ENTRE LINHAS E PLANOS

Capítulo 3: Quem eu sou

Naquela noite, Esme demorou a dormir. O beijo trocado com o homem dos seus sonhos adolescentes fez com que as borboletas da juventude revivessem em seu estômago. Depois de tantos altos e baixos, aquele momento a fez vislumbrar a possibilidade de um futuro brilhante à sua espera. Sua carreira bem-sucedida como arquiteta era um grande sonho realizado, mas ainda existia dentro dela uma adolescente apaixonada, ansiosa por descobrir o que o destino ainda reservava.

Enquanto os raios da lua banhavam seu quarto, Esme se permitiu sonhar acordada. Ela imaginou um futuro ao lado de Carlisle, mesmo sem saber sobre o segredo vampírico que ele guardava. O pensamento de um casamento e filhos trouxe um sorriso aos lábios dela. Vislumbrou crianças arrumadas para a escola, ela e Carlisle compartilhando risadas na cozinha enquanto tomavam café da manhã. A visão era tão real e reconfortante que Esme sentiu seu coração acelerar de emoção.

A adolescente apaixonada dentro dela se permitiu sonhar com uma vida cheia de amor e família. Ela se via cuidando dos filhos, compartilhando segredos com Carlisle, e enfrentando os desafios da vida juntos. Apenas a ideia de um futuro assim trouxe uma esperança renovada e uma sensação de completude que ela não experimentava há muito tempo.

Enquanto Esme sonhava com um futuro humano, Carlisle se via em um dilema de seus próprios segredos. A distância física depois de uma noite tão encantadora apenas amplificou o quanto ele desejava não ter que se afastar. O medo de que seu vampirismo não fosse aceito ou que Esme pudesse ter medo dele pairava como uma sombra constante. Ele reconhecia que ela merecia uma vida plena e feliz, mas a verdade sobre sua existência imortal era uma barreira difícil de ultrapassar.

Carlisle suspirou ao relembrar os momentos em que Esme teve uma chance de ter essa vida plena e feliz, mas tudo saiu do controle. Ela se viu presa a um noivo sem escrúpulos e enfrentou a perda trágica de um filho. A dor que Esme experimentara ainda ecoava em seus pensamentos, e a ideia de trazer mais sofrimento para sua vida era algo que ele desejava evitar a todo custo.

Enquanto refletia sobre a complexidade de sua condição vampírica e os desafios que enfrentariam, Carlisle sabia que a verdade eventualmente teria que ser revelada. Ele só precisava pensar em como faria isso e quando.

Os dias seguiram calmos, mesmo se falando a todo tempo eles só se viram novamente três dias depois, quando Esme finalmente encontrou um momento de tranquilidade em sua agenda ocupada e conseguiu marcar uma visita à casa que Carlisle havia adquirido, distante da cidade movimentada.

Preparada como uma verdadeira profissional, Esme chegou pronta para abraçar o projeto de decorar e reformar a casa de acordo com as preferências de Carlisle. A ideia de criar um espaço que refletisse a personalidade dele a entusiasmava, e sua habilidade como arquiteta tornava essa missão ainda mais empolgante. Ela sabia que, além de poder passar mais tempo com ele, era a oportunidade perfeita para conhece-lo melhor.

Por outro lado, Carlisle sabia que a verdade não podia mais ser evitada. À medida que Esme se aproximava da casa, ele se preparava para explicar a peculiaridade de sua vida. Não poderia mais esconder o fato de que um jovem médico de trinta e seis anos, com aparência de vinte e seis, morava com seus seis filhos e uma neta. Ele precisaria contar a verdade e deixar que Esme decidisse seu próprio destino.

Ao abrir a porta para receber Esme, Carlisle tentou sorrir, mas havia tensão em seus olhos. Ele a guiou pela casa, mostrando os espaços que estavam prestes a ser transformados. Esme, entusiasmada, fazia perguntas e expressava suas ideias, mergulhada no trabalho que amava.

À medida que exploravam cada cômodo, Carlisle sentia o peso da revelação iminente. Ele sabia que o momento crucial se aproximava, e a casa, que em breve seria um reflexo de ambos, também testemunharia a verdade que ele carregava consigo.