Durante todo o percurso até a casa de Max, minhas mãos ficam inquietas segurando a carta e tento fazer contato visual com ela múltiplas vezes, mas ela se recusa a olhar pra mim
S "É melhor você ser rápida Mayfield" Steve afirma quando chegamos
M "Vinte segundos" Ela responde, saindo apressada do carro
Vinte segundos se passaram. 5 minutos. 10 minutos. 15 minutos
Já estávamos fora do carro esperando e eu estava quase entrando na casa, mas ela apareceu, aflita
S "Isso demorou mais que 20 segundos"
Max não responde nada, só entra no carro e vira o rosto para a janela
S/n "Aconteceu alguma coisa?"
S/n "A gente pode por favor só ir embora?"
O percurso até o cemitério é em completo silêncio. Ficamos hesitantes em ir até lá, mas ninguém quis contrariar a Max naquele momento
No segundo que o carro para, Max sai e vai andando, eu não consigo simplesmente esperar ela aqui. Levanto e vou atrás
S/n "Max?"
M "S/n, por favor, espera no carro" Ela continua andando, me ignorando
S/n "Por favor! Só me escuta" Eu digo depois de alcançar ela. Max para pra me ouvir
S/n "Eu sei que aconteceu alguma coisa lá com a sua mãe" Ela desvia o olhar "Foi o Vecna?"
Percebo a mudança na expressão de Max. Ela tenta sorrir e fingir que está tudo bem, mas eu conheço ela tanto quanto conheço a mim mesma
M "Eu já disse, estou bem. Na medida do possível para alguém que deve morrer em uma questão de horas" Ela vê que eu não acreditei e começa a encarar o chão
S/n "Max...Você sabe que pode falar comigo, não é?"
M "Eu sei"
S/n "Então por que você não para de me afastar de você?" Ela não me responde. Eu tiro o envelope do bolso "Eu não preciso de uma carta, eu não quero uma carta, só fala comigo. Eu tô aqui" Ela me olha e aperta os lábios "Eu tô aqui" Eu repito, minha voz vacila um pouco.
Ela inclina o rosto para o lado e me olha um pouco antes de me abraçar, agarrando meu pescoço com força. Eu a seguro em sua cintura e pareço retomar o controle da minha respiração depois de a ter tão perto
Quando Max lentamente se afasta, suas mãos ainda estão ao redor do meu pescoço, seu rosto a centímetros do meu. Inclino levemente a testa, encostando na sua. Aprecio a visão de olhar nos seus olhos pelos poucos segundos que ela dura. Eu quero abraça-lá de novo, quero beija-lá , quero não deixar ela me largar nunca mais
"Por favor. Espera no carro" É o que ela diz antes de se desvencilhar de mim e ir em direção ao cemitério
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Max pov
Me sento em frente a lápide de Billy, abro o envelope e desdobro a carta
Querido Billy,
Não sei se você pode me ouvir. Há dois anos eu teria dito que é ridículo, talvez até impossível, mas isso foi antes de eu descobrir as dimensões alternativas e monstros.
Não vou mais assumir que sei coisa alguma. Muita coisa aconteceu desde que você partiu, seu pai ficou péssimo e ele e minha mãe brigavam toda hora, brigas feias. Acho que ele não suportava ficar aqui sem você, então ele se foi. Não deixou muito pra minha mãe, ela arranjou mais um emprego e nos mudamos para aquele adorável parque de trailers de Kerley. Basicamente, desde que você se foi, tudo foi um desastre total.
A pior parte é eu não poder dizer a ninguém por que você realmente morreu, eu não posso dizer que você salvou El, que me salvou.
Aquele momento se repete na minha cabeça o tempo todo, e as vezes eu me imagino correndo até você, te puxando para longe. Eu imagino que se tivesse feito isso, você ainda estaria aqui e tudo voltaria ao normal. Imagino que poderíamos ter virado amigos, como irmãos de verdade.
Eu sei que isso é estúpido, você me odiava e era recíproco, talvez eu tenha pensado que poderíamos ter tentado de novo. Mas não foi isso o que aconteceu. Eu só fiquei lá e assisti.
Durante um tempo eu tentei ser feliz, normal. Consegui por um tempo, mas eu nunca me senti eu mesma de novo, acho que parte de mim também morreu aquele dia. Não disse isso a ninguém, não posso.
Mas eu queria te dizer antes que fosse tarde. Se você estiver conseguindo ouvir isso, e eu realmente espero que esteja, eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo.
Com amor, sua irmãzinha de merda,
Max
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Ficamos esperando no carro, como Max pediu, até Steve se levantar
S "Já chega"
S/n "Dá um tempo para ela" Eu peço
S "Eu já dei, Wheeler" E ele começou a subir em direção a onde Max estava
Esperamos mais um pouco até ver Steve começar a agir estranho. Ele bateu palmas e chamou por ela repetidas vezes
Antes de pensar em qualquer coisa eu já estou correndo ao encontro deles. Vejo Max com os olhos quase brancos, paralisada
Sento na frente dela e tento gritar seu nome, sacudi-lá, mas de nada adianta. Steve manda Dustin ligar para as meninas e ele dispara até o carro.
Max continua imóvel. Dustin chega e joga todas as fitas cassetes de Max no chão
S "QUE ISSO?" Steve pergunta, desesperado
D "MÚSICA!! QUAL A MÚSICA PREFERIDA DELA?"
S/n "Que?? Pra que??"
D "Robin disse que...Não dá para explicar agora. QUAL A MÚSICA PREFERIDA DELA?"
Eu instintivamente pego a primeira de Kate Bush que encontro e dou nas mãos nele. É uma confusão, quanto mais rápido tentamos agir mais nos enrolamos e demoramos.
Finalmente, consigo colocar os fones de ouvido nela "VAI!" Peço a Lucas, que dá o play na música poucos segundos antes de Max começar a flutuar, exatamente como Eddie havia descrito que aconteceu com Chrissy
As lágrimas caiem em meus rosto de forma que nunca vi, descontroladamente. Ao mesmo tempo, tudo e nada se passa na minha cabeça. Eu pareço estar assistindo de fora meus berros por Max, vendo ela de baixo
Cada segundo que se passa com ela suspensa é dolorosamente arrastado. Eu não consigo ver isso. O simples pensamento dos ossos da minha amada se partindo e isso ser a última coisa que ela sentiria me faz despedaçar por completo
Mil pensamentos passam pela minha cabeça, meu coração mais acelerado do que nunca. Até que Max cai. Em breves segundos ela está no chão, seu corpo trémulo, olhos arregalados, respiração rápida como eu nunca havia visto
Seus movimentos são desordenados. Eu agarro ela por trás e a encosto no meu peito, a segurando o mais forte que consigo. Max está arfando, tentando voltar a respirar
"Tá tudo bem, eu tô aqui" Minha voz é sussurrada. As mãos de Max agarram meus braços como se sua vida dependesse disso
"Pensei que tinha te perdido" Consigo dizer entre entre soluços "Eu ainda estou aqui" Sua voz está trêmula como nunca, mas mesmo assim é a primeira vez que me sinto segura no dia
"Não posso perder você"
"Você não me perdeu"
