tolerate it

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Max pov

Sento na frente da sra Kelly e tiro o fone de ouvido. Ela não perde tempo e começa a analisar meu histórico escolar, que está em sua frente
K "Um C em gramática e um C- em espanhol?" Ela me encara em busca de respostas que eu não tenho
K "Isso não é normal para você"
M "Se você diz"
K "Como tá sua mãe?" Meu corpo estremece com essa pergunta, encaro meus pés batendo aflitos no chão
M "Ela tá bem. Tipo, ela odeia a casa nova...Que é horrível. Mas ela tá bem"
K "Ela continua bebendo?"
M "Continua. Não como antes...Ela tá segurando dois empregos. Não tá sendo fácil pra ela" Sinto minha voz falhando ao responder
K "E não deve estar sendo fácil para você também. Sem seu padrasto e tudo mais"
M "É até melhor sem ele, sinceramente"
K "Melhor como?"
M "Ele era um babaca, então agora tem menos babaquice? Acho que isso"
K "E como você tem dormido?"
M "Normal" Minto

K "Então sem dores de cabeça?" Confirmo com a cabeça "E pesadelos?" Engulo seco com a pergunta e tento afastar todas aquelas visões de Billy que tenho quase diariamente
M "Não" Minto novamente
K "Max...Tudo que você viveu e o que ainda está vivendo é muito para qualquer pessoa. Tá tudo bem você não estar bem. Mas eu só consigo ajudar se você for honesta comigo, se se abrir"
M "Eu sei. Eu estou me abrindo" Ela suspira pra mim, sabendo que não estou não
K "Encontrei com a S/n hoje. Tem falado com ela?"
Pronto, era o que eu precisava para isso piorar
M "Eu tenho mesmo que falar dela? Isso tem a ver com meus traumas?" Pergunto ironicamente
K "Você não tem que falar de nada que não quiser Max. Só acho que te faria bem manter contato com algumas pessoas que passaram por isso com você"

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Estou esperando Max do lado de fora da sala da orientadora. Passei os últimos seis minutos ensaiando mentalmente o que vou dizer para não soar desesperada
Ela sai aflita da sala e se assusta quando chamo seu nome
M "Você tá me perseguindo agora?" Ela diz, ríspida, enquanto começa a andar
S/n "Não! Eu só queria te dar isso" Estendo a mão, a entregando o papel que vinha segurando
M "O que é isso?" Ela nem olhou. Apenas seguiu andando
S/n "Ingresso pro jogo do Lucas" Ela vira pra mim e me encara "Eu sei que você nunca quis ir em nenhum, mas é a final e provavelmente nenhum dos meninos vai. Você nem precisa ficar perto de mim se isso for o que te incomoda, eu vou estar cobrindo o jogo pro jornal. Mas ele ficaria feliz de te ver lá"
M "Sério S/n? Agora você se importa com os jogos do Lucas?"
S/n "Sim. Talvez você devesse se importar com alguma coisa também" Max para de andar aos ouvir as minhas palavras e me encara séria
M "Que porra você quer dizer com isso?" Eu hesito em responder, pensando em como não piorar a situação
S/n "É só que...Parece que você nem está mais aqui" Max me encara confusa, esperando uma explicação da minha fala "Como se tivesse virado um fantasma ou algo do tipo"
M "Um fantasma?" O jeito que ela diz isso é triste, como se meu comentário tivesse a magoado "Sério?"
S/n "Max. Eu sei que tem alguma coisa errada"
M "Claro. Por que eu devo ter alguma coisa errada para ter terminado com você né?"
S/n "Não é isso. Você nem parece mais...Você"
M "Olha S/n, as pessoas mudam. Só isso, eu mudei" Ela vai a caminho do banheiro, mas antes de partir recua e me devolve o ingresso, sem dar uma palavra

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   Sinto o ar no ambiente gelado. A janela no quarto de Max está escancarada e a ventania bate diretamente em sua cama, onde ela está deitada virada para a parede. Desde que ela se mudou para o parque de trailers, seu quarto é uma bagunça. A chuva está forte e o céu cinza, deixando a tarde com uma sensação triste.
   Chego perto da cama e sento ao seu lado, eu não sei se ela reparou que eu cheguei, nenhuma reação sai de seu rosto.

