Trilha e Susto - Parte 2.

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Oi! Voltei rapidinho dessa vez. Espero que gostem desse cap. Não gosto de fazer meus meninos sofrerem. Boa leitura. Beijo! 💚

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- "Kelvin!".

- "Acorda, meu Kevinho. Oh, minha Santinha, pufavô... Pequetito". Ramiro chacoalha o marido levemente, como se temesse quebrá-lo. A essa altura, um casal nota que há algo errado, e após terem certeza de que não era nenhum perigo, eles decidem sair de sua barraca para averiguar.

Ramiro nota que, de repente, o chiado para. Abruptamente. Ele agradece internamente por estar agachado. Se não estivesse, provavelmente cairia no chão.

O ex peão continua chacoalhando Kelvin. Ele tem o menor praticamente em seus braços. Suas mãos desesperadas mal sabem oque fazer. Elas acariciam seus cabelos, chacoalham seus ombros, o seguram. Sua boca não se aquieta, fazendo preces atrapalhadas. Chamando sem parar o nome do amor de sua vida. Xingando o vento. Lágrimas escorriam em seu rosto. De alguma forma, Ramiro consegue notar um homem e uma mulher pouco atrás deles, os encarando, congelados.

- "Ajuda o Kevinho, ajuda ele... E-ele não acorda, não acorda... Pequetito...". A mulher de cabelos castanhos ajoelha, do outro lado de Kelvin, abanando seu rosto, sem saber oque fazer. Ramiro soluça, com medo.

- "E-eu vou buscar água pra ele!". O outro homem grita, recebendo apenas um aceno de cabeça da possível namorada como resposta.

- "Eu vou ligar pra emergência, moço... Merda! Aqui não tem sinal!". Ela praticamente arremessa o próprio celular na grama. "Vai ficar tudo bem. Seu... namorado? Ele vai ficar bem". Ela diz, voltando a atenção à Kelvin e Ramiro.

- "Marido. É meu marido". Ramiro responde, sem excitação.

A moça só então percebe as alianças em suas mãos esquerdas. O homem desconhecido volta com a água, e antes que pudesse fazer algo com ela, Kelvin abre os olhos.

Ramiro para de chacoalhar o marido pela primeira vez desde que o encontrou na grama. O cantor se senta, meio desnorteado. Há duas pessoas a sua volta que ele nunca viu na vida, e seu marido está chorando nervosamente.

- "Rams. Oque...". Ele tenta continuar a frase, mas é o suficiente para que Ramiro o envolva em um abraço.

- "Ocê não faz mais isso. Eu pensei que ia perder ocê, meu Kevinho. Meu amô". Ramiro sussurra entre soluços.

- "Eu sei, eu sei". Ele não sabe. "Me perder nunca, meu amor. Meu marido. Tá tudo bem". Kelvin está confuso. Mas, no momento, toda sua atenção está no homem em seus braços. O amor de sua vida.

- "Marido". O ex peão o solta só o suficiente para conseguir beijar os lábios do cantor num selinho demorado, e depois apoiar sua testa na dele. É só nesse momento que ele se lembra de que há uma plateia em volta deles. Aparentemente, com todo o falatório, as outras pessoas que acampavam ali decidiram assistir a cena de longe.

- "Viramo atração de circo, é Kevinho?". Ramiro pergunta incomodado, falando alto o bastante pra que as pessoas também ouvissem.

- "Ramiro!". Ele dá um tapinha leve no braço do outro homem. "Oi, gente. Tudo bem? Não morri não, podem dormir agora. Isso, brigado!".

- "Já que você acordou, a gente vai indo". O homem disse, querendo acompanhar as outras pessoas que iam embora. "Ah, eu sou o Eduardo".

- "Helena, oi". Ela acena.

- "Oi Eduardo, oi Helena". Kelvin e Ramiro falam juntos. "Obrigado pela ajuda, viu?". Agradece Kelvin.

