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  Eu 'tava sentada no chão de um parque escorada em uma árvore.

— Uma hora você vai ter que voltar pra casa– Ele me disse parado do meu lado e com os braços cruzados.

— Não... não tenho– Eu falo e depois começo a vomitar na grama do meu lado. Em seguida eu passei a mão na minha boca— Eu 'tô bem.

— Dizer que você 'tá bem não significa que você esteja mesmo bem– Ele diz— Sentimentos são complexos, é mais fácil mentir sobre eles do que falar sobre eles.

— Você sabe bem sobre isso, né, pai? Você dizia que 'tava bem e se matou na minha frente– Falei.

— Não era pra você 'tá lá– O meu pai disse.

— É, era pra mim 'tá na na sala enquanto você se matava no escritório. Desculpa arruinar seu plano– Eu falo— Seria muito mais fácil se eu só encontrasse o seu corpo jogado lá sem vida. Seria mais fácil me culpar por não ter chegado antes.

— Desculpa– O meu pai diz.

— Se você não fosse só uma alucinação da minha cabeça causada pela abstinência eu aceitava as suas desculpas– Falei— Mas no momento eu quero que você se foda.

— Você me conhecia melhor do que qualquer um, com certeza sabe o que eu 'tô pensando. Portanto a minha desculpas é algo que eu realmente eu falaria– Ele me disse— Você sabe disso, aceita logo. Tenta viver em paz.

— Por que eu tinha que ter alucinações com você? Eu podia imaginar o cara mais gostoso do mundo, mas aí você aparece– Eu falo.

— Você não gosta tanto de sexo como você fingi gostar– O meu pai diz— Você fingi gostar, finge que todo tipo de sexo é bom, só pra não ter que aceitar que aquilo foi estupro, que aquilo não 'tava certo e que você não gosta daquilo. Você acha que é ruim aceitar que foi estuprada e tentar resolver isso indo na polícia, fazendo um tratamento com uma terapeuta, então você só finge que foi bom, que foi consensual.

— Pelo amor de Deus, você é meu pai, é a última pessoa que eu quero falar sobre a minha vida sexual– Fslei.

— Teoricamente eu não sou seu pai de verdade, eu sou o que a sua mente projetou dele– Ele disse— Quando você pensa em mim você me imagina assim.

— Me deixa em paz– Eu falo.

— Você é meio depressiva como eu, grande parte população também é. Mas a única diferença é que enquanto a gente se corta, se bate... você transa com pessoas aleatórias porque toda aquela excitação e a pontinha de dor te faz se sentir que você não 'tá morta– O meu pai diz— Você é só acha isso porque te falaram isso. Mas toda vez que você faz isso você se sente suja, se sente nojenta, se diminui para si mesma.
Lembra da primeira vez que o Marko fez aquilo? Você não se olhou no espelho por 1 mês, você ficava no chuveiro por 2 hora se esfregando, tinha machucados causados pela esponja de tanto que você se esfregava, você se droga muito só pra não lembrar daquele momento.

— Não sou depressiva– Falei.

— Então toda aquela heroina que você usou e que te levou a segunda overdose foi só por diversão?– Ele me perguntou.

  Eu não respondi.

— Assumi logo, você queria se matar, assim como eu me matei. Só que ao contrário de mim você não conseguiu chegar no fim– O meu pai diz.

— O que você 'tá querendo com isso? É eu tentei me matar, não consegui, isso ja é passado, esquece– Falei.

— Quando você acordou no hospital respirou aliviada porque pensou que pelo menos alguém iria perceber que você precisava de ajuda e iria te ajudar, mas... te chamaram de viciada e te colocaram em uma clínica– Ele disse.

Your Confusion| AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora