Do lado de fora, pássaros cantavam com um tom irritante de alegria, enfeitando o ar com uma suave melodia, misturando-se com risos infantis logo de manhã, acompanhado por conversas matinais. O vento fez a cortina oscilar, espalhando um frio gélido de inverno para dentro do cômodo, soprando o fogo que se manteve constante, mas não quente o bastante.
Levantando, Armina se sentou na cama, o corpo alto gracioso coberto por nenhuma roupa. Sentia um emaranhado nos cabelos, o rosto seco e olhos inchados por uma noite mal dormida - regada a lágrimas - ela se levantou, um peso nos ombros, se pendurando no lavabo. Encarou sua faceta de maneira brusca, notando os anos que mal se passaram diante de sua aparência, mas quanto? Quanto se passou? Quanto tempo perdeu a procura de alguém que fugiu de sua existência?
Tantos mundos os quais deixou, amigos que conquistou e perdeu, guerras que se juntou e ganhou, tudo, mundos inteiros onde poderia ter estabelecido uma vida, tal como Amren fizera, com outra família.
Depois de um banho que ela chamava de nada revigorante, decidiu por descer as escadas e enfrentar um novo dia, preparar-se para sua futura partida, que provavelmente aconteceria em breve, no mesmo instante em que ela ficasse cansada de procurar; respirando fundo, Armina se sentiu estranha ao notar que achou o que procurava, e agora um intenso vazio tremia seu coração oco.
— Bom dia — disse alguém, a voz com o teor masculino reverberando pela sala.
Descendo o último degrau, os cabelos escuros se moveram com o toque áspero do vento, levando Armina a fechar com mais força o casaco de pele ao redor dos ombros
— É cedo. — Piscou, confusa. Os lábios se retorceram ao encarar Rhysand em toda sua glória de beleza já ao amanhecer. — E está frio, por que não está na casa, Grão-Senhor?
— Eu poderia perguntar a mesma coisa — gracejou, devolvendo no mesmo tom, inclinando os lábios em um sorriso travesso, para logo inclinar a cabeça em direção a mesa. — Se quiser comer.
Com um suspiro, Armina se sentou com petulância, esparramando o corpo de maneira agressiva e ao mesmo tempo delicada. Curvando o corpo para frente, ela asfregou levemente os olhos ainda cansados, testemunhando o banquete disposto: bolo; pão, suco, cafés, frutas da estação; e sangue. Sangue. As sobrancelhas finas se arquearam para o cheiro que subia até suas narinas, fazendo com que levantasse os olhos encarando Rhysand por debaixo das curtas pestanas.
— Por que tem sangue de animal na mesa? — Indagou, uma feição estranha de diversão surgindo. — Oh, entendi, você é do tipo que gosta de coisas diferentes...
— Não — respondeu, curvando as sobrancelhas quase como se estivesse ofendido. — Quer dizer, sim, gosto de coisas diferentes, mas não de sangue.
Enfiando a ponta do dedo mindinho no líquido viscoco, Armina brincou criando pequenos círculos, cantarolando, a essa altura, toda sua tristeza parecia ter sumido.
— Pensei que gostasse, sua...
O sorriso zombeteiro sumiu, dando espaço a uma carranca de vazio o encarando, um desafio para que terminasse a frase.
— Notei que não gosta.
— Eu gosto de chocolate — revelou, revirando os olhos como se fosse óbvio.
O Grão-Senhor não precisou olhar ao redor da sua mesa para concluir que que não havia o chocolate que Armina decidiu revelar gostar, ele mesmo não era o maior apreciador desse tipo de doce, o gosto cheio de açúcar queimava a língua, no entanto, a petulância vívida estava ardendo no rosto dela. Rhysand constatou que, mesmo com toda aquela arrogância impregnada, a mulher diante de si nem sempre tinha o que desejava.
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A Caçula | ʳʰʸˢᵃⁿᵈ (EM BREVE)
FanfictionArmina não é uma feérica, nem mesmo pode ser chamada de humana ou qualquer outro nome que se dá para criaturas com magia. Seu poder é distinto, diferente, antigo e há muito inexistente. Sua idade não tem número certo, seu poder não tem um fundo e...