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Eu sempre me surpreendia como Ares ficava calmo comigo e quando outras pessoas chegavam perto dele relutante. Ele não deixava ninguém montar nele além de mim. Ele era alto pra raça dele, visto que a raça dele não passava de um metro e meio, já Ares era um pouco maior que eu, que tinha um metro e setenta. Ele compensava o pouco tamanho com resistência, velocidade e corpulência. 

Fechei o estábulo trazendo Ares comigo. Meu turno começava às nove horas e terminava às cinco da tarde, mas hoje eu tinha chegado muito cedo, antes das sete da manhã, então eu já estava exausta, ainda teria que ir até o bar. Então meu dia terminaria bem tarde hoje. Suspirei. Era cansativo, uns dias melhores que os outros, mas eu não podia reclamar, era minha culpa e eu tinha muita sorte da minha tia não jogar isso na minha cara. Ela e Anne eram ótimas.

Montei em Ares me despedindo de alguns funcionários que eu via ali. Eu trabalhava sozinha na maioria dos dias, tinha ficado com o cargo de Raphael que havia se tornado o motorista particular do senhor Lorenzo, um cargo almejado visto que o dono da fazenda mal andava de carro. Eu gostava de trabalhar com cavalos, sentia uma conexão pelos animais e além do mais, era relaxante cuidar deles, não exigia muito cuidar do estábulo, era mais manter organizado. Mas mesmo assim eu ainda gostava de alguns funcionários que trabalhavam ali, nem todos claro, a cidade era do interior, alguns não gostavam do fato da minha sexualidade ser assumida, outros  preferiam não se envolver comigo por medo de acharem que estaríamos tendo um caso e tals, virei os olhos mentalmente, eu não me importava, nunca me importei com a opinião das pessoas, claro que na cidade grande as coisas eram bem mais normais, já em Bandeira, tudo era um reboliço. Mas tinham alguns que eu gostava, Raphael, Marta, Diego, o filho da Marta que tinha uma paixão assumida por mim, mas no geral era um bom rapaz, não forçava a barra. E claro, o seu Lorenzo, ele era simpático, atencioso e gentil, não se importava com o fato da minha sexualidade, algo básico, mas que em Bandeira ainda era um tabu. Mas além disso, eu tinha um carinho por ele semelhante ao que se tem por um pai, o pai que eu nunca tive por assim dizer, não que fosse culpa dele, era um bom homem, ou até a morte da minha mãe ela não seria declaradamente apaixonada por ele. Era policial, morreu no trabalho pouco tempo depois que eu nasci, minha mãe dizia que ele era apaixonado por mim, sempre comigo em seu colo, eu era a sua menininha, desejava ter conhecido ele, tia Margareth diz que ele era um bom pai, um homem de respeito e trabalhador, ela também costumava ressaltar que eu tinha a força de vontade dele, e o desejo de cuidar da melhor forma das pessoas amadas. 

O céu estava começando a escurecer, o dia começava cedo aqui, e terminava na mesma rapidez. Antes das seis horas o céu já estava totalmente preto, sem nem perceber, vi meus olhos seguindo o casarão. A mansão Costello, a maior residência que eu já tinha visto e claro, a maior de Bandeira. A maioria dos quartos eram de hóspedes e ficavam fechados a maior parte do ano, outros cômodos estavam claros, cheio de luz, a cozinha, a sala de estar, o jardim reluzia, deixando as árvores e flores aí ainda mais bonitos entre a luz dourada, eu conseguia ver praticamente toda a casa do estábulo, que ficava em uma parte elevada do terreno, só a entrada que eu não conseguia, mas tinha uma bela visão do jardim. Um quarto capturou minha atenção, ele era grande, tinha uma sacada clara, devia ter uma ótima vista da lua, debruçada na sacada de vidro, estava a filha de seu Lorenzo, ela vestia um robe preto comprido, os cabelos agora estavam soltos e iam até a cintura, caindo em cascatas encaracoladas, ela estava olhando para o céu e em uma das mãos tinha uma taça de vinho. Estava cedo para já estar no quarto parecendo prestes a dormir, mas ela estava parecendo cansada, eu não conseguia ver seu rosto com exatidão de tão longe, mas sabia que ela era muito bonita. Daqui poderia achar ela até mesmo angelical, mesmo sabendo que ela não era. Parecia ter problemas, mas que tipos de problemas uma garota rica, com um pai que visivelmente a ama muito poderia ter? Talvez se não fosse tão arrogante poderia ser mais contente, neguei com a cabeça, não era certo ficar admirando a filha do patrão, por mais bonita que ela fosse. E eu não queria minha mente voando longe. De maneira nenhuma. 

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