2. Uma Boa Perdedora

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Valentina Albuquerque Point of View

Inspirar.
Expirar.
Não ouse olhar para trás.
Não ouse chorar.
Por favor, não ouse chorar.

Respirei fundo e engoli o choro antes da porta se abrir.

Junto com toda a dor, ignorei também todas as declarações que estavam presas em minha garganta. Eles não mereciam me ver assim, não mereciam saber que eu estava quebrando por dentro. Eu era Valentina Albuquerque, não podia me dar o luxo de demonstrar nada além de um sorriso falso. Naquele instante não havia espaço para a garota que viu o amor de sua vida escorrer entre seus dedos e não fez nada.

Não escolhi isso. Nunca quis nascer em uma família tão importante. Não escolhi ter que planejar cada um dos meus passos. Definitivamente nunca quis colocar meu sobrenome acima dos meus desejos. Infelizmente, é fácil perder o controle das coisas quando sua vida toda está na frente de um holofote.

- Luiza decidiu que seria melhor voltar para casa.

Só percebi que minha respiração estava descompassada quando ouvi minhas próprias palavras. Aquilo soava frio demais, mas era a frase perfeita para impedir uma chuva de questionamentos. Catarina não teria coragem de contestar os fatos ou me corrigir pela empatia, por mais que quisesse. A verdade era que mesmo dentro de toda falsa cordialidade entre os Campos e os Albuquerque, minha fala era exatamente o que se esperava de um ataque silencioso. Nós jogamos uma bomba e as consequências começaram a se desenvolver em um efeito dominó.

- Acho que deveríamos aproveitar para começarmos a distribuir os convites, não? - Lucas.
Claro que ele seria o mediador da situação. Claro que faria algo para abafar aquele show. Claro que impediria que as manchetes de amanhã fossem sobre Luiza.

Ele sabia que resolver aquilo também estaria salvando minha idiota de um escândalo? Eu duvidava que sim. Meu noivo, céus como essa palavra consegue soar errada até em pensamento?! Lucas não era desse meio. Ele não vinha de um legado. Não precisava se importar com guerras silenciosas ou manobras políticas. Era uma pena que uma pessoa com tanto potencial terminasse perdido no meio de toda essa bagunça. Forcei um sorriso, afirmei com a cabeça incapaz de achar a resposta certa e foi uma questão de segundos até estarmos na frente de diversas câmeras.

Ainda me impressionava com a maneira que uma cidade tão pequena conseguia se manter tão relevante. Como duas famílias, que viviam de forma consideravelmente normal, conseguiam manter de pé diversos canais de notícia? Eu nunca saberia. O mundo onde nasci já era dessa maneira e o mundo de meus pais também. Crescemos acreditando que aquilo era normal, aceitamos que não havia outra maneira de levarmos nossa vida e em algum ponto aprendemos a lidar. Ninguém se importava mais, então eles mantinham a história e nós a relevância. Dentro disso, eu mantinha meu sorriso falso e a habilidade de fingir estar completamente apaixonada pelo homem que estava ao meu lado.

Quando colocado dessa maneira meu noivo parecia alguém ruim, mas ele não era. Ao menos não para mim. O que tínhamos se assemelhava demais a uma transação de negócios e, em partes, isso era uma garantia de que ninguém teria seu coração quebrado. Eu nunca esperei uma relação verdadeira e ele aprendeu a não esperar muito além de aparências. Sabia que eu iria me acostumar com sua presença, que iria aprender a ter carinho por ele e que eventualmente veria nele tudo o que outras garotas viam, mas ainda não. Minha mente ainda pertencia a ela, mesmo que eu não quisesse.

- Então...?

- Oi? - Eu precisava parar de pensar na Luiza pelo menos enquanto ele estava comigo.

- Vai me deixar dormir aqui?

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⏰ Última atualização: May 16 ⏰

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