Capítulo 3: Cracolândia

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Dias Atuais

12:23, Praça da Sé, eu tenho feito meu trabalho voluntário nas ONGs que ajudam moradores de rua no centro de São Paulo, logo mais eu vou pra um mutirão que o Pr. Jorge e o Pd. José vão fazer pra ajudar os moradores da Cracolândia, já me inscrevi pra campanha do agasalho deste ano, e já fiz meu trabalho reservando roupas velhas de uns amigos da faculdade, ornitologia é a minha paixão, mas o que me move são os deveres… deveres…

Deveres são coercitivos e geralmente servem pro funcionamento da sociedade, mas e se os deveres são auto-impostos? Seriam eles virtudes ou deveres que outros ignoram? Só sei que os deveres de meu passado, os que ninguém senão eu mesmo, coloquei sobre minha cabeça, esses deveres ainda pesam em minhas entranhas, pois não pude cumpri-los…

Mãe…

11 Anos Atrás

Cadu sumiu da escola fazem anos, Cadu não vai mais pro centro e nem fala com ninguém de fora, a menos que seja a trabalho, Cadu começou a viver numa tenda da Cracolândia junto com sua mãe, ele viu o pior dela, ela se tornava violenta ou tentava persuadi-lo quando queria a pedra, Cadu tentava esconder as pedras que ela comprava, mas ela sempre acabava achando quando ele estava fora, trabalhando…

Cadu trabalhava, afinal mais ninguém podia, sua mãe estava tão viciada, que havia se prostituído algumas vezes pra conseguir o dinheiro da droga, Cadu ficou tão enojado que não quis nunca mais que sua mãe precisasse trabalhar, Cadu aprendeu malabarismo, parkour e a bater carteiras, metade do dinheiro ia pro seu patrão, que só dava a permissão pra ele trabalhar sem problemas nos semáforos e nas ruas, numa região um pouco mais próxima do centro, Cadu precisava andar quilômetros pra voltar pra tenda que ele dividia com sua mãe, Cadu comprava um pouco de pão e um galão d'água, e escondia o resto do dinheiro, escondia todos os dias em um lugar diferente, pra mãe não achar, mas nunca funcionou, O vício era mais forte e ela sempre achava o dinheiro e ia atrás da droga.

Cadu impediu que sua mãe e ele mesmo morressem de fome durante esses anos, eles podiam ter uma aparência esquelética, mas viveriam mais um dia, e um dia de cada vez.

Ao menos era o que Cadu pensava…

Cidade da Garoa: A Tragédia de Carlos Eduardo 'Cadu' de SouzaOnde histórias criam vida. Descubra agora