como construir um lar

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Os dias passavam lenta e dolorosamente para Hinata. Era como ser torturada com pequenas e finas agulhas sendo repetidamente inseridas e retiradas de sua pele: incomodava e machucava, mas não o suficiente para que a fizesse gritar. Era a medida certa de dor para mantê-la infeliz, mas em silêncio.

Aos cinco meses de gravidez, ela se sentia cansada como nunca antes e bastava que ela se encostasse em um banco ou sofá para dormir instantaneamente. Mas adormecer não lhe trazia paz. Hinata sofria com pesadelos violentos envolvendo Naruto ou a criança dentro de si. Ou ambos. Ela fechava os olhos apenas para cair em uma realidade mais torturante do que aquela que encarava quando acordada. Em algumas noites, sonhava com a morte de Naruto de modo tão visceral e real que ela acordava com os próprios gritos.

Outras vezes, era Sasuke quem a acordava.

"Hinata."

Mãos de um branco inumano puxavam Naruto para o fundo de uma cratera.

"Naruto!" Ela gritou em desespero.

"Hinata! Pare com isso!"

Alguém estava chamando por ela, mas ela não podia ir agora. Ela tinha que salvar Naruto.

Os gritos do homem que ela amava preenchiam seus ouvidos. Ele berrava de dor e o som torturante, junto a uma trilha de seu sangue, levaram-na para a visão de seu corpo machucado e estirado no chão, uma criatura sobre ele, sugando sua vida.

Ela tentou lutar, tentou impedir, mas estava congelada de medo e só conseguia gritar.

"Naruto!"

"Hinata!"

Ela abriu os olhos e Sasuke preencheu seu campo de visão, olhos escuros a encaravam atentamente com sua típica determinação de aço que não vacilava nem mesmo diante do horror. E ele parecia horrorizado.

Hinata notou suas próprias mãos ao redor do rosto dele e o sangue sob suas unhas. Por causa do pesadelo, ela rasgou a pele dele sem nem perceber. A culpa caiu sobre ela instantaneamente.

"Sinto muito."

"Isso não é nada." Ele a ajudou a se levantar e a guiou até o espelho na parede oposta do quarto. Ao lado dela, ele esperou. A luz da lua iluminava quase todo o quarto diante das cortinas abertas que ela esqueceu de fechar e levou apenas um segundo para perceber o que ele queria que ela visse.

O rosto dela tinha vergões vermelhos dos dois lados. Gotículas de sangue pintavam sua pele, brotando dos arranhões que ela fez em si mesma enquanto dormia. Lentamente, Sasuke se aproximou dela e colocou a mão sobre a blusa que ela usava para dormir. Sem esperar, ele a ergueu e Hinata viu os machucados idênticos aos de seu rosto, mas em sua barriga. Sobre seu ventre. Sobre seu bebê.

Ela correu para o banheiro e vomitou. Sasuke segurou o cabelo dela e isso a fez chorar, a culpa misturando-se ao nojo por si mesma, à raiva por tê-lo machucado, ao arrependimento por ter tentado, inconscientemente, machucar aquela criança inocente que tentava crescer e sobreviver em seu útero.

Hinata se sentia tonta, perdida em si mesma, incapaz de se controlar. Os sentimentos conflitantes, a tontura, o enjoo, tudo se misturava e a fazia se sentir à deriva em uma tempestade. Ela sabia que tinha que ser forte, ela tem aprendido a ser forte desde o momento em que conseguiu andar sozinha sobre as próprias pernas. O pai dela a ensinou pessoalmente e, no processo, ele arrancou sua autoconfiança, quebrou seus ossos e coração e lhe negou qualquer ato de carinho. Ela foi desmontada e remontada pelos Hyuuga, moldada com sangue, suor e lágrimas para se tornar a herdeira perfeita e quando ficou claro que ela não alcançaria as expectativas deles, ela foi humilhada, excluída e maltratada, sendo obrigada a suportar obedientemente o ódio e a decepção de mil olhos Hyuuga sobre ela.

Ponte Sobre Águas Turbulentas [sasuhina]Onde histórias criam vida. Descubra agora