pela garganta e o arrastou para o outro lado da fazenda, em direção à senzala. Enquanto ela arrastava o pobre menino, ele se debatia. Quando estavam chegando, Matheus já estava ficando pálido e com os lábios roxos. Claire jogou Matheus e o amarrou a um tronco, ordenando que um capataz o chicoteasse. Quando Matheus recuperou a consciência, viu a parte da fazenda que ele nunca tinha visto cheia de escravos;
O sol do meio dia brilhava intensamente, enquanto o ambiente exalava um odor fétido, permeado pela presença de pessoas mortas e, principalmente, crianças famintas. Todos olhavam para Matheus com desdém.
Claire: "Você vai aprender, seu verme! Vai aprender a nunca mais se aproveitar de ninguém. Deem a ele cem chicotadas e não ousem tirá-lo desse tronco."
O capataz obedeceu e começou a bater. Na primeira chicotada, as costas de Matheus se abriram e começaram a sangrar.
Claire: "Mais forte! Eu quero que aquele animal aprenda a se comportar!"
Matheus não tinha forças para manter os olhos abertos. Na segunda chicotada, ele desmaiou.
Uma mulher de pele negra se aproximou e passou a mão em seus cabelos, começando a limpar suas costas.
Mulher: "Você está vivo, minha criança?"
Matheus abriu os olhos e quando a mulher viu seus olhos azuis, disse:
Mulher: "Como podem machucar uma criança do nosso povo?"
Matheus não tinha forças para falar ou para ficar acordado. Apenas percebeu que estava de noite e os gritos de Rebeca ainda ecoavam pela fazenda inteira. Ele fechou os olhos e lutou para abri-los novamente; quando conseguiu, estava em um quarto. Claire estava costurando suas costas.
A agulha estava suja e a linha improvisada. No entanto, no olhar dela havia uma frieza que Matheus jamais tinha testemunhado; ela não se importava com o quanto ele se debatia apenas para concluir o que começara.
Matheus: "Aaah, tire suas mãos de mim, está doendo."
Quando olhou, viu outras empregadas segurando-o. A única coisa que ele pôde fazer foi gritar de dor.
Claire ficou trinta minutos costurava suas costas.
Matheus: Por que você me trouxe para o meu quarto?
Claire: Aquele lugar fede! Não é para pessoas como eu estar lá. Não conte o que aconteceu para os senhores, eles estão sensíveis.
Matheus: Eu não vou contar, sua bruxa!
Claire o ajudou a se vestir. Uma blusa branca, calça preta e nos pés um belo par de sapatos. No entanto, Matheus estava fraco, pálido e gelado. Claire ajuda-o a andar pelo vasto campo até chegarem à casa principal. Ele olha e percebe que a casa está mais pálida do que normalmente estaria. O ambiente ecoava um silêncio absoluto, onde ele só ouvia o sussurro da brisa do vento.
Ele atravessa a sala principal e olha a grande escada. Subindo com muita dificuldade, passa pelo imenso corredor de quartos e vai em direção ao quarto de Rebeca.
Rebeca estava deitada em uma cama limpa com lençóis de seda claros. Seus olhos refletiam um vazio profundo, sua pele pálida como a lua. Um olhar de vazio pairava sobre ela.
Matheus: Você está bem?
Matheus era apenas uma criança, e ao analisar o que Claire fez com ele, não restou dúvida de que aquilo tinha acontecido por causa dele. Ele não sabia ao certo o que tinha acontecido, mas tinha a certeza de que era sua culpa.
Matheus: Desculpe, não foi minha intenção fazer você ficar brava, eu juro.
Com uma expressão de medo e lágrimas escorrendo dos olhos, Matheus olha para Rebeca, cujos olhos também estavam cheios de lágrimas. Ela estava fraca e cansada.
Rebeca: Meu anjo, você não fez isso. Por favor, me deixe descansar um pouco.
Matheus balançou a cabeça e saiu. Adriano estava na porta.
Adriano: Me siga!
Eles caminharam até o escritório de Adriano, cuja porta era vermelha vivo. Ao entrarem, Matheus observou a sala com um piso diferente, ferramentas que nunca tinha visto antes e um esqueleto. Ao fixar o olhar no quadro com retratos de crianças desaparecidas, sua visão começou a embaçar, impedindo-o de examiná-lo mais detalhadamente.
Matheus: Por que me trouxe aqui?
Adriano: Eu sei que você não sabe o que aconteceu com a Rebeca. Infelizmente, ela perdeu o bebê. E não é sua culpa. Já é o oitavo. Eu já perdi as esperanças, para falar a verdade. Eu comecei a ter um pouco, já que esse conseguiu chegar no sétimo mês. Me desculpe por falar demais.
Matheus: Não. Está tudo bem! Você passou por muita coisa.
Matheus abraçou Adriano, que não se conteve e começou a chorar.
Adriano: Eu tenho falhado de tantas formas, Matheus. Não consigo ser pai, não consigo proteger minha própria cidade. É tudo tão difícil.
Matheus: Eu sei como é! Eu perdi minha mãe, e ainda sinto muita falta dela. Gosto de vocês, mas não é igual.
Adriano: você é tão forte, eu deveria ser como você.
Adriano começa a notar que Matheus estava gelado. Subitamente, ele sente que suas mãos estão molhadas, e ao olhar para elas, percebe que é sangue. Aterrorizado, recua para trás. Matheus desaba, sentando-se no chão, e Adriano percebe que a blusa dele está encharcada de sangue.
Adriano: Matheus por que está sangrando?
Matheus, sem forças, apenas fecha os olhos e desmaia.
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Espíritos Vingativos
HorrorEssa história fala sobre uma época pós-escravidão, onde crianças desaparecem misteriosamente em uma pequena cidade no Brasil. Acompanhamos Matheus, uma criança de 13 anos. Será que ele vai conseguir sobreviver nessa cidade? Por que apenas crianças d...