⁰⁰¹ | 𝑺𝒍𝒆𝒆𝒑𝒚.

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— junho, 2023

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junho, 2023.

     Pulei da cadeira num susto, o som ensurdecedor do telefone ecoava em meus ouvidos.

— Alô? — chamo sonolenta.

— Bia, estava dormindo? 

— Dior! Não... claro que não. — falei, passando a mão pelo rosto. 

— Deixa eu adivinhar: passou a noite toda estudando. 

      Na lata. 

— Não! Você sabe que eu não estou fazendo isso mais. — minto.

— Quer mentir logo pra mim, Bia? Fala sério, nós nos conhecemos há doze anos.

      Solto um suspiro pesado.

— Eu preciso passar no concurso, Di.

— Eu sei que é o seu sonho, mas viver à base da cafeína não vai fazer você passar milagrosamente. 

— Eu não estou vivendo à base da cafeína! 

— Ah, não? Então me diz quando foi a última vez que você dormiu mais de oito horas nos últimos seis meses. 

    Permaneço calada. 

— Eu já imaginava. Você acha mesmo que dormir pouco ou nada vai ajudar você a passar? 

— Sim? 

— Não! — ela gritou, fazendo meus ouvidos doerem. 

    Desligo o telefone sem dizer mais nada e giro a cadeira em que estava, as anotações todas esparramadas na mesa. Eu havia passado a noite toda em claro, estudando. 

    O telefone toca novamente e um suspiro escapa dos meus lábios ao perceber que era minha mãe.

— Mãe! — finjo alegria. 

— Oi, meu bem. Estudando muito? — a voz dela ecoa, doce e suave. 

— Ahn, sim, bastante. 

   Ela ri baixo. 

— Estou muito orgulhosa de você, sabe disso, né? 

— Sei, mãe... 

— E mesmo que você não passe, seu esforço já significa muito pra mim. 

    Mordo meu lábio inferior, sem resposta. 

— Enfim, você deve estar cheia de coisas pra fazer, vou deixa-lá estudar em paz. 

    Pisco algumas vezes e concordo, desligando o telefone.

    A luz do sol reflete em meus olhos, fazendo-os doer, eles se abrem lentamente, tudo não havia passado de um sonho. Eu estava no meio do concurso e havia cochilado, uma hora de prova havia sido perdida.

— Droga, eu deveria ter ouvido Dior e dormido mais... — murmuro para mim mesma.

     As letras se embaralhavam umas nas outras enquanto eu tentava repetidamente formar uma frase que fizesse sentido ali no papel.

    Dislexia.

     Eu não tinha tomado meus remédios, nem dormido, o que eu esperava? A verdade é que eu fiquei preocupada demais com a densa quantidade de conteúdo para a prova, mas agora havia esquecido de tudo. Foram oito meses completamente desperdiçados.

   Um suspiro pesado escapa dos meus lábios.

   Pego a caneta e resolvo marcar qualquer alternativa em todas as questões, não tinha mais tempo e nem força de vontade, tudo que se passava pela minha cabeça era o quão frustrante era ter perdido todo aquele tempo para nada.

    Termino de assinalar as questões e pego minha mochila, colocando-a sobre meus ombros, puxo a folha de papel de cima da mesa e caminho até o instrutor, ele pareceu surpreso ao me ver entregando a prova, provavelmente tinha me visto cochilando e estava se perguntando como eu tinha respondido todas as questões tão rapidamente. Dou um sorriso forçado e caminho até a porta da sala, pegando meu celular.

    Uma mensagem em específico chama a minha atenção:

      “Como foi no concurso, minha futura fotógrafa?” 

     Senti um aperto no peito, minha mãe era uma das únicas a sempre me apoiar no meu sonho de ser fotógrafa e cursar uma faculdade. 

    Não tive coragem para responder, desliguei o celular e segui meu caminho, andando de cabeça baixa enquanto pensava sobre a merda que havia feito.

     Até que: PAF!

     Me choquei contra alguém, os livros da pessoa caíram no chão, juntamente com meu telefone.

— Meu Deus, me desculpa! — falei, abaixando a cabeça para pegar o que tinha derrubado.

— A culpa é minha, eu estava distraído. — era um garoto, ele se abaixou também, pegando meu celular e me entregando. — Espero que não tenha quebrado... — ele deu um sorriso envergonhado.

— Imagina, eu também estava... — entrego seus livros e finalmente vejo seu rosto.

     Ele era alto, mais alto que eu, pra minha surpresa. Era muito difícil encontrar caras mais altos que eu, tinha cabelo preto sutilmente ondulado, quase nada. E um sorriso... bonito.

     O garoto estava sorrindo, mas parecia nervoso, olhou ao redor como se estivesse sendo perseguido ou algo assim.

— Bom, foi um prazer, senhorita. — ele fez uma reverência desajeitada e se afastou rapidamente dali.

    Fiquei parada por alguns segundos, tentando processar o que havia acontecido, aquilo tinha sido muito clichê para minha realidade.

    Balancei a cabeça em negação e segui meu caminho até em casa.

    Minha única certeza naquele momento era: eu precisava dormir, muito.

    

𝑬𝑵𝑪𝑯𝑨𝑵𝑻𝑬𝑫 - 𝑪𝒉𝒂𝒓𝒍𝒊𝒆 𝑩𝒖𝒔𝒉𝒏𝒆𝒍𝒍.Onde histórias criam vida. Descubra agora