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Duas semanas. Esse é o tempo que levou para Yn perder a conta dos dias em que ela esteve trancada dentro da casa de seu sequestrador. Ela nunca foi boa em manter hábitos saudáveis e lembrar-se de repetir o número de noites passadas dentro desta 'célula da prisão', quando ela ligou para a casa dele, logo começou a escapar de sua mente, levando a esquecê-la completamente. Quando ela percebeu que não havia como sair dessa situação para ela, nenhuma maneira de escapar, nenhuma maneira de fugir, ela começou a desaparecer lentamente. Peça por peça, ela começou a desaparecer. Ela sentiu isso e depois de mais algum tempo, ela até fez as pazes com isso.
Jungkook também viu e não gostou. Ele não ia deixar sua posse mais cara desmoronar bem na frente de seus olhos. Quando ela parou de comer, ele se sentava com ela por horas implorando para ela dar pelo menos uma mordida no que ele preparava para ela, mas não importava quais palavras ele usasse ou o quão desesperado ele parecia, ela não cedia. Todos os dias ela olhava em branco para pratos cheios de diferentes refeições ou caixas de comida para viagem de vários restaurantes. Não foi difícil para ela parar de comer. Quando ela perdeu a vontade de viver, parecia simplesmente desnecessário.
Ela se sentiu tão fraca e cansada, mas, ao mesmo tempo, não conseguia dormir. À noite, ela saía do quarto dele e ele fingia que estava dormindo, deixando-a ter pelo menos esse pouco de liberdade imaginária. Ela se sentava perto da janela da sala de estar, olhando para a cidade e sua vida interminável da qual ela não fazia mais parte. Ela se sentava no chão de madeira descansando seu templo contra o vidro frio pensando em maneiras de acabar com seu sofrimento mais rapidamente.
Depois de oito dias de Yn se matando silenciosamente na frente dele, Jungkook decidiu que já teve o suficiente. Ele não podia ajudá-la, não importa o quanto tentasse. Como ele poderia quando ela não falava com ele ou nem sequer olhava para ele? Sempre que seus olhos pousavam em sua silhueta, seu olhar ficava em branco. Ele se perguntou como ela conseguiu fazer isso, já que seus olhos já pareciam vazios o tempo todo. Eles perderam o brilho no dia em que ela parou de comer. No mesmo dia, a respiração se tornou uma tarefa cansativa para ela. Ele podia pelo menos ver súplicas e medo em seus alunos antes. Agora eles estavam mortos e logo ela também estaria se ele não chegasse à solução certa para a situação.
Naquela noite, Jungkook ficou fora até tarde depois do trabalho. Em vez de voltar para olhar para o fantasma de uma mulher que ele aprisionou em sua casa, ele decidiu chamar seus amigos mais confiáveis para conversar sobre a 'situação em que ele e sua namorada' se encontraram. Durante sua ausência, Yn se enrolou no sofá da sala de estar. Ela olhou pelas janelas de vidros duplos, falando consigo mesma em sua cabeça. Quando ela percebeu que Jungkook não ia deixá-la ir, ela parou de falar. Não era algo que ela não quisesse fazer. Se ela pudesse, ela gritaria para que ele a deixasse ir dia e noite, ela simplesmente não conseguiria fazê-lo. Ela às vezes choramingava soluços abafados no chuveiro quando tinha certeza de que ele não a ouviria sobre o farfar da água, mas não muito mais e nunca quando ele estava por perto.
"Não adianta eu ser infeliz", ela sussurrou tão baixinho que mal ouviu sua voz trêmula e rouca.
Digitalizando seu reflexo na superfície escura da janela, ela viu suas características manchadas se fundindo com a visão das luzes da cidade atrás do vidro. Ela ficou surpresa com suas próprias ideias, especialmente porque tinha certeza de que não precisava prosseguir com a greve de fome por muito mais tempo, pois seu corpo já estava desistindo dela - sempre frio e extremamente cansado, sua cabeça latejando de dor e ela ficava tonta toda vez que se levantava ou se sentava.
Seus olhos viajaram para a imagem espelhada da porta da frente atrás de seu quadro frágil descansando no sofá de cor clara. O pequeno teclado acendeu na cor vermelha quando alguém começou a perfurar o código do outro lado. O modo de voo que ela esteve nas últimas semanas assumiu quando ela disparou do sofá. Tropeçando em seus próprios pés, ela foi para o quarto, se atirando para a cama enquanto Jungkook entrava no apartamento. Levantando as cobertas até o queixo, ela relaxou o rosto, fingindo estar dormindo.