S/n "Senti sua falta ontem" Afirmo, me referindo ao dia de aula que ela faltou. Max não responde
S/n "Tá tudo bem?" Novamente sem resposta
S/n "Eu posso ir embora se você quiser"
M "Não. Fique" Sua voz sai como um sussurro, eu respiro fundo e deito minha cabeça em seu travesseiro, ficando do seu lado
S/n "Eu disse aos professores que você estava passando mal" Percebo o silêncio e tento encostar a mão em seu braço, ela permite
S/n "Amor. O que está acontecendo? Fala comigo" Escuto sua respiração alta, mas nenhuma palavra sai de sua boca
S/n "Por favor"
M "Eu não consigo mais fazer isso" Minhas batidas aceleram de forma incontrolável aos ouvir suas palavras
S/n "Isso o que?"
M "Tudo. Eu só queria me enfiar em um buraco e ficar"
S/n "Deixa eu ficar nele com você então" Peço, praticamente implorando

    Max finalmente se vira, ficando frente a frente comigo
M "S/n..." Ela diz enquanto coloca uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha  "Eu não posso mais fazer isso com você. Eu fiz você viver assim por meses, não é justo"
S/n "Você não me fez fazer nada. Eu quis estar com você. Ainda quero. Você é a minha pessoa" Tento reafirmar a ela
M "Eu sei que você não me deixaria no estado que eu estou. Mas eu estou na menor condição de ser a pessoa de alguém agora"
S/n "De onde está vindo isso tudo? Eu achei que a gente estava bem"

    A ruiva se senta, encostando na parede e leva as mãos ao rosto, como uma criança escondendo choro. Eu me sento na frente dela e removo suas mãos, fazendo ela me olhar
S/n "Ei, eu amo você, eu quero estar com você. Seja no seu melhor ou pior" Acho que isso pode ser uma de suas crises de insegurança, então tento novamente reafirma-lá
M "Eu não tenho mais um melhor S/n . Talvez nunca mais tenha. Não posso mais fazer isso com você"
S/n "O que você está querendo dizer com isso?"
M "Eu...Eu não queria ter que fazer isso"
S/n "Então não faça"
M "S/n..."
S/n "Você deixou de me amar? De me querer por perto?"
M "Claro que não. Mas eu preciso passar por isso sozinha. Não é justo você ter que viver assim"
S/n "Nada do que aconteceu com você foi justo. Lembra do que a gente combinou no dia que El partiu? Contanto que a gente não desabasse ficaríamos bem"
M "Não dá para uma pessoa sozinha impedir duas de desabar"

S/n "Então impeça comigo. Max, volta a viver, por favor. Eu preciso de você"  Minha voz sai em meio a soluços, meu rosto já está coberto por lágrimas
M "Por favor S/n. Não torna isso mais difícil, tenta entender..."
S/n "Eu não entendo. Você estava voltando a ficar bem, disse que me amava aquela noite na colina"
M "Mas eu te amo"
S/n "Então por que está fazendo isso?"
M "Porque eu não tenho escolha. Preciso fazer"
S/n "Você está terminando comigo? É isso?" Eu digo já me levantando
M "S/n..." Entendo a resposta que seu silêncio passa.
S/n "Então tenha a decência de não dizer que é pelo meu bem porra! Se VOCÊ quer terminar então fala, mas não finge que é pelo meus sentimentos"

   Ela não consegue nem olhar pra mim. Max começa a chorar enquanto encara a janela.
S/n "Depois de tudo que a gente passou esses meses..." Estou andando de um lado pro outro no apertado cômodo, me segurando para não desabar em sua frente
M "Depois de tudo que EU passei S/n! Para de falar no plural! A minha vida praticamente acabou depois daquilo. Você não perdeu ninguém aquela noite"  Pelo seu rosto, percebo que aquilo devia estar preso em sua garganta há um tempo
   Suas palavras fazem meu coração partir em um inúmeros pedaços. Nunca achei que pudesse sentir tanto ao mesmo tempo. Eu encaro seu rosto, tentando decifrar algum remorso. Seu rosto está avermelhado e olhos inchados, seu olhar demonstra súplica e dor
S/n "Eu perdi você"

   É o que consigo dizer antes de fechar sua porta e sair o mais rápido que consigo. Sinto as fortes gotas de água encharcando minhas vestes enquanto me distancio do trailer. Ando até parar embaixo de uma árvore, que me protege da chuva. Meu corpo cede encostando nela e me sento no chão, finalmente permitindo que as lágrimas desçam por completo, me permitindo desabar.

it would've been you - max mayfield Onde histórias criam vida. Descubra agora