"Suddenly you're ripped into being alive. And life is pain, and life is suffering, and life is horror, but my God you're alive and it's spectacular."
"Subitamente, você é arrastado para a vida. E a vida é dor, e a vida é sofrimento, e a vida é um horror, mas, meu Deus, você está vivo e é espetacular."
— Joseph Campbell, Ep. 4: Joseph Campbell and the Power of Myth -- 'Sacrifice and Bliss'
Música Recomendada: Vênus - Sleeping at Last
Há muito tempo atrás, os Antigos deuses criaram o mundo e tudo que nele há.
Moldaram as montanhas e encheram os mares. Pintaram os céus e desenharam as florestas. Desenvolveram surpresas sob e sobre a Terra, que somente aqueles semelhantes a eles poderiam testemunhar. Criaram diversas criaturas, das pequeninas como grãos de areia as grandiosas que eram capazes de alcançar as Estrelas.
Os Antigos deuses desenvolveram tudo com o mesmo afeto, mas tinham um carinho especial por seres bípedes. Estes eram especialmente frágeis, um tanto desajeitados, porém, seu potencial prometia ser exorbitante. Afinal, foram criados à sua semelhança. Era de se esperar que os tais seres pudessem desenvolver organizações complexas e construções magníficas. Eles possuíam reinos grandes e vilas pequenas. Tinham rainhas majestosas e imperadores ambiciosos. Eram muito racionais ou extremamente irracionais. Tão inteligentes quanto burros.
Os seres humanos eram uma espécie excepcional. Os Antigos deuses deram-lhes o privilégio da vida e os humanos a aproveitaram e a desperdiçaram. Os Antigos deuses deram aos humanos a dádiva do amor e os humanos o cultivaram e o deturparam. Eles criaram músicas, construíram templos e também declararam as mais brutais guerras por conta desse presente.
De fato, os seres humanos eram fascinantes.
Tanto que a sua existência ínfima foi desejada pelos deuses.
Como deveria ser tão frágil? Perguntou a Terra.
Como deveria ser tão limitado? Indagou o Oceano.
Como deveria ser tão lento? Questionou o Vento.
Os murmúrios entre os deuses começaram e até hoje ninguém sabe quem os começou. Tudo que se sabe é que os deuses quiseram se tornar humanos. E fizeram isso ser problema do seu líder.
O líder afirmava que não podia permitir aquela insanidade. Quem cuidaria do dia e da noite? Quem estaria moldando as estações? O equilíbrio do universo dependia da gerência dos deuses.
Então eles barganharam.
Eles eram imensuráveis e suas formas eram incompreensíveis para os seres humanos. Podiam deixar partes suas cuidando dos mundos. Aquela parte ínfima, que mal fazia diferença para sua existência celeste, poderia tomar a forma de humano.
O líder, desistindo de tentar convencer seus semelhantes, cortou um pedacinho de cada um deles e os colocou na terra. Prendeu uma pequena infinidade num corpo limitado. Os deuses foram montados em ossos, carne e pele, feitos da água do Oceano e da poeira das Estrelas. Viveriam e sentiriam como aqueles seres o faziam.
O líder não tardou em advertir seus loucos parentes; apesar de ainda possuírem seus poderes celestiais, poderiam ficar nessa forma patética por apenas 30 dias.
O corpo humano era estranho. Frio demais para o Verão e quente demais para o Inverno. Seus olhos viam de forma clara demais para a Noite e escura demais para o Dia. Sua aparência era feia demais para a Lua e impotente demais para o Sol. Ser humano era algo muito diminuto para as Estrelas e o Oceano.
Era como ser menor do que se era.
Ser humano foi a sensação mais emocionante que os deuses tiveram em eóns.

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O Conto das Estrelas e do Oceano
Fiksi UmumHistoricamente, civilizações antigas usam mitos e contos para explicar fenômenos quotidianos e desenvolver lições de moral. Por exemplo, o folclore brasileiro apresenta um belíssimo conto para a origem da flor Vitória-Régia e a tragédia grega de Íca...