Capítulo 1: Eduardo e Maria

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3:48, nos telhados dos barracos do Capão, a patrulha foi bem, o dia não foi muito cheio, mas uma coisa me chamou atenção… esse é o fim da minha rota de patrulha, mas não o início, começo a patrulhar no Tatuapé, passando pelo Centro e andando pelo meio da Cracôlandia, vi um rapazinho magérrimo, uma sandália velha no pé e roupas esfarrapadas, eu ia perguntar onde estavam os pais dele, mas quando me aproximei, uma mulher esquelética pegou na mão dele e eles saíram andando, eu não sou exatamente uma figura amigável, mas o que realmente me fez parar foi a semelhança que eu vi nele, me perguntei o que teria acontecido comigo se as coisas fossem um pouco diferentes, como provavelmente serão pra ele, pra um rapaz desse, o maior objetivo de vida poderia ser jogador, MC, bombeiro, policial, pastor ou empresário… mas o que mais lhe dá prazer na vida é a maldita pedra, o traficante é seu messias, e o dono da boca o seu profeta, ele se esquece do seu futuro quando a sensação de poder bate, não duvido que ele já tenha vendido tudo o que tinha e já tenha pedido esmola… novamente, me lembro de mim, e sigo minha patrulha…

23 Anos Atrás

Eduardo tinha acabado de começar a trabalhar na oficina do seu tio, tinha deixado a  antiga vida pra trás, começou a frequentar uma Assembleia de esquina, pensava em comprar uma casa própria.

“Mas que droga de carro” pensou Eduardo enquanto consertava um Marea, o modelo era bom, mas a forma como o motor de 5 pistões se comportava era diferente do que os fabricantes haviam previsto, o carro tinha alguns problemas, mas a dona tinha pagado pelo serviço, e Eduardo não era um mecânico desonesto, Eduardo resolveu os problemas do Marea, Dona Maria disse que ele salvou ela, que era o primeiro mecânico que tinha consertado o carro dela, não por menos, ou eram incompetentes ou não se davam o trabalho.

Maria das Dores era uma jovem do interior do Pernambuco, era branca dos cabelos loiros, descendente dos invasores holandeses, provavelmente.

Seus pais se mudaram pra Bahia, a fim de tocar uma pequena terra que seu avô tinha deixado por herança, a perspectiva de Maria estava em se mudar pra São Paulo, Terra da Garoa e das oportunidades, quando tinha 17 anos ela pediu a mudança pros seus pais, e lá foi ela, deixando seus pais e sua irmã mais nova, a fim de cumprir seu sonho e se tornar médica, seu pai lhe emprestou o Marea antigo deles e Maria começou a estudar pro vestibular, passou em enfermagem, e pensando em não desperdiçar tempo, começou a cursar, ela conheceu Eduardo quando foi na mecânica do tio dele, é difícil acreditar em amor à primeira vista, Eduardo acreditava que Maria havia sido enviada por Deus em sua vida, e Maria dizia que ele era a resposta das orações da mãe dela, talvez ambos estivessem certos.

Um ano depois, eles se casavam na Assembleia da esquina.

Cidade da Garoa: A Tragédia de Carlos Eduardo 'Cadu' de SouzaOnde histórias criam vida. Descubra agora