Love is the cure - Bang Chan

016 - Fault

ACORDO NA MANHÃ SEGUINTE DE TODO O acontecido, sentindo como se um pedaço de mim faltasse.

Todos foram embora, tristes, quietos e em seus próprios mundos. Ninguém sorri. Uma tristeza enorme assola todo o clima. Toda a felicidade foi exilada, e está bem longe de todos nós.

Felix insistiu que ficaria passaria a noite comigo, minha mãe também, mas não permiti. Falei para Felix ir para casa e descansar. Muitas coisas aconteceram. E com relação à minha mãe… falei para ela voltar para a casa dela com minha irmã.

Tudo isso ainda é muito estranho para mim. É estranho chamá-la de mãe. Chamar aquela doce garotinha de coração partido de irmã. Minha mente ainda tenta processar e digerir toda a informação que foi jogada contra mim de uma só vez.

O principal motivo por eu não deixar ninguém passar a noite aqui comigo é porque eu queria espaço. Tempo e privacidade para pensar. Para chorar. Para colocar para fora toda a dor.

Chorei a noite inteira. A culpa me assola. Estou desolada. Mal consegui dormir. Meus olhos estão inchados de tanto que chorei. Minha mente não para. A imagem de Nayeon morrendo em meus braços continua se repetindo. E repetindo. E repetindo.

Por mais que eu tente pensar em outra coisa, não consigo, pois ela continua morrendo para mim. Por mim.

Nada disso deveria ter acontecido. Ela devia estar viva. Devia.

“Você é muito legal, sabia?”

Essa frase - a última frase que ela falou - não sai da minha cabeça.

Incessantemente, continuo ouvindo sua voz falando suas últimas palavras. Continuo vendo seu doce e ao mesmo tempo, doloroso sorriso. Continuo sentindo o cheiro do seu gostoso perfume caro que comprou no dia em que fomos juntas ao shopping.

Ela sabia que ia morrer. Ela sabia que ele ia matá-la. Mas por que ela escolheu me salvar? Por quê?? Ela podia ter se salvado. Podia sair correndo dali. 

Nós não éramos tão próximas. Nos conhecíamos há pouco tempo e ainda estávamos desenvolvendo nossa amizade. Mas ainda sim ela me salvou. Me abraçou e deu seu último suspiro em meus braços. Mesmo tendo nos conhecido a pouco tempo, ela me salvou.

Mas eu não mereço ser salva. Não mereço ser amada. Todos ao meu redor morrem. Eu causo a morte de todos que tentam me amar.

Causo dor a todos que se aproximam de mim.

Não sai de minha mente o choro de Seo-yoon, a garotinha que descobri a menos de doze horas ser minha irmã. Minha mãe sorriu e me abraçou. Mas ainda sim, ainda com um sorriso estampado em seus lábios, ainda sim pude ver a dor, a tristeza, o luto, e o vestígio de muitas lágrimas que caíram de seus olhos.

Ela achou uma filha e perdeu outra.

Não sei que horas são. Não tenho absolutamente nada aqui comigo. Estou apenas com a roupa hospitalar.

Percebo estar recebendo medicação juntamente de soro, então, lentamente, sento-me na cama, sentindo dores em meu corpo todo. Levanto lentamente, colocando meus pés descalços no chão de madeira quente. 

Meu braço direito - o que levei um tiro - dói um pouco, e evito mexer muito. Pego o suporte do soro, e o usando como apoio, caminho em passos lentos até a janela.

Abro as cortinas persianas e me dou de cara com um dia nublado. Está frio. O céu cinza, o vento balança as folhas, e as poucas pessoas que andam pelo jardim do hospital, estão agasalhadas.

Paulo me agrediu muito ontem. Cai diversas vezes no chão, caindo abruptamente sobre minhas pernas, que hoje estão doloridas. Minhas costas e minha cabeça doem, devido aos fortes impactos que sofri.