- "É, gradecido". O ex peão sorri ao casal, que retribui o sorriso, o voltam para a barraca.

Todos se retiram, exceto Kelvin e Ramiro que continuam sentados na grama. Kelvin tem um sorriso no rosto, por causa do bico que se formou no rosto do outro homem, que ao notar, diz:

- "Ê, Kevinho. Chorei um monte e ocê aí rindo". Ele tira as últimas lágrimas das próprias bochechas, emburrado.

- "Ficou preocupado, é?". O cantor ri mais um pouco e continua:

- "Não é a primeira vez que eu desmaio, meu amor. Por que esse nervoso todo, hm?". Kelvin pergunta, fazendo carinho nas costas de Ramiro.

- "Porque agora nois é marido. Tem que ficar junto pra sempre".

- "Fofinho! Que lindeza, meu bem..." Kelvin o abraça.

- "Bobo". Ramiro retribui o abraço.
   
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- "Chiado?". O cantor pergunta, confuso. O ex peão não pôde deixar de questionar o amado sobre o som horrendo que ouvira mais cedo. Apesar de pensar que poderia ser facilmente um rádio sem sinal ou alguma outra coisa normal, algo o dizia que aquele som não era comum. Pensar na possibilidade de ouvir aquele barulho outras vezes o arrepiava inteiro.

Não sabia porque tinha acontecido. Nem se era algo externo, algo fora de sua cabeça. Podia ser apenas uma impressão. Podia ser que Kelvin não tivesse ouvido o chiado. Mas todas as hipóteses pareciam pouco prováveis. Ramiro não deixaria que aquilo atrapalhasse também a noite dos dois, então afastou seus pensamentos.

- "É, Kevinho. Ocê não ouviu não?". Ramiro indaga, recebendo um aceno negativo como resposta. "Devia de ser nada não, Pequetito. Mostra pra eu esse negócio ai". Ele diz, se referindo ao livro nas mãos do marido, que decide não questionar mais por agora.

- "Tá bom. Qual é o título do livro?". O casal já havia voltado a barraca, e após terem comido o jantar improvisado, escovaram os dentes na pia do banheiro único que ficava próximo a área das barracas, e se ajeitaram para dormir, deitando entre as almofadas e se aconchegando um nos braços no outro.

- "Quem... tem- medo, é? Quem tem medo... do quê." Ele afirma.

- "Isso! Quem tem medo do quê?". Kelvin corrige.

Medo... Foi, por muito tempo, algo que Ramiro não se permitia sentir. Ou então, quando permitia, se sentia extremamente envergonhado em admitir. Não foi até conhecer Kelvin que ele assumiu e entendeu seus medos. Pouco a pouco. No seu tempo.

A verdade é que: ele tem muitos medos. De escuro. De assombrações e qualquer figura de terror. De morrer. De brigas. De que o machuquem, e machuquem Kelvin... E muitos outros. No final do dia, é libertador saber que ele tem direito e pode sentir esses medos. De chorar. E de ter a certeza de que ele tem um porto seguro.

Mas, quando o quesito é medo, nada se compara ao que sentira quando levou uma surra. Hoje, ele sentiu, novamente, uma amostra desse medo: Ficar sem Kelvin.

Ainda que o mundo pegasse fogo. Que todos os fantasmas e assombrações do planeta viessem atrás dele. Nada se compara ao medo de ficar longe de seu amor.

- "Eu te amo". Ramiro diz.

- "Eu também amo ocê". Kelvin responde, o imitando.

A vida de casados tem dessas, afinal. O importante é que, apesar dos medos existirem e dos sustos acontecerem, eles sempre podem voltar para casa depois. E, neste caso, lar não é um lugar. E sim um alguém.
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Obrigada por ter chegado até aqui, espero que tenha gostado!
Essa coisa do chiado vai ser mais aprofundado nos próximos capítulos... Alguma sugestão do que pode ser?
Beijo! 💚.

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⏰ Última atualização: Feb 27 ⏰

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