Com o peso esmagador descansando em seus ombros, Jungkook foi direto para o banheiro. Ele ficou sob a corrente quente de água por um tempo tentando livrar sua cabeça das preocupações com sua 'namorada', como ele gostava de chamá-la. Um pouco mais tarde, Yn lentamente abriu os olhos enquanto sentia o mergulho no colchão quando seu sequestrador se deitou ao lado dela na cama king-size. Sua caixa torácica subiu e caiu lentamente enquanto ele respirava ritmicamente.
"Eu poderia simplesmente bloquear todos os detalhes inconvenientes e me concentrar nas partes boas e apenas nelas", pensou Yn. "Existem algum?"
A dor na garganta de segurar um soluço sem esperança aumentou à medida que ela chegou a um acordo com o fato de estar presa entre uma pedra e um lugar difícil. Não havia uma boa saída. Foi morte auto-infligida ou conformidade com ele. Você nunca pensou que ela seria uma daquelas garotas que desapareceram sem deixar vestígios. Isso só aconteceu na TV, apenas em lugares distantes. Ela nunca pensou que teria que decidir entre opções tão horríveis, mas só poderia durar tanto tempo.
"Vai ser difícil, não há dúvida sobre isso, mas talvez valha a pena," ela chorou na cabeça. "Talvez isso torne possível para mim escapar um dia e se houver esperança..."
Até onde uma mente humana poderia ir? Quantos detalhes inconvenientes ele poderia ignorar até que fosse demais? Ela estava prestes a embarcar em uma jornada para descobrir isso. Segurando as lágrimas de vomitar de seus olhos, ela estendeu a mão para frente. As pontas dos dedos dela mal conseguiram arranhar o tecido da camiseta de Jungkook quando ele já estava olhando para ela por cima do ombro.
"Você está bem?"
A voz dele era rouca, mas não como a dela, estava sonolenta e cansada em todos os significados da palavra. O luar suave espiando pelas janelas do chão ao teto forneceu iluminação suficiente para Yn ver o cabelo úmido preso à testa. Foi preciso apenas um breve olhar para Jungkook perceber que algo era diferente com ela. Para começar, ela estava olhando para ele e não através dele e então houve o toque. Foi apenas um arranhão de um dedo sobre suas costas, mas, ao mesmo tempo, foi mais do que qualquer coisa que ele já recebeu dela. Ele olhou para ela por mais um segundo antes de se virar em seu lugar.
"Não se vire. Não se vire", ele implorou em sua cabeça enquanto Yn retraia a mão para trás e sob a segurança de suas cobertas.
Jungkook virou seu lado esquerdo, sua palma direita apoiada contra a suavidade dos lençóis enquanto observava a pessoa trêmula à sua frente. Seu queixo foi direcionado ligeiramente para baixo, seu olhar com ele, mas ela ficou de frente para ele com seu corpo que, na curta história de seu 'relacionamento', poderia ser descrito como uma grande fuga. As respirações superficiais que escaparam de seus lábios separados levaram Jungkook a pensar que ela poderia querer falar, mas ele não ia pressiona-la.
Nas primeiras semanas de Yn vivendo com Jungkook, ele pesquisou por toda parte por remédios para ela, de repente desenvolveu mutismo. Ele tentou tudo o que podia, desde tentar se comunicar com ela através da escrita de notas até elouvá-la com presentes e palavras gentis se ela mal suspirasse, especialmente alto quando ele estava falando com ela. No entanto, nada parecia estar funcionando, então agora que ela realmente fez contato com ele, contato físico, ele não queria arruiná-lo. E então ele ficou parado, respirando devagar e ritmicamente, olhando para o rosto dela, mas não para os olhos dela, mantendo as mãos para si mesmo, simplesmente de frente para ela.
O corpo de Yn ficou tão rígido quanto uma pedra enquanto ela observava o homem antes de se virar e se deitar do outro lado dele. Ela manteve os olhos meio abertos olhando para baixo, com medo do que faria se seus olhares se encontrassem. Ela não tinha certeza do que queria alcançar tocando nele, apenas parecia, por falta de um termo melhor, apropriado. Minutos depois, ainda hesitante sobre sua decisão, ela finalmente deixou suas pálpebras caírem. O abraço quente de sono envolveu sua mente, deixando uma frase suavemente sussurrada para gravar em sua consciência escorregadia.
"Se você não comer amanhã, terei que fazer você comer, querida."
