Beleza e Dúvidas.

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Oi gente. Sinto muito pela demora! Vou tentar ser mais frequente. Espero que gostem, e boa leitura. Beijo. 💚

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- "Ê, Naitendei, ocês curia, em?". Ramiro terminava de parafusar uma cadeira, sentado no chão, com ferramentas espalhadas a sua volta. Ele observava enquanto os amigos - todos aglomerados na lateral da mesa de sinuca - praticamente babavam ao verem um homem alto, levemente forte, com uma barba rala, cabelos penteados com gel e grandes olhos verdes passava pela calçada.

Percebendo a atenção, o homem acena e pisca um dos olhos em direção ao bar. Ramiro observa a cena curiosamente.

- "Gente, oque que é isso?!". Fala Luana, se abanando dramaticamente com a mão.

- "Minha Nossa Senhora, aquilo não é um homem, aquilo é um anjo". Iná gesticula as mãos e diz quase ao mesmo tempo.

- "Que cara és essa, hombre?". Graciara pergunta, uma mão sobre a cintura enquanto apoiava na mesa de sinuca. Ela olha pra Ramiro, que os encara com uma expressão que se localiza entre a confusão e o julgamento. Os outros funcionários também olham pra ele.

- "Cês são tudo safada, isso sim". Ele se levanta, tirando a cadeira deitada do chão e a posicionando em pé.

- "Ah, Ramiro! Vai dizer que não achou ele gato?". Polerina questiona, dando um gole em alguma bebida rosada, e depois deixando o copo novamente em cima do balcão.

- "Parô, vai. Ele nem era tudo isso". Nando ajeita o cabelo, com o rosto quase emburrado. Com isso, as meninas partem pra cima do cantor fazendo piadinhas e dando risadas, fazendo com que o mesmo sorrisse também.

Ramiro guarda as ferramentas, uma por uma na caixa, colocando-as pensativamente em seus respectivos lugares.

Por toda sua vida, ele foi dito sobre a beleza feminina. Foi apresentado diversas vezes a moças que eram consideradas bonitas para a maioria. Apesar de realmente concordar com isso as vezes, Ramiro nunca foi capaz de sentir desejo ou atração por nenhuma delas.

Apreciar um homem fisicamente foi algo que o ex-peão nunca tinha sequer considerado. Quando fazia elogios à algum homem, escolhida perfeitamente as palavras, com medo de insuar algo que supostamente não devia. Quando viu Kelvin, um misto de sensações surgiu em sua cabeça. Dúvida, desejo, encanto, admiração...

Os braços fortes, os ombros largos, o pomo de Adão, o cabelo curto, a coragem. Os brincos, as roupas brilhosas, a maquiagem, a liberdade de ser quem ele era. Ramiro queria entender. Queria tocar, sentir, perguntar. Tentou se enganar, achando que o fogo que sentia quando via o baixinho se resumia nas "características" femininas que o mesmo aderia.

Essa ideia, porém, morreu cedo demais. Os acessórios e as roupas eram só isso. Apenas acessórios e roupas. Kelvin era um homem - um lindo, lindo homem, se pudesse pontuar. A questão é que, para Ramiro, Kelvin era exceção.

Ele sabia que gostava de homens. Ele se casou com um, afinal. E isso não era mais uma coisa que ele enxergava como ruim. Mas não entrava em sua cabeça que estava tudo bem em se sentir atraído por homens em geral. Dúvidas e dúvidas surgiam em sua mente. Ao pensar nisso, se sentia sujo, quase. Meses atrás, quando questionado sobre sua sexualidade por Graça, no dia em que ele deixou a cadeia, Ramiro apenas respondeu: "Eu gosto do meu Kevinho só". O que é a mais pura verdade. Gostar, amar, sentir tesão, são coisas que ele sente por Kelvin, e só por Kelvin.

Mas será que ele era capaz de olhar pra outro homem e admirar sua beleza como todos faziam tão naturalmente?

Ramiro joga a última chave de fenda dentro da caixa de ferramentas, e vê de relance pelo chão do bar uma sombra familiar entrando.

- "Oi gente, voltei!". Kelvin adentra o salão, com algumas sacolas a mais do que deveria.

- "Cê demorô, Pequetito. Tudo bem?". Ramiro pergunta, se levantando do chão e indo de encontro ao marido, pegando algumas sacolas das mãos dele.

- "Tudo, o mercado que tava cheio". Ele dá uma risadinha. "Comprei o iogurte que cê gosta, meu amor". Kelvin da um selinho nos lábios do outro homem.
 
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Já a noite, depois dos expedientes do bar terem acabado, Ramiro espera por Kelvin na cama, enquanto o menor faz sua rotina noturna de cuidados.

- "Ô Kevinho?". O ex peão observa enquanto o marido espalha creme nos próprios braços, sentado em frente à penteadeira.

- "Hum?". Kelvin emite, sem olhar para Ramiro.

- "Ocê acha outros homi bonito?"

- "Ah, acho, Rams. Por que?". Ele guarda os produtos rapidamente, se levanta do banquinho e se deita ao lado do amado, que o envolve com um braço. Quando Ramiro não responde, ele continua:

- "Eu acho bonito assim... O corpo, ou o rosto. Acho charmoso. Essas coisas, sabe? Mas você é o mais lindo pra mim". Kelvin acaricia o peito do outro homem.

- "É que eu num consigo, assim, achar bonito não. Será que é normal?".

- "Será que você não consegue achar bonito, ou você não se permite?".

Ramiro olha o amado nos olhos. Ele pensa em todas as vezes, desde que era menino, quando observava um ou outro rapaz com olhos... Olhos que não deveriam ser usados para olhar outros meninos.

Lembrou das vezes que foi dito que era nojento, um pecado, ou uma pouca vergonha admirar alguém do mesmo gênero. Recordou de quando sentia raiva de si mesmo, de quando lutava contra suas próprias vontades, de quando se obrigou a fazer coisas que não queria só pra provar pra si mesmo que ele não era "um deles". De quando xingou seu próprio corpo, ainda jovem, por ter uma ereção quando viu a capa de uma revista masculina na banca de jornais.

Ele foi dito que era errado amar outro homem. E aí entendeu que não tem como o amor, se for amor de verdade, ser errado. Do mesmo jeito de que não tem como ser errado ser feliz.

- "É, acho que eu nunca me permiti memo não, amô".

- "Não é errado achar outros homens bonitos, Ramiro. Não é errado ser quem você é".

- "Ocê, meu marido, é o homi mais lindo que eu já vi na vida". Disso Ramiro tem certeza.

Kelvin sorri, e devolve o elogio. Eles se beijam por muito tempo.

Em meio a tantas dúvidas, o amor deles é a certeza mais exata que existe. O resto, eles descobrem depois.

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Obrigada por chegar até aqui. Espero que tenha gostado. Por favor, votem e esperem pelos próximos capítulos! Beijo. 💚.

Para minha amiga e meu amorzinho Geo: Obrigada por pegar no meu pé as vezes. Vc além de linda, é incrível e necessária. Vc não vale nada, mas eu gosto de vc.

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