Saborosa Vingança

6

A semana passou como sempre passava. Trabalho, casa, trabalho e vise e versa. Sem imprevisto, e nossa dívida? Bom, estava bem longe de ser quitada, outro aviso de débito havia chegado na casa, minha tia que recebeu, não quis me contar, minha irmã que encontrou e me entregou.

Fechei os olhos suspirando, em minhas mãos estava uma escova, parou no meio do corpo robusto de um dos cavalos do estábulo. Hoje estava um dia particularmente quente, sentia meu rosto molhado pelo suor, o estábulo era calmo, mas era um péssimo lugar no verão.

Ouvi passos atrás de mim, me virei para encontrar quem tinha entrado. Foi impossível não erguer as sobrancelhas ao ver quem era. A filha do seu Lorenzo, eu não tinha visto ela desde aquele dia na janela do seu quarto, tinha evitado olhar na direção do seu quarto também. Sua expressão estava mais leve hoje. Os cabelos estavam soltos, volumosos e brilhantes, mais negros que a noite, vestia uma camisa leve branca e uma calça de montaria.

— Boa tarde — disse por educação, ela somente me lançou um sorriso de lado sem revelar os dentes.

— Prepare minha égua, quero montar nela — se encostou na parede de madeira cruzando os braços magros em seguida, contendo a vontade de resmungar fui fazer o que ela pediu — Não trabalha a muito tempo aqui certo?

— Três anos — respondi simples, contendo a surpresa na minha voz pela mulher estar tentando puxar assunto comigo.

— Nunca tinha visto você, mas visitei a fazenda nesse período.

— Não costumo sair muito do estábulo no meu período de serviço — finalizei rapidamente a égua e logo coloquei uma sela para a mulher poder andar nela.

— Percebi. Sua dívida é muito alta?

Me virei abruptamente na sua direção, minha testa franzida, meu rosto devia estar estampando surpresa. Ninguém sabia sobre isso. Mas a mulher permaneceu inabalável.

— Meu pai comentou comigo.

Acenei com a cabeça querendo acabar logo com o assunto, não era algo que eu gostava de falar com estranhos, principalmente com ela. Entreguei sua égua.

— Posso te ajudar, em questão da sua dívida.

Minha boca se abriu levemente, de todas as palavras que eu poderia imaginar ouvir essas era uma das menos prováveis.

— Pense a respeito — acrescentou com uma piscadela extremamente atraente. Puta que pariu, essa mulher era muito bonita.

Ela estava saindo do estábulo com a sua égua quando eu chamei ela.

— Não preciso, minha dívida é alta, muito alta, se você puder me ajudar estarei disposta a tudo.

A mulher deu um giro nos calcanhares, estava mordendo os lábios quando me olhou. Os olhos escuros brilhantes.

— Tenho certeza que temos idéias diferentes de valores altos.

— O que eu preciso fazer?

— Primeiro preciso saber se tenho o seu silêncio? Preciso que não fale nada sobre o que vou dizer — ergueu uma das sobrancelhas bem feitas, somente concordei com a cabeça, não era do tipo faladeira, mesmo duvidando que ela poderia me ajudar. Afinal era sustentada pelo pai.

Seu meio sorriso virou um sorriso inteiro, mostrando de dentes, uma fileira branca perfeita. Quase virei os olhos pela ironia, tudo nela era perfeito, desde os traços delicados quanto a postura arrogante que de alguma forma nela caia muito bem, e o sorriso, o sorriso dela era muito bonito, isso chegava a ser ridículo.

Como alguém era tão bonita?

— Quero que você se case comigo — disse com tanta naturalidade como se estivesse me perguntando as horas.

Meu rosto devia expressar pura confusão, minha boca se abriu para falar algo mas eu nem sabia ao certo oque dizer. Eu devia ter ouvido errado, ou era uma piada, mesmo eu duvidando que a pessoa na minha frente tivesse algum senso de humor. Com meu cenho franzido perguntei para ela.

— Desculpe, o que?

Ela suspirou fundo dramaticamente, com uma expressão de tédio no rosto.

— Quero que se case comigo em troca pago sua dívida.

Isso era inesperado e ridículo, não consegui evitar que um riso escapasse dos meus lábios.

— Isso é sério? Mas porque? Porque motivo você quer se casar comigo?

— Você não precisa saber dos meus motivos, assim como não preciso saber dos seus para estar devendo dinheiro.

Então ela não sabia, ótimo. Provavelmente minha tia tinha comentado com seu Lorenzo sobre nossa dívida ao vir pedir um emprego para mim.
Me questionei por alguns segundos o motivo pelo qual a mulher queria se casar comigo, ela não namorava ou estava noiva de um homem? Então logo as coisas ficaram claras, ela queria se vingar de alguém, provavelmente do noivo, não ficou muito claro para mim como ela conseguiria isso se casando comigo... a menos que ela quisesse envergonhar ele por se casar com uma mulher, engoli em seco me sentindo um pouco constrangida, eu me casaria com ela somente para ser o motivo de chacota de alguém? Eu não tinha muitas escolhas, tinha colocado minha família nessa situação de chegar a ponto de não ter onde morar, teria que nos tirar. Acenei com a cabeça, concordando com o acordo fútil que ela queria.

— Por quanto tempo?

— Não mais de um ano e meio.

Era justo, poderia pagar a nossa dívida e então ir morar em San Antônio. Não me importava os motivos fúteis pelos quais iria casar com aquela mulher a minha frente, que provavelmente era tão mimada a ponto de se casar com alguém por um motivo besta desses, o que importava era que ela ali seria minha chave para nos libertar de provavelmente perder a casa. Eu estendi a mão, não precisava pensar, ela olhou pra minha mão por alguns segundos, provavelmente se perguntando onde eu havia colocado ela, por fim com receio ela juntou nossas mãos, quase revirei os olhos, mas forcei meu rosto a ficar rígido, cheguei a conclusão que não poderia pensar muito caso quisesse não estourar meu cérebro durante esse período que estivéssemos casadas. O aperto não durou muito tempo, logo ela afastou a mão e não muito discretamente limpou ela na calça. Senti minhas narinas se dilatarem com isso.

— Ótimo então, logo te passo como vamos fazer isso.

— Precisa pagar minha dívida antes do casamento.

— Tudo bem — revirou os olhos escuros logo acenando com desdém — Qual é o valor, irei fazer um cheque e logo vou trazer.