Segundo Capítulo

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França, segunda metade do século XVII, mais propriamente dia 11 de agosto de 1713, uma sexta-feira; imagino por tal coincidência - ou não- meu dia preferido da semana. Foi a partir deste marco que comecei a datar meu tempo. O calor típico do impiedoso verão condensava sobre o ar do lugar que eu acabava de conhecer. Eu nunca havia visto nada como aquilo que inundava de beleza meus olhos.

Uma construção de tal imponência e exuberância que em nada perdia diante de todas as maravilhas naturais que meus olhos haviam admirado. Contemplando minuciosamente tudo o que como antes eu nunca vira, me posicionei diante da gigantesca construção verificando minuciosamente cada detalhe. Atônito diante tamanha excentricidade, mal notei a presença solitária de uma criatura que até então eu nunca havia visto. Abri minhas asas para em questão de segundos estar no topo da árvore mais alta do jardim. Lá de cima, fixei meu olhar sobre a criatura que permanecia lá embaixo imóvel, apenas com seus olhos fixos em mim, sem nada expressar além do olhar furtivo, analisador, instigante, calculando cada simetria do meu corpo desnudo. Preparei para que ele abrisse suas asas para vir de encontro a mim, como anteriormente algumas espécies faziam, porém a criatura não levantou suas asas, até porque ele não as tinha. Mas nossos olhos se fitavam como se estivéssemos mutuamente hipnotizados, até nosso torpor ser desfeito pelas primeiras palavras que ouvi:

"Donc tu n'es pas qu'une légende".

E a criatura estendeu seus braços a mim, como que clamando entre gestos suplicantes que eu lhe acompanhasse. O destino, ou seja lá o que for, selava o primeiro contato entre dois seres completamente distintos entre si.

Naquela noite, no singular cenário de beleza inominável concebido ao Palácio de Versalhes, eu conhecia o Rei de França, Luís XIV.
(297 palavras)

O Vampiro e o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora