Prólogo

129 9 7
                                    

Valentina Albuquerque Point of View

Duas famílias. Uma cidade. Uma disputa idiota que sempre colocava o poder e o ódio acima de tudo. Dois sobrenomes e o juramento de que eles nunca iriam se misturar. Uma história tirada dos clássicos, mas no fim os dois amantes estrelados não tirariam sua vida para encerrar o conflito de seus pais. Essa não era Verona e, por mais que quisesse, minha vida não era uma peça de Shakespeare.

Mesmo depois de tantos anos, eu ainda era incapaz de enxergar o sentido de tudo aquilo. Porque simplesmente não havia um, ao menos não para mim. O peso que nossos nomes carregavam era grande demais para uma cidade tão pequena. Albuquerque e Campos, as duas famílias destinadas ao ódio. Soava ridículo, mas era uma daquelas coisas que ouvimos até se tornar realidade.

Funcionou com meu irmão e poderia ter funcionado comigo se eu tivesse me esforçado mais um pouco.

Um suspiro escapou dos meus lábios e foi assim que acabou a corrente de pensamento que estava se formando. Mais alguns minutos e eu estaria dentro de uma espiral de pânico. Elas estavam mais presentes nos últimos meses e o motivo era sempre o mesmo, Luiza Campos.

Tentei respirar fundo, focar na tarefa que tinha em mãos e deixar de lado todo o barulho que minha mente fazia. O único problema foi que só precisei deixar meu foco de lado por um segundo para que minha visão encontrasse no espelho a razão das minhas dúvidas. A mansão dos Campos ficava há poucos passos de distância, apenas alguns metros que poderiam ser cruzados em um piscar de olhos. Mesma rua com quase o mesmo endereço, mas dois mundos completamente diferentes. Mundos que se chocavam todas as vezes que meus olhos se cruzavam com os dela.

Se eu pudesse voltar no tempo e nunca ter mandado aquele bilhete, eu voltaria.

"Eu não te odeio"

Quatro palavras que viraram minha vida de ponta cabeça. Mesmo depois de tantos anos, eu conseguia me lembrar com exatidão a forma como me senti. Nada foi capaz de me causar a mesma sensação, nem mesmo o pedido de casamento. Eu sabia que o Lucas não merecia isso. Sabia que estava sendo uma completa idiota por ainda pensar nela. Mas não conseguia impedir a minha mente. Era impossível olhar para ele sem pensar na forma como ela me olhava, era impossível não ouvir sua voz sem pensar nas palavras que ela me escreveu e era impossível dar ao meu coração o que ele queria.

O quanto realmente amamos alguém se esse sentimento é questionado todas as vezes que estamos sozinhos?

Doía imaginar como as coisas poderiam ser diferentes em outra vida, com outros nomes e sem tantos holofotes. Eu tinha plena consciência que esses loopings de incerteza precisavam parar, mas por mais que eu tentasse, aquela dúvida me perseguia em cada detalhe. Eu disse sim. Tive a certeza que queria esquecer todos esses conflitos em minha mente e que iria condicionar meu coração a bater por meu noivo da mesma maneira que ele batia por ela. Eu realmente achei que conseguiria. Eu fui uma trouxa por pensar que poderia apagar o que sentia.

Não me lembro quando nosso segredo começou de fato e também não me lembro o motivo que desencadeou tudo aquilo, mas me lembro de rasgar a folha de um caderno antigo e escrever um simples "eu não te odeio" na melhor caligrafia que uma criança é capaz de desenvolver.

A Valentina de dez anos não esperava uma resposta. Mas ela a recebeu na forma de um origami de coração. Foram semanas para ter coragem de mandar um segundo bilhete e meses até criarem um sistema melhor que deixar suas confissões sobre suas bicicletas.

Caso IndefinidoOnde histórias criam vida. Descubra agora