Antelóquio

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Acordei em uma árvore. Talvez eu tenha dormido por um tempo não cronometrado e em sono imerso me perdi na linha temporal. Talvez eu tenha morrido em outro mundo e então ressurgi em uma dimensão da qual eu nada sabia e tampouco de nada me lembrava. Meu primeiro sentido foi em uma árvore; meu primeiro tato nos galhos secos sem vida; o cheiro da madeira porosa, a visão cinza de um ser inerte com o estalar da pobre madeira retorcida sem folhas, sem frutos, sem sabor. Nada tinha sobre minhas origens, de quem eu era, de onde viera. Eu poderia ter vindo do nada porque de nada eu sabia. Minha primeira visão foi na penumbra nas alturas do arbusto ancião com uma gigante bola iluminada enfeitando o céu. Mais tarde, saberia que aquele ponto magnífico e estrondoso que tanto me fascinou se tratava da lua cheia, rodeada pelas estrelas a enaltecer a invejável, rara e soberana beleza estendida no manto negro aveludado do firmamento.

Eu não conhecia o frio, eu não sabia sobre o calor, mas o vento me acariciava e foi a brisa em gracejos pueris a primeira tenra impressão que experienciei sobre meu corpo. Da visão do horizonte, verticalmente me joguei, minhas asas se abriram e antes que meu corpo alcançasse o chão, levantei voo. Então foi a primeira grande descoberta sobre mim: um estranho alado.
(229 palavras)

O Vampiro e o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora