Você conseguia sentir a sua camiseta branca grudando nas suas costas, bem como o seu cabelo na sua nuca. O sol do deserto fazia qualquer mínimo esforço parecer algo hercúleo, o vento quente fazendo pouco para aliviar o calor que você sentia mesmo sob a tenda montada numa planície pedregosa perto de Al Wajh.
Definitivamente aquela não era a forma como você queria começar o seu ano, mas não era como se você tivesse muita opção. Com uma agenda praticamente livre e um colega impossibilitado de viajar por problemas pessoais, coube a você ir até a Arábia Saudita para cuidar de um dos pacientes mais célebres da clínica.
— Fernando tá quase chegando — você ouviu alguém murmurar ao seu lado. Virando o rosto, você encontrou um homem de cabelos ondulados bagunçados pelo vento e os olhos semicerrados enquanto olhava para o horizonte, buscando algo no horizonte.
— Tem certeza, Alberto? — você perguntou para o empresário, erguendo uma sobrancelha — Já fazem dez minutos que o pessoal começou a chegar e nada dele...
— Pelo que disseram, tava logo atrás de uma outra Toyota — ele disse, enquanto uma nuvem de poeira subia ao longe, indicando que mais um competidor estava chegando ao acampamento da competição — Ah, olha ele aí.
Após cruzar a linha de chegada, você acompanhou Alberto na tentativa de conduzir a Hilux pintada de vermelho, branco e preto até o ponto mais próximo do motorhome que tinha se tornado a base de operações de vocês. Ao chegar perto do veículo, que cheirava a óleo quente e gasolina, você viu a porta se abrir de repente, revelando uma figura usando um capacete azul e um macacão preto com detalhes em branco e vermelho.
— Como foi? — Alberto perguntou, enquanto o piloto desconectava algo do painel central.
— Areia, pedra e poeira por dez horas — Fernando respondeu, enquanto desafivelava o cinto de segurança e retirava o capacete, revelando um sorriso cansado — Dez horas, acredita nisso?
— Acredito — o empresário falou, enquanto ajudava o piloto a sair da caminhonete. Depois de jogar o capacete sobre o banco e abraçar Alberto, Fernando seguiu na direção dos repórteres que se amontoavam numa grade para falar com ele.
Observando o piloto tirar o macacão sujo de areia, deixando o Nomex branco suado à vista, você sentiu algo quente subir pelas suas bochechas, os dentes encontrando seu lábio inferior.
Você nunca tinha se deixado levar pela natureza física do seu trabalho. As barreiras que você tinha colocado para si sempre foram firmes, assim como a sua ética que ditava que você jamais deveria se envolver com ninguém que tivesse requisitado os seus serviços. Mas, desde que você tinha colocado os pés em Jeddah, você viu a sua própria convicção ser testada todos os dias.
E estava ficando cada vez mais difícil resistir.
Respirando fundo, você se virou e foi em direção a tenda montada próximo ao motorhome de Fernando. Ao entrar no espaço, você se deu conta do quanto precisava ser feito ali antes que o piloto chegasse para a sessão de fisioterapia. Você precisava montar a mesa, arrumar os materiais e colocar a playlist instrumental que você adorava. "Vamos lá", você pensou enquanto ia em direção a sua bolsa.
Você estava assobiando uma música qualquer enquanto acendia as velas aromáticas quando ouviu um pigarro vindo das suas costas. Ao se virar, você encontrou os olhos escuros e curiosos de Fernando.
— Que música é essa? — ele perguntou.
— Ah — você sorriu, enquanto balançava o fósforo que tinha usado para acender a última vela — Não sei, na verdade...
— Não parece com aquelas besteiras ayurvédicas que você coloca pra ouvir durante as sessões — o piloto se aproximou lentamente da mesa de massagem, apoiando uma mão nela.
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[FERNANDO ALONSO] One Shots
FanfictionMuito além de escrever histórias longas, também me aventuro escrevendo uma ou outra one shot, nem sempre curtas, mas sempre detalhada demais para a minha própria saúde mental, já que não suporto não fazer histórias coesas. Todas as histórias aqui sã...