Capitulo V

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Seus passos são lentos e deliberados, o som ressoando pelos corredores. Em suas mãos, há uma rosa vermelha. Enquanto pintava em tela as roseiras do jardim, ele não resistiu ao impulso e colheu uma das belas flores.

Há muito e ao mesmo tempo nada em sua mente. Mas ele estagna assim que seus ouvidos registram uma voz.

É a voz de Felix.

HyunJin ergue a cabeça, encarando as enormes portas de vidro da biblioteca. Elas estão abertas, deixando pleno acesso ao seu grandioso interior. Ele vê a figura de Felix sentada em uma mesa, com um livro em mãos, recitando seu conteúdo para si mesmo. MinHo não está com ele.

A voz grave do Soberano é dotada de magnificência, um tom que faz todos pararem para ouvir e apreciar. Por mais que HyunJin odeie admitir, ouvir Felix lendo está lhe trazendo conforto e até mesmo alegria. É como se todo o seu medo e desprezo nunca tivessem existido. É difícil de admitir, mas ele poderia ficar ali, para sempre, ouvindo a voz daquele anjo caído e escondido nos confins de seu reino esquecido.

HyunJin se recosta em uma das portas, de maneira inconscientemente. Ele fica assim por mais alguns minutos, apreciando a história que Felix conta, lembrando com nostalgia das noites em que seu pai reunia ele e seus irmãos para contar histórias para dormir.

— Não gosto de interromper a leitura no meio do capítulo, — Felix diz ao parar de ler, a cabeça encapuzada se voltando para HyunJin — Mas agora que o terminei, gostaria que você se juntasse a mim.

Felix faz menção para HyunJin se sentar ao seu lado.

E HyunJin odeia. Odeia que ele consiga associar o rosto do jovem príncipe Felix ao ser que está conversando com ele. Ele consegue imaginar, pelo tom de voz caloroso, um sorriso adornando o belo rosto de elfo.

HyunJin odeia que ele esteja se apaixonando, lentamente, pelo monstro e suas atitudes gentis.

O coração de HyunJin dispara. Ele já tinha plena certeza de que Felix sabia de sua presença, afinal, Felix não é humano. Mas HyunJin não esperava pelo convite. Não depois de todas as vezes que HyunJin fez questão de mostrar seu desprezo.

A verdade é que HyunJin sente medo. Ele apenas esconde esse medo com uma máscara de ódio. Todo aquele desprezo não passa de uma armadura que esconde a sua vulnerabilidade, que esconde os verdadeiros sentimentos em seu coração. Porque já não basta estar confinado no Inferno, ele teve que se apaixonar pelo Diabo. E se apaixonar pelo Diabo pode trazer consequências desastrosas.

HyunJin foge, as pernas longas se movendo com toda a sua força e velocidade.

HyunJin foge, pois ele não sabe quando Felix decidirá fazer dele o seu escravo.

HyunJin foge, pois ele não quer se entregar e sofrer nas mãos de um monstro que um dia se disfarçou de anjo apenas para conseguir o que queria: um brinquedo para quebrar.

Não. HyunJin não pode fugir. Ainda não. Por mais que ele tenha certeza de que YeJi e JeongIn não perderão suas posições de nobres, ainda é cedo demais.

HyunJin então se força a parar de correr.

Ele percebe que está na sala do trono. Sua vontade é de rir ao perceber que ele foi a um ambiente sem outra saída. É um fator inútil, no entanto. Se quisesse, o Soberano teria conseguido alcançá-lo de qualquer maneira.

Apesar da corrida, a rosa ainda reside em suas mãos trêmulas.

Mais alguns meses. Apenas mais alguns meses. Não precisa ser um ano. YeJi e JeongIn ficarão bem.

Em um ato inconsciente, seus dedos longos vão para a corola da rosa, acariciando as pétalas, sentindo a maciez e suavidade contra sua pele. Ele se acalma aos poucos enquanto seus olhos pulam de pintura a pintura, de antigos membros da realeza à anjos e demônios, até pararem no quadro onde todos os membros da última família real foram retratados.

Ele analisa cada rosto com cuidado. Tão belos… tão angelicais… nada disso condiz com seus atos profanos.

Seus olhos param na imagem de Felix. Seu coração salta. A sua boca seca. Se ele fosse humano, HyunJin não hesitaria em amá-lo.

Os dedos se HyunJin se prendem de forma bruta na corola da flor, arrancando as pétalas vermelhas.

Todos eles não passam de monstros.

Felix não passa de um monstro.

O talo da rosa cai aos seus pés e sua mão esmaga as pétalas antes de jogá-las no chão.

— Eu escolhi te aturar somente porque meu irmão pediu. — HyunJin se assusta e se vira para trás, encontrando a expressão raivosa de MinHo — Há três meses que você está aqui, e desde o primeiro dia você já nos despreza abertamente, sem escrúpulos.
HyunJin levanta as sobrancelhas em desdém.

— Vocês não merecem nada além de desprezo.

— Meus pais merecem o seu e todo o desprezo do mundo. Pode ser que eu mereça um pouco dele também. Mas Felix, minhas falecidas irmãs… eles não merecem o seu ódio e nem o ódio de ninguém. Você não as conheceu. Você não o conhece.

— Quem é a fera e quem é o fantasma aqui? — HyunJin indaga — Quem é o humano?

MinHo nega tristemente.

— Você está cego de revolta.

E então, MinHo desaparece em sua própria essência.

O medo consome as entranhas de HyunJin. Se ele ficar por mais tempo, ele será morto.

Naquele mesmo dia, HyunJin esquece todas as suas promessas e foge pela primeira vez.

O Príncipe de ErikellOnde histórias criam vida. Descubra agora