Dia 07

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Estou começando essa espécie de Diário para relatar minha experiencia que parece ter saído direto de uma sádica história de horror, no momento em que escrevo isso aparento estar seguro, por mais que isso esteja parecendo cada vez mais improvável, hoje faz uma semana que estou preso em meu próprio apartamento.

Há sete dias atrás, acordei e levantei como se fosse um dia normal, com meu despertador tocando ás 7h00 da manhã, me levantei, coloquei ração e água para os meus dois gatos pretos, tomei um banho e escovei os dentes, todas as cortinas do meu apartamento ainda estavam fechadas, não gostava do sol batendo em meu rosto ao acordar, um sentimento que agora sinto falta, não havia notado o quão silencioso e escuro ainda parecia estar, como se ainda fosse uma madrugada calma, quando decidi abrir as cortinas e as janelas me deparo com nada além da minha própria parede, a moldura da janela ainda estava ali, mas era como se durante o meu sono tivessem fechado qualquer acesso ao lado de fora com o resto das paredes, no começo não entendi, não senti nem mesmo preocupação, só estava completamente confuso e desnorteado, depois de alguns segundos consegui voltar a mim, aquilo definitivamente não estava certo, não teria como isso ser um sonho, quase nunca tenho sonhos vividos e quando os tinha atingia a lucidez rapidamente, isso é a realidade, tenho certeza. 

Após isso, decido abrir a porta que dá ao corredor dos outros apartamentos, tinha que haver algum mal entendido por mais improvável que isso pareça, tudo estava normal na noite anterior, ou pelo menos parecia que estava, para falar a verdade eu não me lembrava de muito depois de acordar naquele dia, ainda não me lembro, a sensação era de que eu tivesse acabado de acordar de uma ressaca em um lugar desconhecido, com dificuldade de me lembrar dos eventos da ultima noite, porém no meu caso não me lembrava somente da ultima noite, eu não conseguia me recordar de vários dias antes, eu me lembro das pessoas que eu conhecia, da minha família, meus amigos, de eventos importantes, mas tudo aquilo agora pareciam fragmentos de memória de uma vida passada, distantes, naquele momento tentei afastar o pensamento, destranquei minha porta da frente e abri, moro em um apartamento que possui um total de 4 andares, 12 apartamentos em cada, o meu sendo o 210, fica no fim do corredor, no segundo andar, não é nada chique, mas nem precário, grande o suficiente pra ter dois quartos, pequeno o suficiente para cozinha ficar junta da lavanderia e ser tudo bem compacto, típico de um apartamento para estudantes em graduação, o meu caso, nele mora somente eu e meus dois gatos, Noctis e Iris, eles inclusive ainda agem como se estivesse tudo normal, dormem grande parte do dia, enfim, agora que as minhas condições foram explicadas posso continuar. 

Abrindo a porta senti o ambiente frio, muito mais do que o normal, no primeiro momento o corredor estava escuro, assim que dei o primeiro passo pra fora a luz automática por detecção de movimento é ativada, iluminando a primeira parte do corredor, tudo parecia normal, só estranhamente silencioso, normalmente nunca fica desse jeito, sempre vai haver algum som de musica, televisão, ou até mesmo conversa, as vezes gritos de famílias brigando, passos no andar de cima, enfim, qualquer coisa que se espera de um apartamento onde até onde eu sabia já estava completamente ocupado, sem vagas para novos inquilinos, de qualquer forma, a realidade de que o tempo amanheceu frio e que todos estavam em silencio em seus apartamentos era mais crível do que terem rebocado minhas janelas durante a noite, caminhei até as escadas, descendo lentamente, nunca gostei dessas escadas, sempre me passavam o sentimento de que se eu subisse ou descesse rapidamente iria cair, chegando no térreo, as luzes atrás de mim se apagando e as da minha frente se acendendo, conseguia ouvir os cliques delas por causa do silencio, ao virar a esquerda para o que deveria ser a saída do residencial, meu coração pula uma batida, a porta estava ali, na recepção também vazia, mas assim como minhas janelas havia uma parede me separando do lado de fora, tudo que passava pela minha cabeça era 'Mas que merda é essa?', acho que penso isso todos os dias até então, eu não sabia o que fazer, não parecia ter nenhum sinal de alguém ali, por instinto subo as escadas novamente, voltando para o meu apartamento.

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