Capítulo 1

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Rio de Janeiro estava se sentindo adorável. Havia terminado seu trabalho na empresa mais cedo do que o previsto, então conseguiu passear pelos blocos da mesma, cumprimentando e conversando brevemente com quem encontrasse disponível no caminho. Uma pena que apesar de já ser consideravelmente tarde, alguns ainda estava trabalhando. Mas se animou com o pensamento de que era sexta-feira, e com certeza iria dormir até pelo menos as 11h no dia seguinte.

Dos 5 blocos, Rio passou só pelo do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, voltando para o Bloco SE para juntar suas coisas e ir embora. Ele era um dos que ficavam até bem mais tarde por causa da carga de trabalho do seu Estado, estava acostumado a isso. Ainda assim, hesitou enquanto colocava sua bolsa tiracolo. Bufando, olhou para o escritório ao lado do seu, o qual as luzes ainda estavam acesas. Na verdade, Rio não via essas luzes desligadas há 4 dias. Ele não costumava reparar, mas quando se sai mais 23h do trabalho é meio difícil não reparar na luz ligada do escritório ao lado do seu.

Se fosse o escritório de qualquer outra pessoa do país ele entraria sem hesitar logo no segundo dia, mas esse era o escritório do São Paulo. E Rio e Sampa não se davam nada bem.

Ele andou até a porta fechada, e se apoiou na parede, se perguntando se ele estava mesmo disposto a brigar tamanhas 10 para a meia-noite. Sentia sua cabeça latejar depois de passar o dia no seu próprio escritório, lendo, estudando, vendo gráficos, fazendo relatórios e cuidando do rendimento de cada área econômica e social do seu Estado, mas sua consciência simplesmente não parecia disposta a ignorar isso. Num impulso, antes que desistisse, bateu na porta.

Nada. Nenhuma resposta. Nenhum som na verdade. Sentiu uma sensação ruim na espinha. "Puta merda, será que ele finalmente morreu de tanto trabalhar?"

Bateu na porta novamente, mais forte dessa vez. Ainda sem resposta. Colocou a mão na maçaneta, com o celular na mão pronto para ligar para o Minas caso encontrasse São Paulo desmaiado no escritório.

Assim que abriu a porta, sentiu o cheiro forte de café que havia ali. Quando direcionou o olhar para a mesa, ele soltou a respiração (que ele não lembrava de ter segurado) e guardou o celular. Sampa estava dormindo em cima da sua mesa, babando tranquilamente em um papel, provavelmente o relatório que ele estava escrevendo, considerando a caneta tinteiro ainda na sua mão.

Antes de qualquer coisa, Rio colocou a mão na boca, segurando a risada. Pegou seu celular e bateu umas 5 fotos do moreno pensando "mas que ótima moeda de troca para favores". Depois, guardou o celular e sentou num banquinho que havia ali, tirando a pilha de papeis dele e colocando no chão. Refletiu sobre o que deveria fazer.

"Bem, ele não tá morto", pensou Rio. "Então acho que eu posso só meter o pé e evitar um soco". Mas sua consciência o fez perceber as olheiras no estado vizinho, que estavam bem mais profundas que o normal. Isso, além dos quase 5 maços que deviam ter naquele cinzeiro, e os 2 pacotes vazios de café no lixo, o fez perceber que Sampa não devia ter saído dali nos ultimos 4 dias. "Merda, por que logo eu tenho que ficar de babá desse marmanjo?"

— Ow, Sampa - ele chamou o menor, balançando-o de leve - Mermão, cê real devia ir pra casa.

— Hm, sai - murmurou o paulista, virando para o outro lado, tensionando de leve as sobrancelhas

— Colé, vamo cara, tá tarde, eu quero ir embora. - reclamou Rio, cutucando com mais força o sudestino.

Este, só murmurou mais qualquer coisa e voltou a dormir. Rio de Janeiro bufou. Não estava com saco para isso. Saiu da sala e foi até a cozinha, voltando com um borrifador.

— Ow, acorda cuzão - ele disse, espirrando água gelada no paulistano, que levantou com tudo, pulando como um gato eriçado

— MAS QUE PORRA?! - ele gritou, absolutamente puto. Quando olhou para frente e viu o carioca de pé, com uma mão no bolso e rindo de lado com um borrifador na mão, ele teve certeza que ia gastar seu réu primário ali. - QUAL. O. SEU. PROBLEMA?!

Biscoito e BolachaOnde histórias criam vida. Descubra agora