Capítulo 5: Carlos Eduardo

9 0 0
                                    

Dias Atuais

16:29, Meu Apartamento, eu tomei um banho depois de horas nas ruas da Cracolândia, o Pastor e o Padre me agradeceram muito pela ajuda, concordaram que eu fui uma benção no trabalho, no geral, um trabalho voluntário desses é como destruir uma parede de 1 metro de espessura, feita de titânio puro, com os próprios punhos, o impacto é pequeno, é cansativo, pode até parecer que não valerá a pena, mas as pequenas conquistas são visíveis, e mostram que é possível.

Depois de tudo o que vivi, depois de tudo o que aprendi, acredito que faria mesmo se não fizesse diferença…

Eu estudo um pouco de ornitologia tropical depois do banho, ainda estou nas férias da faculdade, mas a ornitologia é uma paixão minha, depois de aprender um pouco mais sobre as andorinhas rabos-de-tesoura, eu deito no sofá e durmo um pouco ao som de uma série aleatória no streaming…

Sonho com minha mãe, saudável, sem limitações, pensando normalmente, ela está junto com meu pai, seus tiros não posso ver, eu corro na direção deles, mas antes que eu possa alcançá-los, acordo com um alarme… eu levantou do sofá, bebo um copo d'água, faço um exercício de respiração e começo a meditar, alguns minutos depois eu desço e vou pra academia.

O sonho era tão real…

9 Anos Atrás, alguns meses depois da mudança

Cadu estava estudando um pouco de biologia, ele sempre invejara a liberdade dos pássaros, olhava para o céu azul quando se sentia cansado ou sozinho, os pássaros que voavam sobre sua cabeça o ajudavam a esquecer os muitos problemas de sua vida, Cadu amava ouvir os cantos das lindas criaturas.

Quando aprendia sobre as aves de rapina, ele recebe um telefonema de um velho amigo, o Pastor Jorge ligava pra saber como estava o garoto, Cadu respondeu que ia bem, mas que sentia muita falta de sua mãe, e justamente quando Cadu perguntou se o plano do pastor de colocar Maria das Dores num Centro de Recuperação da Igreja, o pastor diz-lhe a inevitável verdade…

Maria das Dores, não podendo sobreviver sem o trabalho de Cadu, faleceu de inanição.

As lágrimas tomaram dos olhos de Cadu, seu coração acelerou, ele deixou o telefone cair, pouco importava, ele mesmo caiu de joelhos…

Passou a tarde inteira em posição fetal, fazendo nada mais do que debulhar lágrimas pela perda de sua mãe, a única pessoa que restara do seu paraíso no que ele podia chamar de infância, antes de seu pai morrer…

Cadu não era mais uma criança, embora ainda tivesse a idade de uma, ele não aceitou mais ser chamado de Cadu, seu apelido de infância, que lembravam dele tanto os momentos bons que jamais voltariam quanto o verdadeiro inferno que ele viveu nos seus anos de rua.

Carlos Eduardo não podia se dar ao luxo de ser o mesmo.

Cidade da Garoa: A Tragédia de Carlos Eduardo 'Cadu' de SouzaOnde histórias criam vida. Descubra agora